MIGUEL FRAZÃO A SENSAÇÃO PORTUGUESA NA ESPADA

Miguel Frazão, o espadista português de 19 anos de idade que fez sensação, marcou a história portuguesa ao alcançar o 7º lugar no Campeonato do Mundo esteve à conversa com a nossa equipa de reportagem, dando-se a conhecer.

Até 2008 representou o Parede Futebol Clube e a partir desse ano e até hoje passou a representar o Clube Atlântico de Esgrima. A equipa técnica sempre foi a mesma, apenas as instalações e o nome do clube foram alteradas.

Miguel Frazão

O Jovem Espadista que representa atualmente o Clube Atlântico de Esgrima, já tem um currículo invejável:

2014, 2015, 2016, 2017 – Campeão Nacional de Espada Equipas Iniciados
2016, 2017, 2018, 2019 – Campeão Nacional de Espada Equipas Cadetes
2017, 2018, 2019, 2021, 2022 – Campeão Nacional de Espada Equipas Juniores
Campeão Nacional de Espada Cadetes Individual 2017
1º – Memorial Santiago Bescansa Espada Cadetes Individual, Corunha 2017
Campeão Nacional de Espada Equipas Seniores 2021
1º- Torneio Virgem San Lorenzo Espada Sénior Individual, Valladolid 2021
1º- Primeira Etapa Ranking Espanhol Júnior, 2021
Campeão Nacional de Espada Juniores Individual 2022
Campeão Nacional de Espada Universitário Individual 2022

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Texto: Henrique Dias // OPraticante.pt
Fotos cedidas pelo Miguel Frazão

Miguel Frazão

“O amor pela esgrima foi crescendo com o passar dos anos.”

A história da esgrima aparece na sua vida com naturalidade em virtude dos seus progenitores estarem ambos ligados ao desporto, em especial o seu pai treinador de esgrima.

Confessando-nos “De certa forma a esgrima sempre esteve presente na minha vida, mas comecei a praticar por volta dos 3 anos de idade.

Não tenho memória da minha pessoa sem a esgrima por perto.

O meu pai enquanto treinador de esgrima e a minha mãe enquanto treinadora de ginástica rítmica criaram um clube juntos, na altura na zona da Parede.

Eu quando saía da escola, ia sempre com o meu irmão para o clube, portanto, a esgrima foi gradualmente entrando nas nossas vidas, primeiro numa vertente mais lúdica e agora a um nível bastante mais sério.

O amor pela esgrima foi crescendo com o passar dos anos.

Provavelmente, se o meu pai não estivesse ligado à modalidade eu hoje ainda não me teria cruzado com a esgrima.

Nunca me senti obrigado ou pressionado para praticar esta modalidade, ou seja, eu sempre fiz porque gostei, ainda que numa fase inicial não tivesse consciência dos benefícios que a modalidade tinha na formação da minha personalidade.

Quando passei a ter essa consciência, o meu amor pela esgrima cresceu ainda mais, daí eu dizer que esse amor foi crescendo ao longo dos anos.

Ajuda-me a confiar naquilo que faço, a sentir-me bem comigo próprio, a ser uma pessoa mais segura.

Para além disso, o facto de os meus melhores amigos treinarem comigo diariamente e de me cruzar com pessoas que me conhecem desde que nasci são também fatores que alimentam a minha paixão pela esgrima.

O amor pela modalidade não depende apenas daquilo que a esgrima é em si, mas também de todo o ambiente que me rodeia.

Miguel Frazão
Um dos momentos mais engraçados da vida de Miguel Frazão

“Mal sabia eu que ia terminar o dia com uma medalha de bronze ao pescoço”

Miguel Frazão destacou como um momento engraçado da sua vida “Quando ainda era iniciado de primeiro ano e tinha metade do tamanho de todos os meus adversários, consegui ir para um Campeonato Nacional de Juniores, no Porto, sem levar os ténis de esgrima.

Com uma preocupação adicional depois de ter “levado nas orelhas” pelo esquecimento, terminei a fase de poules com apenas uma vitória, sendo um dos últimos na passagem para o quadro de eliminação direta.

Com os meus ténis de andar na rua e ainda sem pretensões num campeonato nacional dois escalões acima do meu, mal sabia eu que ia terminar o dia com uma medalha de bronze ao pescoço.

E agora a grande questão que nos levou a entrevistá-lo, a conhecê-lo melhor, falamos da prova que fez com que fosse noticia por todo o país, contribuindo para uma maior visibilidade da modalidade, falamos do Campeonato Mundial.

Miguel Frazão
Miguel Frazão no Campeonato do Mundo

Campeonato Mundial foi o concretizar de um sonho de Miguel Frazão

Sobre o Mundial, referiu “Não senti grandes dificuldades em termos de treino de preparação para este mundial.

Sempre gostei muito do processo de treino em si, porque estou rodeado de pessoas com quem tenho uma ligação muito grande e isso é uma ótima ajuda, não só a nível esgrimístico, como a nível psicológico, porque acabo por sentir que tenho sempre o apoio dos meus parceiros de treino.

Por exemplo, na altura dos confinamentos, os treinos eram feitos no quintal de casa e se me perguntarem onde gosto mais de treinar, é claro que prefiro sempre no pavilhão.

Mas a qualidade de treino, felizmente, sempre foi a mesma, independentemente do local e das condições a que estávamos sujeitos.

Outro dos fatores que me permitiu chegar a este mundial bem preparado foi o facto de ter tido oportunidade de fazer uma série de provas nacionais e internacionais nos dois meses antes do campeonato do mundo, que me ajudaram a ganhar ritmo em competição e a identificar situações onde tinha e tenho de melhorar.

E todo este conjunto de provas apenas foi possível graças aos meus colegas de treino que me ajudaram a trabalhar para as competições, aos meus pais que sempre me deram todo o apoio financeiro e psicológico, e aos meus colegas e professores de faculdade que me ajudaram nos momentos em que faltei a aulas, alterar datas de avaliações, etc…

Miguel Frazão
Miguel Frazão em competição no Campeonato do Mundo

Lugar conquistado por Miguel Frazão no Mundial fez história na Esgrima Portuguesa

Expressando o sentimento que teve quando obteve o 7º lugar “Senti que estava finalmente a alcançar um sonho.

Há muitos anos que trabalho para poder estar entre os melhores e nas competições anteriores tinha jogado de igual com igual com os esgrimistas de topo, mas acabava por ficar sempre um bocadinho distante do patamar que eu desejava alcançar.

Quando me diziam um “fica para a próxima”, ou “quando for o momento certo a tua vez vai chegar”, ou um “devemos sempre acreditar nos nossos sonhos”.

Sentia sempre que não passavam de frases feitas para animar ou motivar porque, nem eu próprio sabia se alguma vez esse dia iria chegar.

Mas chegou, e é por isso que neste momento olho para este tipo de mensagens de uma forma diferente.

Miguel Frazão
Abraço entre Nuno e Miguel Frazão

Aquele abraço simbolizou um OBRIGADO

Aquele abraço simbolizou um OBRIGADO assim mesmo em caps lock.

Um obrigado por todo o percurso que fizemos juntos até hoje, por todos os obstáculos que ultrapassámos juntos naquele dia e, acima de tudo, um obrigado pelo facto de o meu pai ter sempre conseguido separar o papel de pai com o de treinador e me deixar fazer as minhas próprias escolhas sem qualquer tipo de influência da parte dele.

Aquele abraço foi o materializar de um agradecimento por tudo aquilo que o meu pai fez por mim não só a nível de atleta como pessoal.

E aquele abraço ainda foi mais intenso porque tive a sorte de ter uma claque formada por todos os elementos da comitiva portuguesa que me apoiaram durante toda a competição e gritaram por mim, até mesmo quando a voz ficava mais rouca.” mencionou sobre o abraço que ocorreu no fim da competição

E concluiu com “Os próximos objetivos passam por fazer a transição para o escalão de seniores, integrando a Seleção Nacional de Espada, dando início a um percurso internacional num escalão que abrange, ao melhor nível, atletas com 18 a 20 anos de diferença.

Miguel Frazão
Miguel Frazão com o pai Nuno Frazão e o irmão Filipe Frazão

Privilégio poder partilhar a minha vida de treinador com os meus filhos como atletas

Nuno Frazão pai e treinador de Miguel Frazão, descreveu o jovem espadista:

Mais do que tudo é um sentimento de privilégio pelo facto de poder partilhar a minha vida de treinador com os meus filhos como atletas.

Eu penso que a minha sorte é que não é necessário separar as situações porque elas não nasceram juntas.

Eu já era treinador de um grupo de atletas de competição antes do Miguel chegar a este grupo de trabalho, o que ajuda a que ele, como atleta, seja “apenas” mais um membro da equipa.

O facto de ter neste grupo um outro filho, que simultaneamente é colega e adversário do Miguel, dada a condição de terem apenas um ano de diferença, é outro fator que facilita este duplo papel.

Toda a maneira, e porque já experimentei os dois extremos, nos momentos de grande alegria, como os grandes resultados, ou de maior sofrimento, como uma lesão por exemplo, a intensidade com que vivemos a situação, mesmo não o exteriorizando, é sempre diferente.

Acrescentando “O Miguel é um atleta muito trabalhador e que “cedo”, ainda com a idade de Cadete (sub17), deu sinais muito positivos alcançando um conjunto de resultados internacionais de grande valia, mas a Esgrima é uma modalidade muito “cruel”.

Conheço poucas que conseguem, por vezes em fins-de-semana consecutivos, levar os atletas de desempenhos extraordinários para classificações discretas lá para o último terço da classificação, tal o equilíbrio existente entre os atletas e a característica de ser uma prova essencialmente a eliminar.

Onde, em breves instantes, uma má decisão ou um momento de destaque do nosso adversário põe fim à continuação em prova, não havendo lugar para recuperações “lá mais para a frente”.

Miguel Frazão com Nuno Frazão seu pai e treinador

O Miguel Frazão não tem limite no ponto até onde pode chegar

Nestes 3 anos como Júnior, muito marcados por longos períodos de ausência de competições devido à pandemia, o Miguel continuou a trabalhar diariamente com o empenho que o caracteriza e o seu repertório técnico e maturidade tática continuou a crescer.

Mesmo sem grandes oportunidades de se expressar em resultados em competição, pelo que este brilhante 7º lugar no Campeonato do Mundo foi o espelho de um patamar internacional que há muito considerava estar ao seu alcance.

O percurso do Miguel, a meu ver, não tem limite no ponto até onde pode chegar, desde que, em primeiro lugar se mantenha sempre como objetivo principal a sua felicidade a fazer Esgrima de competição.” concluiu Nuno Frazão.

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