Ronda dos Cumes Sagrados: peregrinação em contra-relógio

trail01A Ronda dos Cumes Sagrados é um projeto de trail running que já leva mais de um ano de atividade. Inspirou-se na lendária Bob Graham’s Round, um desafio de fell running em contra-relógio pelas montanhas do Lake District (Inglaterra), em que os participantes têm de ascender ao maior número possível de cumes num intervalo de 24 horas, sem qualquer apoio de abastecimentos ou marcações. O promotor da Ronda dos Cumes Sagrados, Hélder Pinto, pretende implantar o mesmo tipo de desafio nas montanhas da região onde reside e treina, em Guimarães. Mas a Ronda vai muito além da competição, pois ambiciona ser um veículo de redescoberta e vivência das montanhas da região, algo que é urgente fazer numa sociedade cada vez mais afastada do seu território.

Os montes do noroeste peninsular estão cobertos de vestígios de ocupação ancestral – castros, mamoas, calçadas, muralhas… Durante séculos, as comunidades viveram estabelecidas nestes cumes, principalmente por razões defensivas. Gradualmente, sobretudo devido à ocupação romana, os topos dos montes foram sendo abandonados. No entanto, no inconsciente coletivo, permaneceu a lembrança da vivência profana e sagrada naqueles cumes. De tal forma que permaneceram inúmeras tradições, crenças e lendas. Por cima dos santuários pagãos e das aldeias de granito, foram sendo construídas capelas e novas lendas. O povo esqueceu as venerações pagãs, mas manteve até hoje o respeito por estas elevações, de tal forma que poucos são os cumes desta região que não tenham uma referência religiosa ou mesmo um santuário.

trailA principal missão da Ronda é a reaproximação a estes montes, voltar a frequentar regularmente os seus trilhos cobertos pela vegetação, revelar a beleza natural que se avista de lá de cima, a sensação ímpar de liberdade e, muitas vezes, de verdadeira epifania. É por isso que os Rondeiros passam o ano todo a descobrir e desenhar rotas pelas serras de Fafe, Guimarães, Terras de Basto, Marão… e outras se seguirão! Já se fizeram centenas de quilómetros de exploração e registo, documentados no blog da Ronda. Em maio de 2015, concluiu-se o trabalho de exploração da primeira Ronda, o percurso de Lapinha-Montelongo, uma verdadeira volta pelas Serras de Fafe e Guimarães, com mais de 70 km por 14 cumes diferentes. A 21 de junho, dia do solstício de verão, realizou-se o primeiro desafio da Ronda nesse mesmo percurso. O calor arrasador naquele que foi talvez o dia mais quente do ano não impediu que dois intrépidos atletas concluissem o percurso em cerca de 15 horas, numa verdadeira corrida de sol a sol.

Desde então, a Ronda de Lapinha-Montelongo continua à espera de candidatos a baterem o recorde. Mas há mais percursos no prelo. O próximo é o da Ronda do Marão que irá ser desafiado já no próximo dia 6 de fevereiro (ver evento Facebook). E o seguinte será o da Ronda de Basto, assim que as explorações para o respetivo percurso estejam concluídas.

Fica no entanto a dúvida: será a Ronda um desafio de contra-relógio em ultra distâncias ou uma desculpa para descobrir percursos fantásticos pelas serras do noroeste peninsular? Provavelmente ambos. Serão os Rondeiros a decidir o caminho que a Ronda seguirá. Segundo o seu promotor, a Ronda atingirá plenamente os seus objetivos quando se multiplicar anualmente em variados percursos e desafios. Quando é que a Ronda vai acabar? Espera-se que nunca. Sendo um desafio livre e não uma prova convencional, não está comprometido com calendários ou com a necessidade de meios logísticos e de participantes em grande número. Apenas depende da vontade de apaixonados pela corrida e pela montanha de enfrentarem novos desafios. E isso haverá sempre!

Texto de: Hélder Pinto

Parceiros