André Martins “Perguntar-me-ão como é possível? A minha resposta é, com a mente”

Quem costuma participar em provas de estrada já se terá certamente cruzado com o atleta André Martins. A sua boa disposição contagia todos aqueles que com ele correm nas provas.

André Martins tem 39 anos, é natural de Famalicão e vive atualmente em Esmeriz e é um atleta de pelotão. Após ter estado à frente da secção de atletismo da Associação Desportiva de Esmeriz, fundou em 2016 um grupo de corrida na empresa onde trabalha a “TESCO TEAM RUNNING”.

Começou a correr na 3ª Edição da Corrida Famalicão – Joane. Naquela altura acabou a prova com muitas dores, mas a admiração que tinha por grandes nomes do atletismo como por exemplo, Rui Pedro Silva, fê-lo continuar.

Participou até hoje no total de 14 edições das 17 que já leva a prova, sendo um dos atletas com mais participações na mesma.

Hoje, participa em quase todas as provas na região norte e em 2016 completou 60 provas. Ou seja, participou pelo menos uma vez por semana numa prova e em outras, cerca de duas vezes. Chegando mesmo a fazer 5 provas num só fim de semana. Um número impressionante para um atleta amador.

André Martins

– De onde surgiu essa vontade de correr?

Bem, desde criança que gosto de atletismo, mas, como tinha primos que jogavam em clubes de futebol foi desviado um pouco para aí. No entanto sempre acompanhei as provas onde participavam os grandes nomes do atletismo português, como foi o caso da Rosa Mota ou da Aurora Cunha. O “bichinho” foi crescendo e o participar em provas escolares, ajudou.

Um dia, quando vinha da casa dos meus sogros de Guimarães para Famalicão fui obrigado a parar para deixar passar a corrida Famalicão-Joane. Era a 2º edição da prova. Nesse dia virei-me para a minha esposa e disse-lhe, “para o ano vou participar”. E no ano seguinte foi o que fiz. Confesso que me custou imenso de tantas dores que tive durante a prova, mas não desisti naquele dia nem nunca desisti de qualquer prova até hoje.

Para ter ideia da paixão que nutro pelo Atletismo – apesar de não treinar desde agosto do ano passado, altura em que fui operado às duas hérnias inguinais – os meus tempos vão caindo tanto nos 10km como nos 21km.

A primeira edição da meia-maratona de Guimarães também foi a minha primeira corrida nesta distância, tendo completado a prova em 2h36m, no passado dia 22. E na 19º meia Maratona de Viana terminei com o tempo de 1h31m. Como podem ver, entre a minha pior e melhor marca, tenho um diferencial de mais de uma hora. É simplesmente brutal! Perguntar-me-ão como é possível? A minha resposta é, com a mente.

19ª Meia-maratona Manuela Machado – 2017

– Há cinco anos atrás descobriu que sofria de Fibromialgia. Como concilia a corrida com a doença? Onde vai buscar força para enfrentar estas provas?

Foi numa consulta para a minha esposa que perguntei à recepcionista se conhecia um bom reumatologista e indicaram-me o Dr. Filipe Brandão que dá consultas no Hospital da CUF no Porto. Lembro-me que na altura já estava em desespero, tal eram as dores. E quem sofre desta doença sabe do que falo.

Felizmente, o Dr. Filipe Brandão era conhecedor da doença e tratou logo de mandar fazer uma série de exames e receitou uns medicamentos para aliviar as dores. Nessa altura já corria em algumas provas do concelho de Famalicão e cidades vizinhas, mas com dores insuportáveis.

Como diz o ditado “há males que vêm por bem”. Comecei a tomar os medicamentos de acordo com a prescrição do doutor e os resultados foram animadores. No início tinha que tomar 4 por dia, participava em provas e ao mesmo tempo ia melhorando. Então reduzi para 2 até que um dia disse para mim mesmo, “a partir de hoje não tomo mais nenhum e vou correr cada vez mais”. E assim tem sido desde o ano de 2014, em várias provas. Em 2015 foram 50, e em 2016 realizei 60. Para o ano de 2017, a meta é de 70 provas. Concluindo, deixei de tomar comprimidos e comecei a utilizar mais a mente, que para mim é a maior força que temos.

Com os problemas físicos que tenho, subir ao pódio é-me uma tarefa difícil, mas não impossível. De tal forma que no dia 17 de julho de 2016, subi ao 2º lugar da Geral do 1º Trail de Famalicão by Eugénios Heath Club

1º Trail de Famalicão VY Eugénios Heath Club – Vila Nova de Famalicão – 2016

– Trabalha cerca de 60 horas por semana e participa em provas. Como consegue arranjar tempo para treinar?

É uma boa pergunta, mas com uma resposta muito simples…. não treino! Eu trabalho na empresa TESCO e também tenho um part-time no Intermarché de Famalicão durante a semana e ao fim de semana. Se tiver provas ao sábado de tarde trabalho de manhã, e se tiver prova ao domingo de manhã, trabalho de tarde. Por exemplo, no dia da Maratona do Porto fiz a prova de 42 km de manhã e fui trabalhar de tarde.

Maratona do Porto – 2016

– Em 2014 participou em 30 provas, em 2015 foram 50 e em 2016 concluiu 60. Quais os objetivos e sonhos para 2017?

Como já referi anteriormente o meu grande objetivo para 2017 é mesmo terminar o ano com 70 provas concluídas. Entre elas a meia-maratona de Genebra na Suíça, e fazer as duas Maratonas de Portugal. A de Lisboa e a do Porto.

Seria o realizar de mais um sonho, sabendo que elas estão separadas por apenas três semanas uma da outra. O que para um fibrocitológico é um grande desafio.

Corrida do Aeroporto – Lisboa -2016

– Sendo já conhecido de muitas organizações desportivas, é-lhe atribuído muitas vezes o Dorsal VIP. Como lida com a pressão de partir ao lado de grandes figuras portuguesas do atletismo, na linha da frente?

Bem, na verdade não são tantos Dorsais VIP assim. O que é certo é que me posiciono quase sempre na frente do pelotão. Daí muitos atletas de elite me conhecerem pela simpatia e boa disposição que tenho sempre nas provas, e claro, ao saberem da minha doença faz com que admirem a minha coragem. Desde já, agradeço a todos eles.

Corrida de Ano Novo – Esposende – 2017

No fundo quero mostrar a todos que tudo é possível e devo muito ao Atletismo onde não existe clubismos como no futebol.

– O que aconteceu o ano passado a pouco metros da meta da 13ª Maratona do Porto? O que sentiu naquele momento?

Participar numa maratona não é para todos e então terminar, é algo que provoca uma sensação indescritível.

Já completei duas maratonas em 2014 e 2015. Mas a de 2016 foi muito penosa, pois ao km 26, comecei a sentir muitas dores musculares e foi assim até a meta. Ao chegar a poucas dezenas de metros, os músculos das pernas bloquearam por completo, fazendo-me cair de joelhos como as fotos o demonstram. Foi um momento que nunca mais vou esquecer. Agradeço à assistente da prova e a um atleta que me levaram até a meta da chegada.

Mas uma coisa é certa, em 2017 lá estarei novamente. A corrê-la e a terminar de pé!

Maratona do Porto – 2016

– Como surge a Tesco Team Running? Quais os objetivos deste grupo? O grupo já teve oportunidade de organizar uma corrida?

A Tesco Team Running nasceu por ter verificado que alguns colaboradores do sitio onde trabalho participavam em provas como “individual” e na prova de São Silvestre de Esmeriz (edição 2016) da qual fui diretor constatei a presença cerca de 20 atletas/colaboradores a correr.
Foi então que decidi fundar a Tesco Team Running no dia 31 de janeiro de 2016. E ao longo do ano fomos participando em algumas provas. A motivação do grupo foi crescendo e consolidou-se. Hoje corremos com a camisola da Tesco Team Running.

Tesco Team Running

A administração soube da minha paixão pela corrida e da participação em várias provas e propuseram-me que realizasse uma prova de atletismo nas instalações da TESCO. Abracei de imediato o desafio que me foi lançado e em menos de três semanas – num tempo recorde – organizei para que no dia 3 de dezembro de 2016 se realizasse a 1ª Corrida/Caminhada Solidária TESCO 2016, a favor da associação a ASSAS – Associação de Solidariedade e Ação Social de Santo Tirso, que a empresa apoia. Mas também quis associar a esta corrida a Cruz Vermelha de Ribeirão.

Compareceram cerca de 120 atletas, um número francamente animador para uma prova realizada em tão curto espaço de tempo.

Com um ano de existência e já com uma prova de atletismo organizada, a vontade em prosseguir este projeto tornou-se grande. E não só pelo atletismo, mas também por outras modalidades, nomeadamente o BTT e o Futsal Masculino e Feminino.

1ª Corrida/Caminhada Solidária TESCO 2016

– Vai participar pela primeira vez na IIIª Meia-maratona de Amarante, quais são as expectativas?

Com pena minha não pude estar presente nas duas edições anteriores, mas este ano lá estarei com todo o gosto. Os meus amigos dizem-me que a prova é muito bonita, e que se realiza numa cidade lindíssima.

Quanto às expectativas, espero fazer um bom tempo. Seria entre 1h30 e 1h40. Mas o principal objetivo é confraternizar com os muitos amigos que fui e vou fazendo neste desporto. Espero que seja mais uma grande festa do Atletismo.

IIIª Meia-maratona António Pinto a contar para a 70 provas a realizar em 2017

Texto: Davide Pinheiro

Parceiros