JORGE FAUSTINO E A PAIXÃO PELA SERRA DE PORTEL

Foto: Cedida pelo atleta

Atleta multifacetado, amante da natureza e natural da Serra de Portel, Jorge Faustino é o padrinho do Trail Serra de Portel 2025, uma prova que o liga às suas origens e ao espírito de superação que o acompanha há décadas.

Entre o ciclismo, o trail e o tiro desportivo, Jorge construiu um percurso marcado pela dedicação, disciplina e paixão pelo endurance.

Nesta entrevista, revisita as suas memórias, os desafios e a emoção de regressar “à Princesa de Portugal e Rainha do Alentejo”.

jorge faustino
Foto: Cedida pelo atleta

As origens e a paixão pelo desporto

Jorge, como começou a tua ligação ao desporto e de que forma a Serra de Portel marcou os teus primeiros passos?

Jorge Faustino: Sempre pratiquei desporto.

Sou natural de Portel — ou como mais gosto de dizer, natural da Serra de Portel.

Comecei na escola, nas aulas de Educação Física, mas foi no ciclismo que descobri a minha verdadeira paixão.

Ainda na adolescência, no final dos anos 90, quando pouco se sabia de BTT em Portugal, já eu e os meus amigos nos aventurávamos pela Serra de Portel com bicicletas que hoje nos fazem perguntar como era possível alcançar tais façanhas.

O ciclismo foi a tua primeira grande paixão. Como recordas os tempos dos “Dínamos” e o que representou para ti essa fase do BTT em Portel?

JF: Com o tempo e a evolução do BTT,nasceu a primeira equipa de Cicloturismo e BTT em Portel, “Os Dínamos”, onde vivi momentos únicos de diversão, adrenalina, desafio e, acima de tudo, de convívio entre amigos.

Até aos 24 anos, o BTT foi a única modalidade que pratiquei, sempre como um hobbie.

Com a extinção do clube Os Dínamos, tenho partilhado as minhas aventuras de ciclismo e algumas provas de Trail também, através do Clube Portel Terras do Montado, um grupo já com vários anos de existência, formado por amigos de Portel e de outras localidades.

Para além do Ciclismo, no clube praticamos também Atletismo e Triatlo, sempre num espírito de amizade, paixão pelo desporto e boa disposição.

Apesar de ainda não ser um clube federado, o grupo tem vindo a crescer e a ganhar cada vez mais dinamismo.

Organizada pelo Clube Portel Terras do Montado e fazendo eu também parte da organização, é com muito entusiasmo que aproveito para convidar todos a estarem presentes na XVIII Maratona BTT Terras do Montado, Maratona de 65km e Meia Maratona de 45km, no próximo dia 30 de Novembro, integrada na Feira do Montado 2025 em Portel.

Jorge Faustino

Da GNR ao endurance: a descoberta da corrida e do trail

Mais tarde entraste na GNR e afastaste-te um pouco do ciclismo. Como surgiu então a corrida e o gosto pelo endurance?

JF: Comecei a trabalhar e, em 2004, ingressei na GNR, tendo sido colocado em Lisboa, o que me afastou durante algum tempo do ciclismo.

Mas o gosto pela atividade física já fazia parte de mim.

Passei a dedicar-me ao ginásio, com o objetivo de ganhar músculo e manter-me ativo.

Contudo, sendo ectomorfo — naturalmente magro, com metabolismo rápido e dificuldade em ganhar massa muscular — acabei por desmotivar-me.

Foi então que comecei a explorar o que o meu corpo melhor fazia: resistência.

A corrida entrou na minha vida como uma descoberta natural.

Leve, com a base de resistência do ciclismo e apaixonado pelo desafio, correr tornou-se algo fácil e divertido.

Aos poucos, as distâncias aumentaram e nasceu em mim o gosto pelo endurance.

Em que momento o Trail Running entrou na tua vida e como foi a experiência da tua primeira prova em 2012, no Trail Terras do Grande Lago?

JF: O Trail surgiu de forma natural. Em 2012, o site O Mundo da Corrida.com organizou o III Trail Terras do Grande Lago Alqueva – Portel, com partida na Marina da Amieira e chegada em Portel, em plena Serra de Portel.

E ainda por cima noturno! Foi a minha estreia no Trail.

As Ultras foram o passo seguinte, quase inevitável.

Jorge Faustino
Foto: Cedida pelo atleta

Disciplina e foco: o impacto do tiro desportivo

Para além do trail e do ciclismo, também tiveste destaque no tiro desportivo. Que aprendizagens retiraste dessa modalidade que levaste para a tua vida e para o desporto?

JF: Entre 2009 e 2014 integrei a equipa de tiro da GNR, onde fui federado nas modalidades de carabina de ar comprimido a 10 metros, carabina .22 a 50 metros três posições e carabina 300 metros três posições.

Durante esse período conquistei títulos de Campeão Nacional por equipas e participei também nos Campeonatos das Forças Armadas de Tiro, alcançando alguns pódios.

Esta modalidade ensinou-me a importância do foco, da disciplina e do ritual de preparação.

Cada detalhe contava: desde a organização do material até ao mais pequeno pormenor.

Fortaleceu muito a minha capacidade de concentração, método e atenção ao detalhe — competências que levo comigo para todos os desafios, dentro e fora do desporto.

Jorge Faustino
Foto: Cedida pelo atleta

A evolução no Trail e o espírito de equipa

Como foi a tua evolução no Trail até chegares às Ultras e integrares equipas como os Trilhos do Costume e, mais recentemente, o CF Os Belenenses?

JF: Em 2022 associei-me à ATRP como individual, apenas com o objetivo de ter seguro.

Mas os resultados foram surgindo naturalmente e nesse mesmo ano recebi o convite da equipa Trilhos do Costume, da qual fiz parte em 2022/2023.

A quantidade de provas foi crescendo e comecei a participar no circuito ULTRA da ATRP, dando os primeiros passos nas provas de Ultra Endurance.

Na época 2023/2024 integrei a criação da primeira equipa de Trail do CF Os Belenenses, onde atualmente cumpro a minha segunda época.

Hoje, aos 45 anos, manténs-te focado nas grandes distâncias. O que te motiva atualmente: a competição, a superação pessoal ou o prazer da prática?

JF: Aos 45 anos, mantenho o foco e a vontade nas grandes distâncias — não já pelo lado competitivo, mas pelo desafio, pela conquista pessoal.

Como costumo dizer: quando há dedicação, os resultados aparecem naturalmente.

Tenho também o grande apoio da minha família e, sobretudo, da minha mulher, que me acompanha sempre que pode.

É a minha massagista, nutricionista, incentivadora e, por vezes, até treinadora.

Metade de todas as minhas conquistas são dela também.

Foto: Cedida pelo atleta

Novos desafios: o gravel e o regresso à Serra de Portel

Recentemente descobriste o gravel. O que te atrai nesta modalidade e como a concilias com o trail e o ciclismo?

JF: Atualmente descobri uma nova modalidade pela qual me estou a iniciar e a apaixonar: o gravel.

Não é exatamente ciclismo de estrada nem BTT, mas estou a adorar.

Aproveita toda a experiência que tenho em endurance e o gosto pelo ar livre, permitindo-me explorar novos lugares enquanto pratico desporto, encaro desafios e vivo aventuras em grandes distâncias.

Além disso, é uma oportunidade incrível de conviver e conhecer uma nova comunidade.

Este ano tens a honra de ser padrinho do Trail Serra de Portel. O que significa para ti este regresso e o que torna esta prova tão especial?

JF: Este ano louvo com grande alegria o regresso do Trail a Portel, do qual tenho a honra de ser padrinho desta edição.

Na minha querida Serra do Mendro, mais conhecida como Serra de Portel — a Princesa de Portugal e Rainha do Alentejo — terá lugar a IV edição do Trail Serra de Portel 2025.

É uma prova de excelência que nos convida a viver e sentir o Alentejo no seu estado mais puro: correr na serra de Portel é respirar o Alentejo, é pisar o xisto, deixar-se envolver pelo aroma do rosmaninho, dos malmequeres, do loendro e do alecrim.

Que mensagem gostarias de deixar a todos os atletas que vão participar no Trail Serra de Portel 2025?

JF: O evento nasce no amplo e agradável Parque da Matriz, com o imponente Castelo de Portel em destaque, como se abraçasse a serra envolvente.

Desde a partida sente-se o calor humano e o apoio das gentes de Portel, presença constante ao longo do percurso.

E a chegada… é empolgante, festiva e acolhedora.

Num período de transição entre épocas do Trail Running em Portugal, esta prova surge como a oportunidade ideal para quem deseja manter o ritmo competitivo, preservar a forma física ou simplesmente desfrutar de uma corrida descontraída.

É também uma excelente porta de entrada para quem se quer iniciar na modalidade, absorvendo o prazer de se perder — e ao mesmo tempo se reencontrar — no ambiente único que a Serra de Portel tem para oferecer.

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