Hélder Mestre “O Recorde Mundial surgiu como reflexo da preparação para a Taça do Mundo”

Hélder Mestre bateu este domingo, no decorrer na Meia-Maratona de Lisboa, o recorde do Mundo da distância na classe T51/52.

Hélder fixou o máximo mundial da Meia-Maratona em 1:08:21 horas, juntando à marca a vitória da Meia-maratona de Lisboa em cadeira de rodas T51/52 e o título de Campeão de Portugal de Estrada 2017.

A sua preparação tinha como objectivo superar o recorde mundial?

Na verdade, a marca alcançada no domingo é o resultado de um projeto desenvolvido pelo meu treinador e por mim, cujo objetivo era a participação na Taça do Mundo de Maratona, que se vai realizar no próximo mês de abril, em Londres. O Recorde surgiu como reflexo desta aturada preparação.

Que preparação específica desenvolveu para obter este resultado?

A preparação desenvolveu-se ao longo de 4 meses. A carga quilométrica e de intensidade foi variando mas teve sempre em atenção os objetivos que haviam sido previamente definidos: a participação na Maratona de Sevilha, Meia Maratona de Lisboa e Taça do Mundo de Maratona em Londres. Os treinos incluíam ginásio, treino longo e também treino intervalado sob a forma de fartlek.

Como se sentiu fisicamente durante a competição, e como reagiu psicologicamente no decorrer da mesma?

Curiosamente, tive sempre boas sensações durante toda a prova e tenho mesmo dificuldade em apontar um período de maior dificuldade. Ao escrever estas linhas recordo-me que o último troço, após o retorno, foi aquele em que senti mais pressão. Tal deveu-se à mudança brusca de andamento e ao efeito do vento contrário sobre o ritmo em que até então seguia, a juntar ao cansaço que entretanto acumulara. A juntar a essa pressão, a consciência de que estava a realizar uma boa prova e que não podia deitar tudo a perder. Penso que psicologicamente tive uma abordagem muito otimista do desafio que é percorrer 21 kms. Impus a mim mesmo um ritmo intenso desde início e lutei por mantê-lo nos períodos em que o vento contrário era mais forte ou que a estrada estava em piores condições.

Qual foi a sua reação ao tomar conhecimento de ter superado o recorde mundial em mais de 18 minutos?

A sensação foi de uma grande satisfação. Foi o reconhecimento de um trabalho bem feito e com um resultado pleno, ao qual tenho que agradecer o empenho e dedicação do meu treinador.

Foto de: Marcelino Almeida | Maratona Clube de Portugal

Qual o próximo desafio?

O meu próximo desafio seria, supostamente, a já referida Taça do Mundo de Maratona, em Londres, no próximo mês de abril, pois foi com esse objetivo em mente que todo o trabalho foi desenvolvido. Contudo, o International Paralympic Committee (IPC), que é a entidade que gere a atividade competitiva na área da deficiência entende que os atletas da minha classe têm que fazer os mínimos correspondentes à classe superior. Quer dizer, os mínimos não estão definidos de acordo com as caraterísticas e limitações da classe em que compito mas sim de uma classe com menos limitações. No caso da maratona estes situam-se em 2h30. Ora em Sevilha realizei 2h31! Assim sendo, o IPC entende que não reúno as condições exigidas para a referida participação. Este facto sucede apesar de a Federação Portuguesa de Atletismo (FPA) e do Comité Paralímpico Português (CPP) terem enviado pedidos a solicitar a minha participação. Espero, no entanto, que a marca conseguida na Meia Maratona de Lisboa leve a reconsiderar esta decisão.

Que preparação vai desenvolver para esse teu próximo desafio?

Partindo do pressuposto que a participação se irá concretizar em Londres, vou continuar a cumprir o plano de treinos delineado pelo treinador, conciliando e articulando com a atividade profissional. Paralelamente, tento cumprir um regime alimentar equilibrado, conjugado com o necessário descanso.

Considera que este resultado irá abrir portas para obter mais apoios?

Gosto de pensar que sim, embora reconheça que na área da deficiência existem ainda muitas resistências mentais que impedem uma plena participação desta comunidade em todas as atividades sociais. Gosto também de pensar que estes resultados ajudam a derrubar essas barreiras e a desvanecer o fosso que ainda existe.

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