KEMEDO TEAM À CONVERSA COM HÉLDER GOMES

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A KeMedo Team é uma associação de desportos de natureza que nasceu da amizade, paixão pelo trail running e pela vontade de criar um impacto positivo na comunidade. Desde 2014, a equipa cresceu de um grupo de amigos para uma associação estruturada, com foco na solidariedade, promoção do desporto e valorização do território de Valongo.

Nesta entrevista, Hélder Gomes conta-nos a origem, os valores e os momentos mais marcantes da KeMedo Team.

Fonte: Helena Santos // OPraticante.pt

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Origem da KeMedo Team

Hélder, como nasceu a KeMedo Team e o que o motivou, pessoalmente, a criar esta associação de desportos de natureza?

A KeMedo Team nasceu em abril de 2014, onde um grupo de amigos se reunia para correr em provas e, como íamos juntos, decidimos criar um nome para nos identificarmos nas provas que íamos participar.

A Associação veio em 2018 com a necessidade de termos uma Associação para podermos organizar as provas que já fazíamos mas com o nome “emprestado” por outra associação.

O nome “KeMedo” tem uma sonoridade curiosa — pode contar-nos a história ou significado por trás dele? Existe alguma anedota relacionada?

Como disse, éramos um grupo de amigos que íamos a várias provas juntos, e decidimos ter um nome de equipa.

Nos grupos de Messenger começaram as propostas em tom de brincadeira: “Sem Nome”, “Sem Senso”, “Kilometro”, entre outros.

Até que alguém escreveu KM, a sigla de Kilómetro, e houve uma resposta: “isso dá KeMedo”

Acho que foi o nome mais consensual entre todos e ficou KeMedo Team.

Utilizamos logo na prova seguinte no Grande Prémio Atletismo Vila de Campo, 25 de Abril, na nossa terra, e ficou a data da fundação KeMedo Team: 25 de Abril de 2014.

Valores e identidade da equipa

Quais considera serem os valores mais importantes que definem a identidade da equipa?

Desde o início, o valor mais importante da KeMedo Team ADN é a SOLIDARIEDADE, e isso está demonstrado em tudo que organizamos: Free Trail, Tasquinhas e até mais recente com equipa de futebol.

Também temos o companheirismo, a amizade e união em tudo que organizamos, onde só assim é possível manter a associação entre as mais representativas do concelho de Valongo e, nomeadamente, na freguesia de Campo.

Nossos sócios são o exemplo disso, quase todos disponíveis para ajudar em várias vertentes da associação.

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Solidariedade em ação

Na sua perspetiva, a comunidade reconhece-vos mais pelo impacto solidário ou pela vertente desportiva?

As duas vertentes estão interligadas.

Com a vertente desportiva, juntamos a vertente solidária.

A comunidade, felizmente, sabe os nossos valores solidários e acompanha sempre essa vertente.

O que o levou a incluir sempre uma componente solidária nos vossos eventos e como escolhem as causas ou instituições a apoiar?

Aqui acho que foi o contrário. Primeiro pensamos na vertente solidária e só depois incluímos um evento para podermos apoiar uma causa e chegar a um maior número de pessoas, atletas, equipas e empresas.

A partir do 1º evento fomos sempre idealizando outro e mais outro e não paramos.

O que nos move: Solidariedade.

As causas são definidas por nós, KeMedo, sem interferências ou interesses de outras pessoas.

Inicialmente alguém dentro da associação propunha uma causa e, entre a direção, decidíamos.

Com o crescimento e divulgação dos nossos eventos, já nos são propostos pelas próprias instituições pedidos de apoio, onde tentamos analisar cada uma delas e decidir em consciência, mas sempre sem interesse pessoal ou associativo.

No Free Trail de Agosto, a causa é e será sempre a mesma: a nossa cooperação com os Bombeiros Voluntários de Valongo.

Todos os nossos eventos solidários são 100% solidários, isto é, todos os donativos são entregues na sua totalidade à causa que apoiamos.

Toda a logística, abastecimentos, marcações, se tivemos algum tipo de custo, é suportada pela associação e patrocinadores dos nossos eventos solidários.

Não usamos os donativos para a organização do evento.

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Projetos marcantes

Qual foi o projeto solidário que mais o marcou até hoje e de que forma sentiu a reação da comunidade a estas iniciativas?

Acho que desde o 1º em 2015 para o Rodrigo até ao último para os Bombeiros em 2025 foram todos de uma dedicação e de um orgulho enorme, todos com significado especial.

Mas lembro-me daquele de 2017 para o Rodrigo, onde necessitava de cerca de 5 mil euros para uma cadeira de rodas e nós dificilmente tínhamos passado os 2 mil euros em todos os eventos anteriores, e tínhamos consciência que seria difícil atingir esse valor.

Foi então que me surgiu uma ideia que resultou: “Se no grande Porto existem mais de 30 equipas de Corrida/Trail, porque não lançar o convite às equipas que chamamos ‘Projeto Apadrinhar’, que consiste em cada equipa doar no mínimo 100€ entre todos os seus atletas e serem padrinhos da cadeira do Rodrigo?”

Felizmente tivemos mais que os 30 padrinhos e atingimos, em donativos, algo impensável entre nós: 8.300€, onde compramos a cadeira e deu ainda para 4 meses de terapias para o Rodrigo.

Pessoalmente, o que mais me marcou foi a favor do IPO-Porto em 2023, onde sou utente desde 2022 e quis “agradecer” o que fizeram por mim e fazem todos os dias com todos que por lá passam, e foi unânime dentro da associação a escolha nesse ano para a causa IPO.

Atingimos cerca de 10 mil euros, transformados em 10 cadeiras de rodas e 20 cadeirões elétricos.

Sonhos e objetivos futuros

Existe algum sonho ou objetivo solidário que ainda gostariam de concretizar com a KeMedo Team?

O nosso sonho é real, e será sempre a vertente solidária.

Vamos continuar a entregar a nossa dedicação e o nosso empenho a ajudar quem precisa e minimizar as necessidades de pessoas e instituições em quem acreditamos.

O sonho da nossa associação, e meu sonho para a KeMedo Team, é ter a nossa “Kasinha”, o nosso “Kantinho”, o nosso espaço, para podermos crescer como associação e ter mais vertentes dentro da KeMedo Team ADN.

A KeMedo tem imenso material de apoio aos eventos, que está em “armazéns” emprestados e divididos por casa de sócios, onde toda a logística, quando são necessários, temos que andar a pedir de casa em casa e carregar esse material.

Andamos com a casa às costas.

Foto: Fotovilas – Rui VIlas

Trail Noturno de Valongo

O Trail Noturno de Valongo é muito falado. O que torna este evento especial e diferente para os atletas?

O TNV é especial, provavelmente o trail noturno mais antigo do país.

Vamos para a 12ª edição no próximo mês de dezembro, onde contamos ter lotação esgotada: 800 atletas, número limite que temos colocado nas últimas edições.

Tornamos um evento noturno numa festa, um trail diferenciado, onde quem participa volta ano após ano pelos trilhos, pelas marcações e pelo abastecimento final.

As nossas marcações são mágicas.

O caldo verde e bifana na final, regada com cerveja, e o pastel de nata e rabanada…

Correr no inverno, com temperaturas baixas e lotação esgotada, são os atletas que fazem o TNV especial.

Nós só temos que agradecer e proporcionar uma noite de festa com tudo que tem direito, com valores de inscrição reduzidos.

Que cuidados e estratégias usam para garantir a segurança de todos os participantes, sobretudo em percursos técnicos ou noturnos?

A segurança está em 1º lugar.

A escolha dos trilhos sem agressividade de obstáculos, singles tracks cuidadosamente escolhidos, estradões corríveis e sem linhas de água.

Temos voluntários em cada desvio, além das setas refletoras.

As nossas marcações, acreditamos, tornam quase impossível os atletas se perderem na serra pela visibilidade que oferecem.

Percursos acessíveis a intervenções rápidas dos Bombeiros, locais de passagem e abastecimentos próximos de acesso aos nossos carros de apoio todo-terreno.

Foto: Filipe Marques Photography

Promoção do território e trail running

Na sua opinião, de que forma os eventos da KeMedo ajudam a valorizar e promover o território de Valongo?

Os nossos eventos são parte do circuito de trilhos de Valongo, onde temos 2 das 5 provas do circuito.

Temos mais 2 eventos solidários, e tudo junto, temos mais de 3.000 atletas a percorrerem as serras de Valongo durante o ano, sem contar o “Extreme” em dezembro e os 30 treinos abertos que fazemos anualmente pelas ruas de Valongo.

Com estes números, acho que somos a associação que mais contribui para promover o desporto outdoor em Valongo e uma das mais representativas em Portugal.

Acrescentando a solidariedade, é orgulho da nossa associação: se falamos da KeMedo, falamos da solidariedade e falamos de Valongo.

Como tem visto a evolução do trail running em Portugal e o que isso representa para a KeMedo Team?

O Trail está em crescimento a nível de provas; todos os fins de semana há trails em quase todos os concelhos.

Se acho isso evolução do trail? Penso que não, porque temos demasiadas provas, mas a competição é muito menor.

Os melhores atletas espalham-se pelas diversas provas, temos vencedores em mais provas, mas muito menos competição.

Mas é um crescimento natural, onde todas as equipas, associações e mesmo os municípios querem ter provas na sua terra. Contra isso nada, nós em Valongo temos 6 provas.

Para a KeMedo, o trail running foi importante para o nosso crescimento como equipa e depois como associação.

Muitos atletas conheceram a modalidade connosco e, com as nossas organizações, ajudamos a crescer o trail, e o trail fez crescer a nossa associação.

A realidade é esta: se não houvesse trail, não teria havido KeMedo Team – Associação Desportos em Natureza.

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Futuro e momentos marcantes

Quais são os próximos passos e objetivos que tem em mente para a equipa nos próximos anos?

A nossa equipa teve um crescimento sustentável nestes 11 anos de vida.

Sem sonhos em 2014, em 2018 criamos a associação e fomos crescendo até 2025, sendo uma referência no associativismo no nosso concelho.

Temos a vertente do futebol de 11, Tasquinhas em 3 festas em Valongo, que é uma fonte importante de receita. Próximos anos serão, sem dúvida, motivados pela vertente solidária, porque todos os sócios sabem para onde caminhamos.

No futuro, o objetivo e sonho é, como dito, a nossa “Kasinha”, o nosso espaço.

Estamos a trabalhar para realizar esse sonho, que acredito que no final deste mandato, em 2027, já teremos algo visível.

Hélder, qual foi, até hoje, o momento mais marcante para si enquanto responsável pela KeMedo Trail Team?

São tantos momentos que é difícil escolher só um. 11 anos de KeMedo, onde passámos em 2 anos de um grupo de 8 atletas para cerca de 60.

Depois a criação da associação em 2018, a organização do TNV desde 2014, o Trail Brinquedo desde 2021, os solidários desde o início.

Mas o momento mais marcante foi em 2022, quando me foi diagnosticado um tumor maligno no intestino e tive que comunicar à associação que a partir desse dia não sabia o meu futuro e que ia passar a “pasta” à equipa, sem saber se ia ou não regressar.

Felizmente, correu tudo bem até ao momento, estou em vigilância e consegui regressar em pleno, ajudando e contribuindo para o crescimento da associação.

Foto: Fotovilas – Rui Vilas

Comunidade de atletas

Quem participa mais frequentemente nos vossos eventos e como descreveria a comunidade de atletas que vos acompanha?

Os atletas que participam nos nossos eventos são os principais responsáveis pelo sucesso dos eventos KeMedo, como o Trail Terra do Brinquedo, Trail Noturno e os Free Trail solidários, com mais de 80 mil euros angariados para as causas que apoiamos.

Sem esses atletas não havia eventos.

Só podemos estar agradecidos por confiarem em nós.

Quando a comunidade do trail é chamada à solidariedade, participa em massa.

Se houvesse mais modalidades com a força do trail, teríamos um mundo melhor.

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