BERNARDO PEREIRA BRILHA POR PORTUGAL
Foto: Cedida pelo atleta
Campeão do Mundo Sub-23 e medalha de bronze absoluto em canoagem de mar, Bernardo Pereira é hoje um dos grandes nomes da nova geração do desporto português.
Aos 22 anos, o atleta do Clube Naval da Calheta leva o nome da Madeira e de Portugal aos quatro cantos do mundo, com uma mistura de talento, disciplina e humildade que o tornam num verdadeiro exemplo para os jovens atletas.
Nesta entrevista, Bernardo fala sobre o seu percurso, as conquistas e o que ainda ambiciona alcançar no futuro.
Fonte: Helena Santos // OPraticante.pt
Raízes e início no desporto
Bernardo, para quem ainda não te conhece, quem é o Bernardo Pereira? Que idade tens, o que estudas ou fazes fora da canoagem, e como te descreves enquanto pessoa?
Tenho 22 anos, acabei recentemente a licenciatura em Gestão e, seja dentro ou fora de água, sou confiante, otimista e procuro sempre os melhores desfechos.
Como começou a tua ligação ao Clube Naval da Calheta? Porquê este clube e o que representa para ti representar uma instituição madeirense num palco mundial?
A minha ligação ao Clube Naval da Calheta começou com o meu pai, que já praticava canoagem no mesmo e que atualmente desempenha o papel de Presidente desta instituição.
É o clube onde cresci, o clube que me formou e que me forneceu as condições necessárias desde o início para poder fazer o que mais gosto, da melhor forma.
Permite-me também levar o nome, não só da Madeira, como da Calheta, a todos os cantos do mundo.
Alguma vez recebeste convites para representar outros clubes? O que te faz continuar fiel ao Naval da Calheta?
Apesar de já ter recebido alguns convites, nenhum estava à altura do que representa para mim estar no Clube Naval da Calheta.
Que desportos praticaste antes da canoagem? Algum deles ajudou na tua formação física ou mental?
Joguei futebol durante um curto período de tempo, mas só a canoagem acabou por me despertar interesse — se calhar ajudado pelo facto de ter dois pés esquerdos! (risos)
O que te levou a escolher a canoagem como o teu desporto principal? Lembras-te do momento em que percebeste que este seria o teu caminho?
A canoagem era o desporto que me permitia estar ligado com o mar e com a natureza, e isso foi determinante para me ter apaixonado por este desporto.
O ouro de Bernardo Pereira em Durban
O que significa para ti o título de Campeão do Mundo Sub-23? É o concretizar de um sonho ou apenas mais um passo no teu percurso?
O título de campeão do mundo é o culminar de imensos anos de trabalho.
É indescritível e complexo o sentimento que passou por mim — e há de continuar a passar — quando revivo aqueles momentos.
Além do ouro no teu escalão, conquistaste também o bronze absoluto — a primeira medalha portuguesa de sempre na categoria Open. Que sensação é fazer história pelo teu país?
Fazer história por Portugal é deixar o meu nome e o nome da minha família para sempre registados no mundo da canoagem, e isso, para mim, é um prazer megalómano.
“Ganhei experiência e frieza — esta foi a melhor preparação da minha carreira”
Competiste com nomes fortes, como o australiano Cory Hill e o francês Pierre Vilella. Que aprendizagens tiraste ao medir-te com os melhores do mundo?
O Cory é o melhor do mundo atualmente. Competir com ele é sempre uma aprendizagem, e desta vez não foi diferente.
Ganhei experiência e frieza em contexto competitivo, que sei que me vão ajudar no futuro.
Depois da prata conquistada no Mundial da Madeira em 2024, chegaste agora ao ouro. O que mudou neste último ano — treino, maturidade, mentalidade?
Este ano fizemos a melhor preparação de sempre, possibilitada com uma maior capacidade de recuperação, parâmetros de análise de treino e acompanhamento.
Qual foi o momento mais difícil durante a prova em Durban? Houve algum instante em que pensaste que o pódio podia escapar?
O momento mais difícil da prova foi a chegada, onde não consegui fazer muito boa figura, mas as condições estavam desafiantes e, sendo que não afetou a classificação final, deixa-me mais descansado.
Não pensei no pódio na classificação geral — fiz a prova toda no meu registo e deixei que o meu trabalho fosse suficiente.

Treino, rotina e apoio
Como foi a tua preparação para este Mundial? Que aspetos físicos e mentais foram mais trabalhados?
A preparação é com base em treino de água, ginásio e corrida, alinhados com exercícios de recuperação.
Como é a tua rotina de treinos — quantas horas por dia dedicas à canoagem e como geres o equilíbrio entre estudos, vida pessoal e treinos?
Treinar de manhã, descansar a meio do dia e voltar a treinar à tarde é a rotina da fase de preparação. Há sempre tempo para tudo, se soubermos gerir bem o nosso tempo.
Tens algum apoio ou figura-chave que queiras destacar nesta conquista — treinador, família, colegas de treino?
Existem muitas figuras importantes, mas as mais influentes são o meu pai, o meu treinador Rui Câncio, o meu parceiro de treino e finalista olímpico, David Fernandes, e o meu patrocinador principal, Manuel Ramos, através da marca Nelo Kayaks.

Ambição e futuro
O que muda na tua carreira depois desta medalha? Sentes que aumentam as oportunidades ou também a responsabilidade?
Nada muda para o futuro — a ambição é a mesma, e é preciso ter isso em mente quando estivermos a trabalhar para os próximos desafios.
Que objetivos traçaste a médio e longo prazo? Já estás a pensar em novos títulos ou até numa presença olímpica?
A médio prazo quero ser campeão do mundo de seniores. Esse é o desafio principal e o motivo do nosso trabalho.
Como vês o futuro da canoagem portuguesa em mar aberto? Achas que esta geração pode colocar Portugal entre as potências mundiais?
A canoagem de mar tem vindo a crescer substancialmente e sinto que será uma modalidade cada vez mais valorizada.
Em Portugal temos uma geração que promete muito nesta modalidade e acredito que bons resultados serão mais frequentes.

Bernardo fora da competição
Quem são as tuas referências na canoagem — nacionais ou internacionais?
As minhas referências são o David Fernandes e o Fernando Pimenta, que apesar de não serem atletas essencialmente do mar, são atletas que sempre me motivaram e que são exemplos do que quero ser neste desporto.
Como é o ambiente dentro da seleção portuguesa? Há espírito de equipa, entreajuda e amizade entre atletas?
O ambiente na equipa portuguesa é muito bom, somos todos bons amigos e estamos lá para o mesmo: ganhar!
Tens algum ritual antes de competir? Alguma superstição ou rotina que nunca falha?
Não tenho ritual, mas tenho o meu boné da sorte.
O que gostas de fazer quando não estás a treinar ou competir?
Eu gosto muito de treinar e de competir, mas quando não o estou a fazer gosto de viajar e conhecer sítios novos.
Se tivesses de te descrever em três palavras, quais seriam?
Otimista, confiante e determinado.
Que mensagem deixas aos jovens atletas madeirenses e portugueses que sonham chegar onde tu chegaste?
Acredito que, se quiserem muito atingir certos patamares no vosso desporto, o trabalho é a única forma de lá chegar. Terão que ultrapassar muitos desafios, mas só assim será possível.


