A CORRIDA É DO POVO, NÃO DA FEDERAÇÃO

Este texto reflete uma opinião pessoal sobre a recente polémica das “Taxas da Federação” impostas pela Federação Portuguesa de Atletismo (FPA) aos participantes e organizadores de corridas populares. O autor, que fala tanto como corredor como organizador, critica a forma como esta medida está a ser implementada e defende a legitimidade das organizações face à inércia e aproveitamento da Federação.
Fonte: Fernando Andrade

A polémica das “Taxas da Federação”
Apesar de muito debatido, o tema continua a dividir a comunidade das corridas populares.
A APOPA tomou uma posição pública contra a obrigatoriedade do licenciamento federativo – pago através de uma taxa – para quem apenas gosta de correr de forma livre.
Muitos consideram esta imposição prepotente e injustificada, especialmente por afetar quem participa apenas por lazer.
A surpresa com um comentário
Um comentário de um amigo – alguém entendido na matéria – surpreendeu o autor.
Dizia ele ser contra a taxa, mas estranhava que fossem os organizadores os mais indignados, insinuando que estes também teriam interesses próprios.
Como corredor e organizador, o autor sentiu-se compelido a rebater essa ideia.

O papel das organizações no crescimento da Corrida Popular
O crescimento da corrida popular não se deve à FPA nem às Associações Distritais. Estas, durante muito tempo, ignoram tudo o que não acontecia nas pistas.
Foi o movimento associativo e, mais tarde, empresas especializadas, que transformaram a corrida num fenómeno de massas.
Sim, há lucros – mas também há riscos e investimento. É legítimo que quem trabalha para criar eventos de qualidade retire algum proveito.
O que é ilegítimo é a FPA apropriar-se desse trabalho, impondo uma taxa a quem corre por prazer e obrigando as organizações a colaborar com uma medida que não apoiam.
A posição da APOPA e a falta de representação dos corredores
Não é verdade que apenas a APOPA contesta esta decisão – há milhares de corredores a manifestarem-se contra nas redes sociais.
O problema é que os corredores populares não têm um organismo que os represente, ficando dependentes da voz das organizações.
Estas, ao contrário da FPA, estão próximas dos atletas e das suas necessidades.
O argumento das “taxas de inscrição” e a falácia da comparação
Alguns defendem que os corredores não deveriam queixar-se de uma taxa tão pequena, já que pagam muito mais para participar nas provas.
Mas isso é um argumento falacioso.
As organizações cobram um preço justo por um serviço de qualidade – e os corredores participam porque reconhecem o valor.
Pagam a quem os serve, não a quem nada faz por eles.
A atitude da FPA e o seu aproveitamento
A FPA tem-se aproveitado do trabalho dos organizadores, colhendo prestígio sem investir nas provas.
Mesmo em campeonatos nacionais, pouco ou nada contribui financeiramente.
O autor recorda que o próprio presidente da FPA já teve uma empresa de organização de corridas – experiência que terminou rapidamente – e questiona a capacidade de gestão da atual direção, face ao que considera um esbanjamento de recursos.
A simplicidade perdida da Corrida
O autor termina lamentando que a FPA tenha transformado algo simples – correr – num processo burocrático e confuso.
O “Regulamento de Filiações de Agentes Desportivos” é um exemplo de como a Federação complica o que devia ser acessível a todos.
Em tom de apelo, conclui:
“Arrependei-vos, senhores da Federação, arrependei-vos!”