Miguel Carneiro “O Ultraman”

O Praticante através do seu colaborador Fábio Pratas, entrevistou Miguel Carneiro – triatleta que explicou como começou e chegou ao Ultraman UK.

Quem é o Miguel Carneiro?
O Miguel Carneiro é um atleta como tantos outros e que desde cedo pratica vários tipos de desportos, pois sempre gostei muito de experimentar outras modalidades. O atletismo é a que mais tenho praticado.
Em 2008 decidi experimentar o Triatlo, adquiri o material necessário e inscrevi-me numas aulas livres de natação de maneira a ter a certeza que completaria com sucesso o meu primeiro triatlo.
Iniciei-me a 8 de Junho na distância Sprint do triatlo de Oeiras e no mesmo ano fiz a distância Olímpica no Triatlo de Aveiro. Em 2009 comecei a representar o Clube de Praças da Armada em diversas provas de Triatlo de norte a sul do pais, em 2012 fui a Sevilha fazer o meu primeiro triatlo com a distancia HALF-IRONMAN, que me deixou apaixonado pelas distancias mais longas, pois quanto maior era a distancia e o desafio, mais prazer me dava.
Foi então que no ano seguinte, decidi fazer o Campeonato Nacional de Triatlo longo e no fim da época experimentar um triatlo de distancia IRONMAN, o IBERMAN. Infelizmente devido a lesão não consegui tirar o melhor partido do evento mas mesmo assim percebi que adorava aquelas distancias e me veio à cabeça desafiar-me no ULTRAMAN UK.

Como surgiu a oportunidade de participares no Ultramam Uk?
O Ultraman é considerado umas das competições mais duras do mundo, e como tal é bastante selectiva. O UMUK é limitado a 35 atletas e a inscrição é feita unicamente através de convite, onde os atletas são selecionados pelo seu currículo desportivo. Depois de fazer o IRONMAN surgiu a ideia de tentar participar no UMUK com o objectivo de conhecer melhor os meus limites tanto físicos como psicológico. Foi então que fiz a candidatura e tempos mais tarde fui notificado que teria um slot para a edição de UMUK 2014, não hesitei e fiz a inscrição. Após isso planeei os aspectos mais importantes da competição e juntei uma equipa de apoio (João Carneiro e Filipe Vidal) e começamos a trabalhar no grande objectivo.

Conta-nos como foi essa experiência?
Foi uma experiencia bastante gratificante, pois fiz uma coisa completamente nova para mim e que muitas poucas pessoas no mundo o fizeram. A nível pessoal nunca tinha sequer feito uma prova desta envergadura, foi a primeira prova por etapas e dupliquei todas as distâncias que até então tinha feito, foi deste desafio que veio grande parte da minha motivação.
No geral correu tudo muito bem e acima das minhas espectativas, o objectivo principal era conseguir terminar todos os segmentos dentro do tempo limite e sagrar-me um ULTRAMAN.
A prova teve lugar nos país de Gales entre vales e montanhas, mas também num lago com água bem gelada. Foi aqui que se iniciou esta aventura.
Eram 7:00h da manha quando suou o tiro de partida para os 10km de natação, levava dois fatos vestidos para me ajudar a superar o frio. Foi uma natação calma e controlada tendo em conta todas as horas e quilómetros que ainda tinha pela minha frente. Sai da água na 3ª posição e com uma grande margem de manobra para concluir o ciclismo. Seguiram-se 145km com uma altimetria considerável e a pedalar do “lado esquerdo” da estrada, com o desgaste físico e psicológico era algo que fazia alguma confusão, especialmente nas rotundas. Terminei este dia em 7º da geral e em boas condições para o dia seguinte. Seguiram-se 275km de ciclismo através de paisagens de cortar a respiração, mas o clima característico do país de Gales também marcou a sua presença com frio, calor, chuva ou nevoeiro. Foi um dia onde fizemos um circuito de norte a sul onde terminei na 10ª posição geral.
No último dia já com algum cansaço proporcionado pelos dias anteriores, delineava a estratégia para a última etapa, a dupla maratona de 84,3km de corrida. Esta provavelmente foi a parte mais difícil de todo o ULTRAMAN, devido ao desgaste e acumular de quilómetros que tinha até então. Mas o objectivo estava traçado e nada nos fez recuar, e passado quase 10 horas finalmente cheguei à tão desejada meta.
Obtive o 11º lugar da geral, atribuo grande parte do sucesso à minha equipa, que durante mais de 500km esteve sempre presente para me apoiar e suprir todas as minhas necessidades.

Quais foram as principais dificuldades?
No início embora determinado, pensei que uma das grandes dificuldades, seria o pouco tempo que teria para me preparar para prova, a natação também me preocupava, pois sabia que a água era gelada e não me dou nada bem com o frio. Durante a competição ocorreram diversas dificuldades, começando com o ciclismo sempre na faixa da esquerda, com algumas montanhas a subir que apareciam como que de surpresa vindo do nada, as mudanças inesperadas das condições climatéricas, por vezes ao fim de muitas horas a pedalar surgia o receio de me perder naqueles vales e montanhas e não encontrar a minha equipa para me apoiar em alguma necessidade e vir a ser desclassificado.

Tiveste algum cuidado especial com alimentação?
Alguns dias antes do início do ULTRAMAN tentei fazer o conhecido “carbo loading”: Durante os dias da competição acordava todos os dias por volta das 5 e fazia uma refeição, normalmente à base de massas. Basicamente durante os segmentos ingeria bastante isotónica, fruta, frutos secos, barras e géis, sandes, entre muitas outras coisas, o mais diversificado possível e em curtos espaços de tempo. A alimentação e hidratação são tarefas cruciais para o sucesso da competição e ficou a cargo da equipa de apoio.

Como geriste a logística para uma prova desta envergadura?
A logística é sempre uma tarefa bastante complicada por não termos patrocínios, nem apoios e o ULTRAMAN é um desafio que requer muitos recursos como voos, transporte de material, alojamentos, alimentação, etc..
Toda a logística foi gerida pelo João Carneiro que fez o planeamento e executou cada tarefa da melhor forma e tudo acabou por correr como planeado. Durante os treinos de preparação tive os apoios da BIKE MANIA e da BKALMADA onde sempre depositei a minha confiança durante toda a época para manter as minhas bicicletas prontas a rolar.

Como programas-te os teus treinos com a tua vida profissional?
Esse é o dilema de todos os atletas amadores. Quando há tempo livre ou folga tentamos aproveitar para fazer os treinos, ou de madrugada antes do trabalho ou então ao fim de um dia de trabalho. O local onde trabalho (Marinha) acaba por me facilitar um pouco nesse aspecto, pois consigo treinar assim que saio do trabalho, poupando algum tempo nas deslocações e muito boas condições, incluindo piscina, onde fiz quase todos os treinos de preparação para o ULTRAMAN. Por vezes não é fácil gerir a vida profissional, o nosso dia-a-dia pessoal e os treinos, mas com força de vontade e as coisas bem orientadas surge sempre um tempinho.

Quais os teus planos para 2015 e o próximo grande objectivo?
O meu grande objectivo para 2015 era participar no mundial de ULTRAMAN, mas devido a falta de apoios e a grande logística desta competição acabei por fazer uma alteração de planos, não deixando este de ser um grande objectivo que pretendo futuramente atingir. Entretanto já surgiram alguns convites e desafios bastante interessantes para a próxima época assim como para 2016, mas que ainda estou a analisar e irei divulgar futuramente na minha página pessoal.