SPIRIT OF 78 TRIATHLON UMA VIAGEM NO TEMPO

E fazer algo completamente diferente? Se treinar e completar uma prova na distância rainha já é, por si só, um enorme desafio, fazê-lo sem recorrer à tecnologia moderna torna tudo ainda mais exigente.
Há oito anos foi lançado o desafio e, nesta nona edição do Spirit of 78 Triathlon, cerca de metade dos atletas aceitou-o.

Era vê-los a desfilar pelas margens do Douro, nas suas bicicletas clássicas — muitas com marcas do tempo e ferrugem —, vestidos a rigor com sungas, tops e acessórios da época, tentando recriar fielmente o espírito do triatlo de 1978.

E a cereja no topo do bolo: os homens ostentavam bigodes farfalhudos dignos dos melhores galãs dos anos 70.

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O amanhecer sobre o Douro

Sábado, 11 de outubro. Ainda o sol não nasceu, e já os primeiros atletas começam a chegar ao Museu da Imprensa, no Porto.

O nervosismo é evidente nos rostos de quem se prepara para mais uma jornada de superação. É o momento em que os novatos ouvem atentamente os conselhos dos veteranos que, ano após ano, regressam às margens do Douro.

Com os primeiros raios de sol a romper no horizonte, os atletas alinham-se na rampa de acesso à água, prontos para mais uma edição. O rio apresenta-se calmo, refletindo nas boias de sinalização o prenúncio de um dia ideal para competir.

A largada: o rio como aliado

Após o último briefing dado pelo Sr. Joaquim — presença assídua desde a primeira edição —, soa o sinal de partida. Um a um, os atletas lançam-se às águas do Douro, deslizando com a corrente a seu favor.

Este ano, a prova de natação decorre perto da mudança da maré, o que ajuda o desempenho e faz qualquer atleta sentir-se um verdadeiro Phelps. Ainda assim, quem não escolhe a melhor trajetória facilmente soma 500 metros extra aos habituais 3800.

Os primeiros a emergir do rio são Hugo Mota e David Caldeirão, que rapidamente iniciam o ciclismo — ambos em bicicletas clássicas e equipados a preceito.

Atrás deles, todos os restantes atletas completam o primeiro segmento sem incidentes, superando com sucesso uma das partes mais exigentes da prova.

Ciclismo: aço, curvas e bigodes

Segue-se o ciclismo, ao longo da estrada que serpenteia o Douro em direção ao interior, com as suas margens deslumbrantes sempre no horizonte.

O percurso, de 30 km, é percorrido seis vezes, permitindo abastecimentos regulares e encontros constantes entre atletas.

Nessas ocasiões, ecoa entre as árvores o tradicional grito “Bora, Bigodes!”, que tantas vezes tem o efeito energético de uma barra de cereais.

David Caldeirão lidera a prova até ao início da última volta, sempre com Márcio Carvalho a manter-se firme na perseguição. No arranque da derradeira volta, os papéis invertem-se e Márcio assume a dianteira, posição que já não mais largará até à meta.

Para quem passeou ao longo da estrada marginal, o cenário foi uma autêntica viagem no tempo: atletas de sunga e bicicletas clássicas, distribuídos entre os primeiros e os últimos, recriando o espírito pioneiro do triatlo.

Corrida sob o calor do Douro

A corrida decorre num circuito de 7 km, com um ponto de abastecimento central que permite apoio a cada 3,5 km.

O percurso combina um passadiço sombreado por árvores, num sentido, e um passeio largo e exposto ao sol, no outro — sempre com o Douro por companhia.

Este ano, o calor foi o maior adversário dos atletas, refletindo-se nos tempos finais.

Márcio Carvalho manteve-se firme na liderança, ampliando a vantagem sobre David Caldeirão, que, já perto do fim, acabaria ultrapassado por Paulo Marques.

A força das mulheres

Na competição feminina, Patty Watanabi assumiu a liderança desde o início, sem dar hipótese à segunda classificada, Sherry Gu.

Com esta vitória, Patty conquista o seu segundo título no Spirit of 78 Triathlon.

De salientar que Patty viveu este ano a experiência na sua forma mais autêntica: completou a prova de fato de banho, sem o conforto da carneira na bicicleta, tornando-se apenas a segunda mulher a fazê-lo — depois de Margarida Reis, na segunda edição.

Resta agora cumprir a promessa que deixou: alinhar, na próxima edição, com uma bicicleta clássica.

O espírito do clube: Ladies & Gentlemen

Como é tradição, esperou-se pelo último classificado para a consagração dos campeões.

Este ano, em vez dos habituais pódios masculino e feminino, foram coroados apenas os campeões absolutos — Márcio Carvalho e Patty Watanabi —, reservando-se o pódio completo para os atletas do Ladies & Gentlemen Club.

Neste grupo especial, que apenas admite quem compete à moda dos anos 70 — com sunga, top, bicicleta clássica e bigode —, o vencedor foi David Caldeirão, seguido do estreante Pedro Jacinto e do veterano Tiago Amaral.

Dos 45 atletas presentes na partida, 20 aceitaram o desafio do Ladies & Gentlemen Club. No final, 14 concluíram a prova, levando para casa o merecido certificado que os consagra como membros oficiais.

Enfrentar esta distância com bicicletas de aço, pouco ergonómicas e de poucas mudanças é, sem dúvida, elevar o desafio a outro patamar.

Uma festa que celebra o triatlo

Mais uma vez, o verdadeiro espírito do triatlo regressou às margens do Douro.

Durante todo o dia, uma animada moldura humana aplaudiu, incentivou e celebrou cada atleta.

No ponto central do evento, formou-se uma verdadeira festa, com música, comida, bebidas e muita partilha entre voluntários, assistentes, amigos e público — um ambiente que reforça a sensação de família que o Spirit of 78 Triathlon tem vindo a cultivar ao longo dos anos.

A caminho da 10.ª edição

No próximo ano, o evento celebra a sua décima edição — um marco especial para todos os que dele fazem parte.

A julgar pelo entusiasmo dos veteranos, muitos já prometeram regressar equipados a rigor, pelo que se esperam poucas vagas disponíveis para estreantes.

O Spirit of 78 Triathlon regressa no início de outubro, com inscrições a abrir no primeiro dia do ano.

Como dita a tradição, o número de participantes é limitado a 60 atletas: quem já participou tem prioridade na inscrição, e os restantes lugares são sorteados entre os novos candidatos.