Hélder Mestre, de uma corrida de bairro ao mundial de Londres

Ricardo Mestre e Helder Mestre aquando da superação do recorde da Meia Maratona em Lisboa

Hélder Mestre e o irmão Ricardo Mestre

A sua primeira competição foi numa corrida de bairro com apenas 7 anos de idade, mas um acidente de viação aos 18 anos coloca em pausa uma vida dinâmica e cheia de optimismo… Hélder, não baixou os braços e recuperou toda a vontade de viver…

Estivemos um pouco à conversa com Hélder Mestre e com o seu irmão e treinador Ricardo Mestre

Hélder, como iniciou a sua vida desportiva?

A primeira competição em que participei foi numa corrida de bairro e tinha apenas 7 anos de idade. Ganhei uma medalha, fiquei em 3º lugar. Desde esse dia nunca mais deixei de estar ligado ao atletismo.

Quando começou a levar o atletismo mais a sério?

Aos 12 anos integrei um grupo de treino, constituído por veteranos, amantes das provas de estrada e de longas distâncias. Aproveitava, sempre que podia, o facto de o clube que representava, o URB (União Recreativa Brandoense), ter equipa de boxe para fazer os exigentes exercícios de flexibilidade e força, que complementavam a corrida.

Em que distâncias gostava mais de competir?

Longa distância. Com 13 ou 14 anos já fazia meias-maratonas, além das provas de bairro e dos torneios das freguesias. Aos 15 anos fiz uma maratona, no Autódromo do Estoril, e fiz o tempo de 2h45min. Passados muitos anos, vim a saber que esta marca ainda era Record Europeu na classe etária dos 15 e 16 anos.

A mudança…

Nesta altura abriram-se-lhe novas portas…

Sim, chamei a atenção dos olheiros da modalidade e fui convidado para integrar a equipa de atletismo do SLB (Sport Lisboa e Benfica). O método de treino alterou dramaticamente e os meus objetivos passaram a centrar-se em distâncias mais curtas, como os 800m e 1500m. Comecei a treinar e competir em pista tartan, piso completamente novo para mim.

Pelo Benfica, em que classes competiu?

Hélder Mestre quando representou o Sport Lisboa Benfica

Só tive tempo para completar as classes de Juvenil e Júnior porque no verão em que ia ser promovido a Sénior tive um fatídico acidente de viação que me virou a vida do avesso. De uma vida dinâmica, cheia de objetivos e certezas, passei para uma cama de hospital…

“Uma centelha de luz começou a brilhar.”

Como foi a adaptação a esta nova vida?

Foi um percurso traumático… Durante os primeiros 7 meses estive no Hospital Cívil onde me fizeram o pouco que podiam nestes casos. Depois, uma centelha de luz começou a brilhar. Fui transferido para o CRM de Alcoitão e aproveitei o melhor que pude, a fase de reabilitação e de reaprendizagem dos “pequenos” desafios da vida, como abotoar um botão ou cortar uma laranja.

Dali saí contra vontade, devido à tendência de estabilização dos meus progressos e fui colocado num Lar Militar, onde permaneci 2 anos.

Foi o começo de uma nova etapa…

Durante esse tempo senti necessidade de estabilizar a todos os níveis: voltei a estudar, fiz um curso de informática, fiz 3 estágios profissionalizantes e arranjei trabalho. Tirei a carta de condução e comprei carro. Para concluir a fase de estabilização, comprei casa.

Nesta altura, tinha renascido e considerava-me “reabilitado” …

Quando reiniciou a sua vida desportiva?

Nesta altura, tinha renascido e considerava-me “reabilitado” …

Procurei a natação e inseri-me num grupo de aprendizagem. Reaprendi a nadar. Sentia necessidade de voltar a competir, fui classificado, tal como no atletismo, e inserido num grupo. Deixei de praticar com regularidade quando a piscina do Campo Grande fechou para obras.

Passei pelo atletismo, pelo remo na ANL (Associação Naval de Lisboa) mas essa experiência terminou quando a ANL deixou de ter apoios para manter a classe adaptada, pelo Boccia na APCL (Associação Paralisia Cerebral de Lisboa), pela canoagem no Clube Naval do Montijo.

E a paixão pela bicicleta? Como surgiu?

Foi através desta última experiência, a canoagem, pois o percurso que tinha de efetuar para chegar ao Montijo, era sempre efetuado na minha handbike: saía de casa em Entrecampos, descia para a Baixa, apanhava o catamaran para o Montijo e cumpria a restante distância até ao Cais dos Vapores, local dos treinos. Após o treino, cansado, abordava o regresso com um sorriso nos lábios.

Como surgiu o ingresso na modalidade Handbike?

Meti-me neste projeto porque surgiram alguns apoios que me permitiram ser devidamente classificado e algumas condições para treinar e competir com regularidade.

Campeonato Nacional realizado este ano em Vagos,

Infelizmente sou “obrigado” a fazer provas em distâncias que não se adequam às minhas caraterísticas. Adoro longas distâncias. Ora em pista cumpro provas de 100m e 400m! É uma escolha do IPC que impõe essas condições à classe que integro.

Em Março deste ano, na Meia Maratona de Lisboa, bati o Record do Mundo com o tempo de 1h08’21, visualize o artigo aqui. Na Maratona também já consegui este ano a melhor marca com 2h31, em Sevilha.

Recorde da Meia Maratona, superado em Lisboa

Seguem-se os Mundiais, agora em Julho, onde vou voltar a competir em 100m e 400m…

O treinador, o amigo e o irmão…

O Ricardo, como se deu a sua iniciação no atletismo?

Iniciei-me no atletismo ainda muito jovem e por influência do Hélder e ao seu sucesso, cheguei mesmo a correr pelo Belenenses.

E como aconteceu a passagem para treinador?

Em 2001 surgiu um convite para ser guia de um atleta cego, Nuno Alves. Ainda nesse ano, participámos no campeonato da Europa na Polónia. Fomos aos jogos paralímpicos de Athenas e outras participações em europeus e mundiais, o último dos quais em 2014 , Swansea, onde, como guia do atleta Carlos Ferreira ganhámos uma medalha de bronze nos 1500 mts T11/cegos totais.

Dai a ser treinador do Hélder foi um “pulinho”…

Sim, devido ás constantes lesões, cessei as funções como atleta guia em 2014 e o caminho estava aberto para voltar a treinar com o Hélder. Tirei o curso de treinador e após uma requalificação do Hélder, com o apoio da FPA, fomos a Itália onde o meu irmão conseguiu os mínimos e entrar no programa de competição.

Ricardo Mestre e Helder Mestre aquando da superação do recorde da Meia Maratona em Lisboa

Quais as competições em que participaram que destaca?

Várias, todas por razões diferentes. Já participámos no Campeonato da Europa em Itália, mundias do Quatar, nos jogos do Rio, e há cerca de 3 semanas estivemos num meetting na Suiça e melhorámos os recordes pessoais dos 100m e dos 400 m, classe T51, que são também recordas nacionais. Neste mês de Julho, entre 14 e 23, estaremos no Mundial de Londres, no Campeonato do Mundo de Atletismo IPC 2017, como o meu irmão já referiu.

Helder Mestre Atletismo
Helder Mestre

Uma evolução contínua sempre com resultados de prestigío…

Campeonato do Mundo a chegar, selecção de partida

O evento começa daqui a uma semana, mas a delegação de Portugal parte já este sábado, dia 8 de julho, para Londres.

Conheça os elementos que constituem a comitiva portuguesa que disputará o Campeonato do Mundo de Atletismo – IPC – a realizar-se em Londres de 14 a 23 de julho.

A comitiva composta por trinta e nove representantes, Atletas – dez masculinos e oito femininos, irão participar num total de 29 provas, cinco guias masculinos e duas femininas, nove treinadores, três médicos, e dois representantes da FPA.

A expectativa nestes atletas é grande, perante os resultados já anteriormente obtidos pelos mesmos, em competições internacionais.

Assim descriminamos por disciplina, o nome dos atletas e clube que representam:

100 mts – João Correia – Maratona Clube Portugal / Carolina Duarte – Sporting Clube Portugal / Helder Mestre – Individual / Maria G. Fernandes – Clube Desportivo e Cultural Vila Nova Gaia / Mário Trindade – Associação Mover Viseu

200 mts – Luís Gonçalves – Sporting Clube Portugal / Maria G. Fernandes – Clube Desportivo e Cultural Vila Nova Gaia

400 mts – Carina Paim – Casa do Povo de Mangualde, Carolina Duarte – Sporting Clube Portugal / Helder Mestre – Individual / Luís Gonçalves – Sporting Clube Portugal / Maria G. Fernandes – Clube Desportivo e Cultural Vila Nova Gaia / Mário Trindade – Associação Mover Viseu

800 mts – Cristiano Pereira – Casa do Povo de Mangualde

1.500 mts – Cristiano Pereira – Casa do Povo de Mangualde / Maria Odete Fiúza – Maratona Clube Portugal / Nuno Alves – Ingleses Futebol Clube

5.000 mts – Cristiano Pereira – Casa do Povo de Mangualde / Nuno Alves – Ingleses Futebol Clube

Salto em Comprimento – Ana Filipe – Associação Cristã da Mocidade – Açores / Carlos Lima – Associação Cristã da Mocidade – Açores, Cláudia Santos – Sport Clube Lenine Cunha / Érica Gomes – Sporting Clube Portugal / Maria G. Fernandes – Clube Desportivo e Cultural Vila Nova Gaia

Salto em comprimento – Lénine Cunha – Sport Clube Lenine Cunha,

Triplo Salto – Lénine Cunha – Sport Clube Lenine Cunha

Peso – Eduardo Sanca – Sporting Clube Portugal / Inês Fernandes – ADRCL / Miguel Monteiro – Casa do Povo de Mangualde

Texto: Silvia Maria António
Fotos: Cedidas pelo Helder e Ricardo Mestre

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