REFORMADOS DO TRAIL, UMA REFLEXÃO ACTUAL

Reformados

 

Antes de lerem esta minha reflexão sobre os ” Reformados do Trail “. Que fique claro:

Sou fã da modalidade

O Trail é uma modalidade fantástica, viciante, estimulante, desafiante (tanta coisa acabada em “ante” que apetece escrever “amante”), promove o convívio, promove a limpeza da alma porque nos permite juntar exercício físico e natureza, etc, etc, etc.

Reformados

Resumindo: É Incrível.

Mas, pois…existe sempre um mas.

Mas, ela é agressiva fisicamente e pode ser muito perigosa para o nosso corpo se não soubermos o que estamos a fazer.

E tem sido muito comum!

É uma modalidade que nos leva por caminhos instáveis e que exige bastante das estruturas musculares e osteo-articulares mesmo quando corremos com o peso adequado.

Exige largas horas nos trilhos o que coloca o nosso corpo sobre um stress anormal e onde todas as estruturas ficam expostas a um grande risco.

Os desníveis acentuados levam o corpo ao limite e se não estás preparado irás ceder certamente mais cedo ou mais cedo!

piódãoFactos que se verificam nestes ” Reformados do Trail “:

Há muitos participantes de Trail que se iniciaram já com 35 ou 45 anos, sem qualquer passado desportivo, sem estrutura muscular para suportar tamanhos esforços e impactos, sem noções de gestão de esforço e de conhecimento do corpo em esforço, sem o peso certo…apenas com vontade de chegar cada vez mais longe…fazer mais e mais km!

Há muitos destes participantes, destes ” Reformados do Trail ” que, mesmo tendo estado 20 anos sem fazer exercício (e o que faziam antes era educação física na escola) querem o quanto antes fazer como o amigo: “Ser ultra“.

Amigo (digo eu), se não segues uma progressão lógica e percebes os teus limites o mais parecido que irás ouvir da palavra Ultra Trail será “Ultra sons“.

Há muitos destes participantes que o seu treino resume-se a volume de corrida, ou seja, para além de não fazerem treino de reforço muscular, mobilidade, técnica, de não promoverem a desintoxicação muscular, etc…simplesmente correm, correm demasiado e sempre no mesmo tipo de treino e ritmo.

Não fazem treinos de subida, nem de descida, nem de velocidade, nem de proprioceptividade, nem reforço específico, apenas gostam de ir para o monte fazer 5 horas todas as semanas…mas de treino aquilo pouco tem.

Durante a semana, se têm uma hora….correm uma hora. Volume sem estrutura base vai dar asneira!!!

reformados

A porta a fechar e os ” Reformados do Trail ” a passar de lado para …

Há atletas a iniciar e em menos de um ano já fizeram ultra (mesmo que mais de metade do percurso tenha sido a caminhar e passaram as barreiras horárias tipo Macgyver – a porta a fechar e eles a passar de lado para não serem barrados.

Mesmo que tenham passado “As passas do Algarve” para fazer os últimos 25 dos 45km da prova).

Não sou contra quem faz ultra. Apenas com quem não dá os passos correctos e não dá um pé de cada vez!

Há mesmo quem já tenha feito mais de 100km em prova com menos de 2 anos de Trail (e 2 anos pobres, onde só correram aumentando volume, tendo peso a mais, não tendo estrutura muscular, não tendo passado desportivo, etc, etc, etc).

Muitos atletas a ignorar os sinais do corpo, a criar objectivos desmesurados, precipitados e muito a cima das suas reais capacidades.

Atletas a fazer 2 ultras por mês. Alguns fazem até mais km numa prova que num mês de treinos.

Reformados
Foto: Luís Pinto

Sugestões para os atletas, para os ” Reformados do Trail “:

Se não têm passado desportivo terão ainda de ter cuidados redobrados em relação a estas dicas:

  • Treinem força (quase impossível numa prova se desiste por falta de capacidade cardiovascular);
  • Treinem mobilidade e propriocpetividade (os músculos e estruturas traccionam e precisam de restaurar mobilidade para manter uma boa técnica e o equilíbrio muscular e treinem a solicitação muscular em superfícies instáveis para preparar outros músculos de suporte e assim ajudar a evitar lesões).
  • Em relação ao treino de corrida ele deve ser orientado, progressivo, bem calculados os períodos de carga e de recuperação…mais não é sinal de melhor.
  • Este treino deve contemplar vários tipos de treinos (subidas, descidas, rampas curtas, médias, longas, escadas, séries de velocidade, intervalos de ritmo, etc). Se não sabes fazer, procura ajuda.

Alimentem-se como um atleta (procurem ajuda) e apoiem-se em suplementação sempre que necessário (esta está tão evoluída que nos permite hoje grande ajuda quando fazemos degradações tão grandes no nosso corpo e onde a alimentação poderá não conseguir sozinha restaurar os níveis de tudo o que precisamos).

Foto: Anabela Santos

Respeitem o vosso eu, o vosso passado e preparem o vosso corpo

Respeitem o vosso eu, o vosso passado e preparem o vosso corpo (futuro) para fazerem uma coisa que tanto gostam durante muitos anos e não apenas durante 2 ou 3 anos.

As ultras vão sempre existir, os trilhos não fogem e tu não és menos porque nunca fizeste uma ultra…tu és tu, com os teus limites e o teu percurso é individual e intransmissível.

Progridam nas distâncias apenas se progrediram no treino. Comecem por provas curtas e depois poderão aumentar distâncias se tiverem a consciência que aumentaram a qualidade do vosso treino, na variedade, no planeamento e nas diferentes capacidades que já preparam.

Ser finisher normalmente dá uma medalha, mas pior são as medalhas que ficam no corpo (porque não fizeste a progressão certa e te colocaste a jeito)…muitas vezes para sempre…não tão poucas vezes estão a encostar amantes da modalidade para um novo mundo ” Reformados do Trail

Sugestões para os organizadores de provas com mais de 40km.

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APERTEM COM AS BARREIRAS HORÁRIAS E ISTO ACABA!

Só vai quem estiver preparado!

Obrigado e bons treinos!

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Texto: Ricardo Bomtempo

Fotos: Miguel David

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