À conquista das quatro Serras

Amarante já não era a mesma no dia 18 e 19 de Junho. Tudo mudou… as pessoas já não vestiam calças de ganga, camisolas, fatos nem fatos de treino. Só se via guerreiros, gladiadores e o próprio Spartacus, todos com as suas polidas e brilhantes armaduras, capacetes, escudos e espadas cavalgando pelas Serras de Amarante. Todos estavam lá. Grandes e pequenos, altos e baixos, experientes e não experientes, todos com um fim, o de conquistar as mais belas, das belas “ Princesas” da Serra. Chamavam-se elas Aboboreira, Sr.ª da Graça, Marão e Alvão, qual delas com mais curvas, mais descidas e subidas.

Os guerreiros (warriors) só tinham olhos para a Serra do Marão, achavam-na encantadora, mas preferiam andar em seu redor percorrendo 70 kms. Os gladiadores (gladiators) disputavam entre si, o objectivo de ser o mais rápido a conquistar as quatro, num total de 180 kms. Quem o fizesse recebia o título de o “Conquistador de Amarante”, entregue pelo rei. E por último, metade guerreiro que percorria 70 kms e metade gladiador com 180 kms para percorrer, o Spartacus, a lenda que chegou a Amarante. Era o mais esperado, pois era o mais incerto, era uma viagem tão longa e dura que era duvidoso o fim da sua demanda.

Mountain Quest visto por um gladiador

O Gladiador Carlos Augusto relatou-nos como foi realizar o mountain quest

Ao chegar a Amarante, o espírito que se vivia era de outro mundo. Antes da prova foi feito um briefing, fundamental para dar a conhecer um pouco do percurso aos participantes.

Nessa noite dormi muito pouco, talvez uma hora, pois às três e meia já estava a aprontar tudo para que nada me faltasse durante a prova. Como temos de ser auto-suficientes, fui carregado com tudo o que precisava para me alimentar… A água, tínhamos fontes marcadas no GPS para reabastecer e também havia cafés onde podíamos comer alguma coisa, ao todo parei umas 2 horas entre comer, meter água e apreciar a paisagem.

Uma prova dura … até nas descidas

A prova não era dura, era muito dura, arrancamos às 5 da manhã e quando eram 8 já levávamos mais de 2000m de desnível positivo nas pernas… e ainda faltavam mais 4000d+ para o resto do caminho. Quando se sobe, sobe-se mesmo!!! Vais a sofrer subida a cima mas quando começas a descer pensas… mais valia estar a subir. É preciso ir bastante atento, não por ser muito técnica, que também o é, mas porque é uma prova longa e tens que poupar a bicicleta e o teu corpo.

Nunca tinha feito uma distância de BTT tão grande! Arrancamos com luzes montadas na bicicleta e a organização a puxar por cada um de nós é incrível a energia daquelas gentes! Existem três marcos para mim… O amanhecer na serra da Abobreira, é fantástico… o dia a nascer e umas dezenas de bttistas a escalar a serra. A Subida ao Marão, que dureza!!!… em 8km subimos 1000d+… e a chegada à Senhora da Graça, que sensação… pensas estou quase!… a partir daqui já tens a prova praticamente feita… é quase sempre a rolar até Amarante!

Superação, solidariedade, resiliência e capacidade de desfrutar do ambiente, interpretando a presença na prova de uma forma muito mais ampla do que apenas o esforço das subidas impossíveis ou das descidas perigosas. Assim se traduziu mais uma edição do Mountain Quest, quer para os participantes, quer para a organização.

Paisagens inigualáveis

Desde o início que fomos prendados com as mais belas paisagens, mas o que mais gostei foi mesmo a serra da Abobreiras alaranjada com os primeiros raios de Sol depois chegar ao parque eólico e teres uma vista abismal das serras é incrível, as imagens não conseguem descrever aquela paisagem na realidade! Todas as serras são diferentes, umas com mais árvores, outras com mais pedras, outras que só andas sobre pedras!!!!, pelo caminho vais vendo muitos animais, cabras, cavalos… vacas! De tudo.
Na Serra do Alvão vi um boi enorme por um caminho e eu a ir, cansado, direito a ele a medo e a pensar! “Por favor não te vires a mim que eu já não tenho forças para fugir!”

Sempre observados

Durante o percursos fomos tendo sempre pessoal do STAFF que nos ia dando apoio e tentando perceber se estávamos bem… ao chegar a Amarante todos me batiam palmas, era impressionante!

Os vencedores

Warrior
Francisco Rosa – Barcelos Team Portugal – 3h 39m 30s venceu não só o Warrior, como foi o grande vencedor dos dois dias de competição na distância de 250 kms, Daniel Ferreira – Danbikes – 3:40;56 foi o 2º classifidado com o 3º lugar a ser conquistado por Tiago Clamote – Vasconha BTT/Vouzela.

Gladiador
Tiago Silva – Individual, foi o vencedor da etapa Gladiador, finalizando os 180 KM de prova com 9h 10m 38s, Francisco Rosa – Barcelos Team Portugal – 9:18;45 segiu-se-lhe em 2º lugar com o 3º a ser obtido por Nuno Oliveira – Vasconha BTT/Vouzela – 9:43;07.
Carlos Lopes – Black Bulls / Clube Condeixa / CNI / Neutura, foi o escritor deste artigo, colaborador assíduo de O Praticante e que declarou “Encarei esta prova como um desafio, queria muito terminar”

Spartacus
Francisco Rosa – Barcelos Team Portugal foi o grande vencedor geral, da Warrior e Spartacus, somando dois dias de prova, 250 KM, num desafio total de 12 horas, 58 minutos e 15 segundos, Nuno Oliveira – Vasconha BTT/Vouzela – 13:25;38 ocupou o lugar imediato e no ultimo lugar do pódio Pedro Nogueira – CGD – 14:00;47

Para Fernando César, director da prova, “O êxito do Mountain Quest 2016 é a constatação de que o legado de João Marinho será duradouro enquanto os que estiverem próximos da Nexplore saibam cuidar e entender as provas que ele criou, na mesma filosofia que foram desenhadas: generosidade, humildade, trabalho em equipa e cuidado com os pormenores. Na Nexplore não desenhamos provas, mas sim experiências vitais para o atleta. Não procuramos vencedores, mas sim pessoas satisfeitas pelo que acabam de viver”.

O sucesso do Mountain Quest serve também para introduzir a outra grande prova de BTT da Nexplore, a Sarcoin Douro Bike Race, uma prova por etapas que irá realizar-se nos dias 1,2,3 e 4 de setembro de 2016, em que a empresa decriptomoeda Sarcoin será o sponsor principal.

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Texto: Carlos Augusto
Fotos: Mountain Quest e Carlos Leite