Ultra Trail Serra do Alvão – O Recreio com Trilhos…

IV Ultra Trail Serra Alvão

No conforto do sono embalado pelo aconchego e carinho de minha mãe. Sou uma criança que dorme na ternura do amor. Já, o sol de pequeno-almoço tomado, perdido ainda por sonhos, ao som dos beijos e carinhos desperto.

Na mesa, me espera a minha papa ‘Cerelac’, feita por essas mãos que me acariciam e me levam pela estrada, de batina vestida, chego ao Jardim Infantil.

O IV Ultra Trail Serra do Alvão, nome que baptizamos a este infantário.

Vila Real

O Epicentro de Porto a Bragança, e de Viseu a Chaves, nobre Vila Real. Cidade que ilumina se desperta, e adormece após a ceia sob as escarpas do rio Corgo, entre lençóis, abraçada ao rio Sordo.

É domingo, dia 23 de julho de 2017. Em pleno verão, o sol abate sobre o planalto transmontano.

Estamos no jardim infantil, no infantário Positive Sensations, improvisado neste dia na Praça da Nossa Senhora da Conceição.

Daqui iremos partir para o parque, o nosso recreio, baptizado de Parque Natural do Alvão.

O Recreio do Alvão

Crianças que somos, perfilamos em conjunto, não de chapéus iguais e de bata, mas sim com os dorsais. Fedelhos de rostos maduros, sorrisos largados, olhos grandes e reluzentes. De sapatilhas calçadas, haja espírito jovem, somos bambinos à procura do recreio.

Nossas mães não se importam que cheguemos de roupa e rostos sujos, somos putos de calçado gasto, esfomeados mas de lábios alegres, lugares de sorrisos. Distante das tecnologias, jogamos aos jogos tradicionais.

A Positive Sensations, os nossos professores e auxiliares neste dia, já deram autorização ao tiro de partida. Antes, jogamos o jogo à cabra-cega. É quem na grelha da partida vê quem está.

São 9h05m, corremos por esse recreio como se o mundo não tivesse mais tempo. Como se o mundo acabasse naquele instante. Como não existisse outro mundo.

Deixamos Vila Real, entramos no trilho com 1,07 km apenas. Descemos até um ribeiro e iniciamos a subida para o Alvão. É assim até à aldeia da Relva, o nosso primeiro refrescar.

Não fosse, moço de face vermelha da brincadeira, chapéu descaído. Percorridos 5,42 km e já 339 metros positivos, vencidos. Por trilho técnico, descemos para a aldeia de Ramadas para logo de seguida darmos inicio à subida até à próxima aldeia.

Aqui chegar, e um pouco mais acima desta aldeia, Muas, atingimos os 8,55 km, a 827 metros de altitude, 567 metros superados. Lugar de rochedo enorme, sala de estar dos jovens estudantes, penedo dos xutos, portas e janelas abertas das viaturas, colunas aos gritos, e à espreita, a miragem sobre Vila Real.

Canto dos amores, recantos dos dissabores e dos desenganos. Puberdade, corredor da ingenuidade…

Aldeia de Arnal

Garotos, atrevidos somos, e passamos com olhar de marotos. Mantemos na nossa brincadeira de inocência antes de lá chegar. Descemos o nosso recreio, antes de arrumar à última aldeia.

É por trilho maravilhoso, granítico que invade a terra, joguemos o jogo do caracol. É saltar pedra e granito, pulando e saltando, até chegar ao vale da ribeira do Arnal…

 

Por entre muros, essas pedras velhas e de rugas, montadas pedras sobre pedras, é um puzzle. Um passatempo tradicional à mesa.

Por ali, fora, no seio das muralhas torcidas, esse caminho que interrompe os campos verdes e cultivados antes da chegada à aldeia.

Essa calçada granítica e desnivelada, nos levam à brincadeira de rua, o jogo do saltar à macaca. É o saltar de pedra em pedra, ao pé-coxinho, ou com o pé que dá mais jeito, chegamos à aldeia de Arnal. Perdida no tempo, ganha no original.

Contemporânea dos seus passados. Herança semeada e cultivada, nessa gente humilde, nesse povo de simplicidade que nos transmite energia à nossa passagem.

Ultrapassados 705 metros positivos, percorridos 11,17 km, abandonamos a última aldeia antes de transpormos o planalto do Alvão.

É momento de escalar, e que trilho que percorremos e brincamos, magnifico. Impiedoso por entre lindas paredes graníticas.

À nossa esquerda e de sentido contrário ao nosso, corre as águas da ribeira do Arnal. Desce brincando por este pequeno, majestoso vale.

Apreciamos suas jovens águas brincando, saltitando, crescendo de pedra em pedra. E cantam? E que bem! Encantam…

O Planalto do Alvão

De cabeça baixa, de repente acordamos. Pisamos um tapete verde, estamos no planalto do Alvão. Como crianças que somos, no desenho da escola começamos por pintar a relva do nosso jardim.

Temos 13,17 km, 998 metros vencidos. De cobertor rastejante verde, somos putos a saltar, trilhar, jogamos à corrida dos sacos. Entretidos, passa o tempo, e atravessamos um bosque. Fora do recreio, recordamos que na relva nasce uma árvore, o sol não pode falhar no nosso desenho.

Adiante, à nossa esquerda avistamos o monte Farinha, a Senhora da Graça, mais para nascente nos espreita a aldeia de Dornelas.

E adiante, piscamos o olho à aldeia dos telhados de colmo, Lamas d’Olo. Daqui vemos tudo!

Bate-nos uma brisa fresca, e chegamos junto à Albufeira da Barragem da Cimeira.

Aqui, avistamos o Predador do Alvão. Esse louco solitário destes trilhos, de largo sorriso, vê contagiado estas crianças a brincar em seu parque.

A Floresta do James Bond

É hora de regressar ao infantário, começamos a abandonar o planalto. Por uma das portas da saída, rompemos por entre um trilho na floresta.

Na sala de aula, assistimos a uma missão do 007, Bond! James Bond. O agente da equipa Dr. Merino / 4moove, Luís Carvalho. Teve a tarefa de limpar esse trilho, com a preciosa ajuda dos seus agentes juniores. Lugar encantador, recanto mágico e de paixões, serpenteamos à sombra deste arbóreo exótico.

Miúdos que somos, continuamos pelo recreio. Temos 20,13 km, 1.169 metros ganhos.

À nossa direita, distante o olhar, temos a sua majestade das redondezas, o Marão.

Imperiosa, autoritária, da sua arquibancada nos assiste a desfilar por este recreio do Alvão, somos um grão de areia neste mundo.

Na encosta do vale, à nossa direita, somos obrigados a parar. Olhar curioso de criança, vemos o pastor com o seu rebanho ordenado.

Estes sim, escalam um trilho por onde ninguém passou, quais ‘Trailistas’!? O apreciar das cabras e cabritos, a saltitar entre pedras e pequenos arbustos, são crianças a jogar ao saltar da corda.

Corro Para os Braços de Minha Mãe

Descemos, temos pressa em chegar. Até à meta nos espera 804 metros negativos. Não salta o olhar do terreno, continuamos a descer, apenas distraímos um pouco para vermos o planalto transmontano.

Rapidamente invadimos uma área de arvoredo robusto e alto porte, joguemos o jogo da vara. Sombra não falta, e o sol se esconde. Chegamos aos 23,92 km, entramos nesse trilho técnico, estreito e sombrio, misturado de Carvalhos e Vidoeiros. Acompanha-nos uma levada malandra, onde a água ora nos espreita, ora se esconde. Jogamos ao esconde-esconde.

Criança que somos, o recreio por hoje terminou, de rosto suado, coração preenchido. Regressamos do nosso recreio a Vila Real.

Convívio, descontracção, e boa disposição

Correr na montanha também é tradicional e primitivo. O recreio na meta acabou, mas a vida é uma corrida. Corro para a ternura e braços de minha mãe! Criança que sou…

E os Lugares mais altos no Alvão foram…

Trail Serra do Alvão – 30 kms

O primeiro lugar foi imposto pelo Paulo Costa que representa a equipa A.D. Amarante Trail Running com o tempo de 2h39m10s. Arrecadou o segundo lugar, e primeiro veterano M40, António Ferreira da equipa Runner’s do Demo que realizou a prova em 2h39m52s. Fechou o pódio o atleta da equipa Dr. Merino / 4moove, Diogo Fernandes, no tempo de 2h42m08s.

Na geral feminina, a atleta Paula Barbosa, Oralklass-Amigos do Trail completou a prova em 3h36m03s, tendo-se destacado logo no início no comando feminino. O segundo e terceiro lugares foram para as atletas do Budeguita Runners, Ana Luísa Dias completou a prova em 4h12m36s. A sua colega, Maria do Carmo Loureiro terminou em 4h41m46s, concluindo assim o pódio.

No pódio por equipas o lugar mais alto foi para o Chaves Running Team, seguido da equipa CTM Vila Pouco de Aguiar, e o lugar mais baixo do pódio para a Budeguita Runners.

Mini Trail Serra do Alvão – 18 kms

Prova que desenrolou logo a seguir à partida do Trail do Alvão. O ponto mais alto do pódio dos 18 kms escreveu o atleta Filipe Nunes, da NAVR, concluindo a prova com o tempo de 1h37m34s. Da equipa Clube Atletismo Nossa Senhora Conceição Vila ficou o segundo atleta, Norberto Celestino Vasques com o registo de 1h38m54s. Conclui o pódio o atleta Bruno Pinto da equipa Dr. Merino / 4moove no tempo de 1h39m56s.

Na geral feminina a grande atleta Casimira Moura, da equipa Dr. Merino / 4moove, se destacou no lugar mais alto do pódio com o registo de 1h51m32s. O lugar intermédio do pódio foi conquistado pela atleta Alexandra Fernandes, do Porto Sentido Runners com o tempo de 2h07m57s. Fechou o pódio a atleta do Clube Atletismo Nossa Senhora Conceição Vila, Rafaela Bento, no registo de 2h12m50s.

Por equipas, o pódio mais alto foi ocupado pela equipa Dr. Merino / 4moove, seguido da equipa Geadas Running Team, e a fechar o pódio a equipa Clube de Atletismo Trail Runners da Ponte.

Caminhada

Caminhada

Existiu uma caminhada, não competitiva com cerca de 12 km, tendo sido iniciada logo a seguir à partida da prova dos 18 km. Percorrendo em grande parte o percurso da prova mini trail do Alvão.

Oralklass – Amigos do Trail

A equipa Oralklass-Amigos do Trail, marcaram presença nos trilhos da IV edição do Ultra Trail Serra do Alvão com dois atletas, Paula Barbosa e Nuno Sousa.

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Texto: Nuno Sousa
Fontes: Positive Sensations
Fotos: Hugo Medeiros / Nuno Lopes / Miguel Machado / Hugo Santos

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