Piódão Trail Running superar-me e terminar

Piódão Trail

A Associação Desportiva O Mundo da Corrida organizou a 6.ª Edição do Piódão Trail Running, que decorreu no dia 7 de abril de 2018 na Serra do Açor.

Piódão Trail Running

A prova do Piódão Trail Running contemplou as distâncias de Trail Ultra 50 km, Trail Longo 25 km e Trail Curto 12 km e contou com 3 pontos ITRA que são válidos para as provas: Mont Blanc, Lavaredo e X-Alpine.

Os percursos do Piódão Trail Running atravessaram as zonas de Arganil, Pampilhosa da Serra e Oliveira do Hospital.

 

Não me recordo de alguma vez ter ido a Piodão. A ideia que me passaram era a de um local de uma beleza ímpar.

Fomos no dia anterior, dia 6. Com destino à Aldeia das Dez, onde dormimos no Plano 5 e percebo agora o porquê de ter quase nota máxima no Booking, será certamente dos locais mais criativos onde já estive, com um design industrial mas que funciona muito bem.

A paisagem até esta aldeia já me deslumbrava…locais onde parecia estarmos por cima das nuvens que ameaçavam chuva e, uns metros à frente, um sol radiante que deu origem ao um arco-íris belíssimo.

O cenário de mata queimada

Decidimos ir a Piodão levantar os dorsais para evitar a confusão do dia seguinte. Pena já estar a escurecer e pena o cenário de mata queimada bem presente o caminho todo mas a paisagem, é, sem dúvida, espetacular. Pequenas aldeias iam aparecendo no fundo, entre vales.

Lembro-me de passarmos pela seta que assinalava o Memorial de Miguel Torga e dizer ao Pedro que gostaria de ir lá quando fosse dia e ele reparar que tinha fitas, ou seja, íamos passar lá durante a corrida.

Chegada a Piodão e apesar de já ser noite, fiquei encantada. Que local incrível. Incrível mesmo. Ainda andamos um pouquinho por lá antes do descanso dos guerreiros, eu para os meus 25 km e o Pedro para os seus 50 km.

Só que a ansiedade pouco deixou dormir. Eu com um pé ligado devido a uma entorse feia há 15 dias no Marão que infelizmente me levou a desistir da prova e o Pedro também com uma lesão perto do pé. Mas duros e focados.

As provas do Piódão Trail Running

Pela manhã, chegamos a Piodão, estacionamos (que caos para estacionar, os carros estacionados ocupavam metade de uma via ficando apenas a outra para circulação descendente e ascendente. Terrível). Descemos em direção á aldeia mágica.

Às 9 horas em ponto, dadas pelo sino da Igreja Matriz, o Pedro lá foi. Eu estava literalmente a tremer por todo o lado de ansiedade. Não sabia como se ia portar o meu pé, não sabia se o Pedro iria conseguir aguentar-se embora saiba que ele é duro e dificilmente cederia.

Num ato de impulso entrei na Igreja, dei por mim a rezar… Às 10 horas em ponto, mais uma vez dadas pelo sino da Igreja Matriz lá partimos nós, os dos 25 km’s.

Não sei se já tínhamos feito 1 km, com pouca ou nenhuma subida e ia já eu de língua de fora, consequência de 2 semanas inteiras sem treinar, a recuperar da entorse. Mas tentava recuperar e normalizar a parte do cardio. Muito a medo, o pé mal tocava no chão e já estava eu a levantá-lo.

Mas todos nós, que gostamos de trilhos, que gostamos de correr, após o início mais reticente, este vício acaba por tomar conta. E lá fui, sem pensar em tempos, em prestação, em nada. Tudo corria lindamente.

Meu Deus o quanto isto desmoralizava

Mal começamos a subir, surge o 1º abastecimento, nem parei. Mas a subida continuou. Perto de 6 km’s a subir em ziguezague. Cá em baixo já se via os 1ºs atletas lá em cima para onde ainda teria que ir. Meu Deus o quanto isto desmoralizava. Mas lá fui, a subida, apesar de notar que me faltava treino, deixava-me mais confortável no que ao pé diz respeito.

A vista que se ia ganhando, atletas a parar e a tirar fotografias, que espetacular. Apanhei vários atletas simpáticos pelo caminho, a Alexandra Soares que me acompanhou algum tempo mas depois, na descida que se seguiu, ligou o turbo.

As descidas foram o meu calcanhar de Aquiles, quase caminhava e mesmo assim houve uma ou outra vez que voltei a torcer o pé de uma forma mais branda, claro está. Desfrutei, foi talvez o trail onde mais desfrutei do percurso, da paisagem, das quedas de água, das eólicas, de um pequeno parque numa pequena aldeia onde passámos, com umas mesinhas e bancos de piquenique, um pequeno ribeiro tao clarinho que se viam as pedras e uma ponte, local espetacular.

Nos 50 km’s apanharam desde granizo a relâmpagos e trovoada

Apanhamos alguma chuva, talvez em duas fases do trail, nada de extraordinário, o mesmo não pode dizer o pessoal dos 50 km’s que apanhou desde granizo a relâmpagos e trovoada. (Lembro-me no final, já no balneário, uma atleta dizer-me que pensou que ia ficar com nódoas negras na cara tal era a intensidade do granizo que caiu).

Voltamos a subir, agora 3 km’s a subir. Mas estes mais duros, mais inclinados (como me tinha já avisado a Alexandra) e pareciam que não acabavam nunca. Lembro-me de um fotógrafo que me pediu um sorriso e, logo em seguida, tirou uma fotografia, ainda me fez olhar para o lado oposto onde estava e ver os atletas dos 50 km’s a subir e a subir, sr. simpático.

Piódão Trail

O abastecimento estava composto daquilo que considero ser o fundamental. A dada altura da subida começaram as caibras na perna esquerda, provavelmente consequência da carga que lhe estava a colocar numa tentativa de proteger o pé direito, o pé da entorse.

Chego lá cima e novo abastecimento, paro a massajar a perna e um sr. da organização vem perguntar-me se estou bem, muito simpático também. A partir dali era descer, descer com caibra, descer com medo de voltar a torcer o pé e ser obrigada a desistir já quase a terminar a prova. Mas não, tinha que afastar estes pensamentos.

Era estradão como quase toda a prova e o facto de não ser técnico dava-me alguma confiança. Fui seguindo, devagar, a massajar a perna que teimava nas caibras. Encontrei um senhor mais velho, Humberto Pinho, parado a quem perguntei se precisava de algo e com o não dele, segui.

Nuno Silva – Trail Team Bifase durante a prova

Vamos companheira, está quase, já levamos 23,200

A dada altura da descida, olhamos para baixo e vemos a Aldeia de Piodão. Força, mantém-te assim, estamos quase. O sr. Humberto apanha-me entretanto e disse: “Vamos companheira, está quase, já levamos 23,200”. Passou-me e eu segui-o sempre, pisando as suas pegadas, ouvindo as palavras de encorajamento que eram muito mais para ele que já não é propriamente jovem (M60) do que para mim.

E assim fui até entrar no alcatrão e dar o máximo porque a meta estava ali, a 300 metros de mim. E o cortar a meta, aquela descarga de adrenalina, aquela descarga emotiva, aquele sentimento de dever cumprido, aquela pontinha de orgulho que nos assola, inevitavelmente.

O prémio finisher era uma casinha de Piodão, muito bonita. O abastecimento final era bastante composto também. E ali fiquei, a esperar pelo homem dos 50 km’s.

 

Chegado ele. Voltei à Igreja Matriz enquanto o Pedro ia ao abastecimento final, se tive a ousadia de pedir, tinha de ter a humildade de agradecer. Ainda fui presenteada com as palavras maternais da sra. que “guardava” a Igreja e que me disse: vá tomar banho menina que está frio.

De coração cheio, foi altura de seguir o conselho e ir a banhos, no Inatel. Apenas dois chuveiros, ainda bem que só fui depois do Pedro chegar porque imagino que para quem foi na altura que o pessoal dos 25 km’s estava a acabar, devem ter sido filas de espera gigantescas. A higiene no espaço de banho já não era a ideal mas, pelo menos, tive espaço. Tendo em conta que a aldeia de Piodão apenas é rodeada por montes, é difícil fazer mais, por isso, fico-me por aqui.

A partida da prova de 12 km do Piódão Trail Running foi dada às 10 horas e 30 minutos.

Classificações do Piódão Trail Running:

50km – 307 atletas a acabar

Nuno Silva – Trail Team Bifase

Masculino

1º Nuno Silva – Trail Team Bifase – 4:40:30
2º Luis Fernandes – Clube de Praças da Armada – 4:43:04
3º Bruno Ferreira – Águias de Alvelos – 4:49:51

Feminino

1ª Paula Barbosa – Oralklass – Amigos do Trail – 6:06:33
2ª Amélia Costa – OCS ProAventuras – 6:22:37
3ª Cristiana Ferreira – Running Espinho – 6:33:49

Paula Barbosa – Oralklass Amigos do Atletismo

25 km – 358 atletas a terminar

Masculino

1º Luís Semedo – ACPortalegre/UTSM – 1:57:26
2º Nelson Costa – Assoc. Recreativa Casaense/Escola Atletismo Coimbra/Intermarché Condeixa – 2:05:54
3º Diogo Pinheiro – Coimbra Trail Running – 2:06:03

Luís Semedo – ACP – Atletismo Clube de Portalegre

OPraticante.pt marcou presença nesta distância através de Carlos Figueira – 358 geral – 67 M40 – 5h32m31s.

Feminino

1ª Susana Echeverría – Coimbra Trail Running – 2:26:35
2ª Vera Bernardo – ARCD Venda da Luisa – 2:44:40
3ª Maria Fonseca Runner´s do Demo – 2:46:29

12 km – 154 atletas a terminar

Masculino

1º Abílio Ribeiro – Lusitanos – 0:55:52
2º Duarte Semedo – ACPortalegre/UTSM – 0:56:24
3º Adriano Oliveira – Lusitanos – 0:59:59

Feminino

1ª Carla Pereira – 1:09:57
2ª Paula Mendes – Escaravelhos – CMMouronho Trail Running – 1:23:17
3ª Ana Ferreira – 100 Noção – 1:25:45

Visualize mais fotos de Fotos do Zé e de KabazuK Photography do Piódão Trail Running.

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Texto: Sílvia GomesCorreio de Albergaria Trail Running / OPraticante
Fotos: Fotos do Zé

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