João Correia, em grande velocidade rumo a Londres 2017

João Correia, em grande velocidade rumo a Londres 2017 e Tóquio 2020
De regresso a Portugal após ter batido o seu record na Suiça, João Correia volta a baixar a sua marca pessoal no teste da Pista de Lousada.
A entrada no Programa de Preparação Tóquio 2020 está garantida.
O início da História
Como começou esta aventura como atleta de atletismo adaptado?
Iniciei-me no desporto em 1991 aquando da realização de uma meia-maratona onde estiveram presentes atletas em cadeiras de rodas. No fim da prova falei com alguns deles e trocámos ideias sobre o desporto em cadeiras de rodas. Fascinado com o que me tinham dito, meses depois já treinava basquetebol na equipa da APD Braga!
Em março de 2002, conheci o lendário atleta suíço Heinz Frei que mudou por completo a minha carreira desportiva, tendo-me inspirado e apoiado até hoje.
Ainda em 2002 realizei mínimos para o Campeonato Europeu de 2003 (Assen, Holanda), onde vim a conquistar a primeira medalha de sempre para o atletismo em cadeiras de rodas português.

Como obteve a sua primeira cadeira de desporto?
Comecei a praticar atletismo adaptado quase por acaso. Aproveitei uma cadeira que um atleta já não usava e experimentei a modalidade. A paixão dura até aos dias de hoje.

O apoio familiar? Foi importante?
Sem o apoio da minha família nunca teria chegado até aqui.
A família foi e continua a ser o pilar da minha vida! Desde muito cedo, sempre na companhia dos meus pais, conheci o caminho para Braga, para treinar 2 vezes por semana.

O equipamento que existia era o possível, tendo em conta os parcos meios que dispunha. Mas foi com este equipamento ultrapassado, que o bichinho pelo desporto foi crescendo, ao ponto de conseguir atingir o alto rendimento, graças ao apoio do consagrado Heinz Frei, que me ofereceu uma das suas cadeiras de competição.
As primeiras vitórias
Qual foi a 1ª prova nacional em que foi medalhado?
A minha primeira prova foi na Meia Maratona de Santo Tirso (cidade de onde sou natural) em 1991.
E Internacional?
Foi no Campeonato da Europa de Atletismo, que se realizou em Assen, Holanda, em 2003. Tinha 19 anos, era um desconhecido aos olhos de todos, mas trouxe a primeira medalha (de prata) para o atletismo português, numa prova em cadeira de rodas.

Emocionado, assim que saí da pista de competição, abracei Heinz Frei e dediquei-lhe a medalha, pois sem a sua ajuda tal feito nunca teria acontecido.
Qual a prova que lhe deu mais gosto vencer? Porquê?
Foi quando ganhei a segunda medalha de prata europeia, nos 200 metros (Espoo, Finlandia – 2005).
Estava um tempo horrível de chuva e vento. Lembro-me de ter passado aos 100 metros em primeiro contra rivais que nunca havia ganho.

O sucesso da aludida prova em muito se deveu às muitas horas de treino à chuva. Ao sol ou à chuva, não haviam desculpas para se faltar a um treino.
A reviravolta na sua vida
Diz que em 2002 conheceu alguém que mudou completamente a sua vida. Fale-nos um pouco sobre esse acontecimento?
Em março de 2002, conheci o lendário atleta suíço Heinz Frei que mudou por completo a minha carreira desportiva, tendo-me inspirado e apoiado até hoje.
É uma grande pessoa, um atleta de exceção e o meu ídolo de sempre e para sempre; um grande exemplo a seguir a todos os níveis.

Sou suspeito a falar, dada a minha proximidade e os laços de amizade que nos unem, mas basta a qualquer pessoa passar uns minutos com ele, para perceber o que digo. O seu apoio foi decisivo. O mundo seria bem mais fraterno se seguíssemos a sua forma de estar na vida!
Últimas metas alcançadas
Como correram as provas em Arbon, Suiça?
Durante os 7 dias que permaneci em terras helvéticas, aproveitei para realizar mais um estágio de preparação para o Mundial de Atletismo.
As condições que encontrei foram excecionais e permitiram-me fazer 3 sessões de trabalho por dia (estrada, ginásio e pista).
As duas provas que realizei em Arbon, faziam parte de uma avaliação à reação do corpo à iniciação da última etapa de preparação para o Mundial. Regressar a Portugal com um novo Recorde Pessoal, foi positivo e sinal de que estamos no bom caminho.
Qual o seu tempo e como foi a evolução ao longo deste ano?
Este ano iniciei a época de ar livre com 28.58 aos 100 metros. Neste momento estou com 25.44. A evolução tem sido muito positiva!
No Sábado passado fez um novo teste na Pista de Lousada. Como correu esse teste?
Consegui retirar mais de meio segundo à marca realizada em Arbon. Esta marca permitiu-me a entrada no Programa de Preparação Tóquio 2020.
O Mundial de Londres
Teve alguns problemas físicos no início do ano. O Mundial de Londres esteve em causa?
Após um inicio de época muito atribulado com vários problemas articulares, fui obrigado a reformular todo o trabalho de forma a poder conseguir chegar a este momento na melhor condição física possível.
Se em janeiro me perguntassem se iria estar em Londres, eu diria imediatamente que não. O inicio do ano foi muito complicado e obrigou-me a ausentar do trabalho para poder recuperar da melhor forma.
Como foi superada essa fase?
Com a ajuda da equipa médica que me acompanha, foi possível retomar os trabalhos em finais de fevereiro.
O estágio em março junto da minha treinadora deu-nos bons indicadores e começamos a reformular todo o trabalho.
Traçamos imensas metas e só avançávamos para a próxima etapa quando o objetivo era claramente ultrapassado. Nunca saltar etapas, foi a chave para o sucesso.
Quais as expetativas para este Mundial?
Quanto a expetativas, perante tudo o que me aconteceu esta época, seria ótimo conseguir chegar à final e terminar a competição com um novo recorde pessoal.
Londres vai ser especial para a sua equipa. Explique-nos porquê?
Londres será muito especial, porque irei entrar em competição um dia após fazer 34 anos.
A minha treinadora e colegas de treino são naturais de Londres. E o estádio onde irei competir será o mesmo onde um dos meus colegas de treino (David Weir) venceu em 2012, aquando dos jogos paralímpicos, 4 medalhas de ouro.
O simples facto de poder competir no Estádio Olímpico na companhia de tantos amigos será para mim muito especial!

Convocatória para Londres
A Federação Portuguesa de Atletismo apresentou a convocatória para o Campeonato do Mundo de Atletismo – IPC – a realizar-se em Londres de 8 a 24 de Julho.
A comitiva composta por trinta e nove representantes, Atletas – dez masculinos e oito femininos, irão participar num total de 29 provas, cinco guias masculinos e duas femininas, nove treinadores, três médicos, e dois representantes da FPA.
A expectativa nestes atletas é grande, perante os resutlados já anteriormente obtidos pelos mesmos, em competições internacionais.
Assim descriminamos por disciplina, o nome dos atletas e clube que representam:
100 mts – João Correia – Maratona Clube Portugal / Carolina Duarte – Sporting Clube Portugal / Helder Mestre – Individual / Maria G. Fernandes – Clube Desportivo e Cultural Vila Nova Gaia / Mário Trindade – Associação Mover Viseu
200 mts – Luís Gonçalves – Sporting Clube Portugal / Maria G. Fernandes – Clube Desportivo e Cultural Vila Nova Gaia
400 mts – Carina Paim – Casa do Povo de Mangualde, Carolina Duarte – Sporting Clube Portugal / Helder Mestre – Individual / Luís Gonçalves – Sporting Clube Portugal / Maria G. Fernandes – Clube Desportivo e Cultural Vila Nova Gaia / Mário Trindade – Associação Mover Viseu
800 mts – Cristiano Pereira – Casa do Povo de Mangualde
1.500 mts – Cristiano Pereira – Casa do Povo de Mangualde / Maria Odete Fiúza – Maratona Clube Portugal / Nuno Alves – Ingleses Futebol Clube
5.000 mts – Cristiano Pereira – Casa do Povo de Mangualde / Nuno Alves – Ingleses Futebol Clube
Salto em Comprimento – Ana Filipe – Associação Cristã da Mocidade – Açores / Carlos Lima – Associação Cristã da Mocidade – Açores, Cláudia Santos – Sport Clube Lenine Cunha / Érica Gomes – Sporting Clube Portugal / Maria G. Fernandes – Clube Desportivo e Cultural Vila Nova Gaia
Salto em comprimento – Lénine Cunha – Sport Clube Lenine Cunha,
Triplo Salto – Lénine Cunha – Sport Clube Lenine Cunha
Peso – Eduardo Sanca – Sporting Clube Portugal / Inês Fernandes – ADRCL / Miguel Monteiro – Casa do Povo de Mangualde
Objetivos futuros
Qual é o seu objetivo a longo prazo?

Apoiar o desporto adaptado, colaborando com o Maratona Clube de Portugal nas provas que os CTT há anos patrocinam, são com toda a certeza projetos como este que pretendo não deixar, e que pretendo continuar a trabalhar com afinco, dedicação e paixão, tentando dar continuidade ao laço de solidariedade iniciada pelo suíço Heinz Frei.
Que as forças não me faltem, e a saúde não me escasseie, porque ideias, essas não me faltam, haja alguém que acredite, nunca desista, e me ajude a poder torná-las em realidade!
Lema de vida
Qual o seu lema?
“Nunca Desistas”.
Deixe uma palavra para os jovens que se encontram na mesma situação em que o João se encontrava antes de encontrar o seu rumo.
“Não desistir, chegar sempre mais longe, voar até onde a força de vontade me conseguir levar.” Só existem dois dias no ano em que nada pode ser feito. Um chama-se ontem e o outro chama-se amanhã, portanto hoje é o dia certo para amar, acreditar, fazer e principalmente viver.
Citado por Dalai Lama
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Texto: Silvia Maria António
Fotos: Cedidas por João Correia