Hugo “Espigão” Carvalho – “A vida são dois dias”

Pai, Marido, Enfermeiro, 38 anos de idade, betetista há mais de 20 anos… assume-se como um grande apaixonado da modalidade numa ligação intensa diária com a sua bicicleta todo o terreno, usando-a como meio de deslocação para o trabalho, treino, para as “missas” de Domingo, um vício praticamente de toda a família. Estamos à conversa com o Hugo “Espigão” Carvalho.

– Hugo “Espigão” Carvalho… porquê “Espigão”?

R: Pela altura dos espigões que tenho usado nas minhas bicicletas. Tem sido difícil encontrar quadros para a minha medida de perna (quase 1m) e depois os espigões evidenciam-se mais… este nick surgiu se bem me recordo na clássica Alvalade-Porto Côvo.

Hugo Espigão Carvalho

– Como surgiu o vício do BTT?

R: Vivi por mais de 20 anos lado a lado com um dos maiores paraísos para a prática de BTT, a Serra da Arrábida e foi aí que desde muito novo me iniciei nas pedaladas nos trilhos. Claro que há 30 anos atrás as bicicletas eram de tudo menos de BTT mas era o que havia e lá me aventurava assim.

Hugo Espigão Carvalho

– Qual foi a primeira prova BTT?

R: Tinha 15 anos quando comprei a minha primeira BTT ou mais digna desse nome. Lembro-me que tive de me aplicar e bem nas férias para juntar 50 contos, o valor de uma Alpestar totalmente rígida, travão cantilever, pedais de plataforma, quadro e garfo em aço-cromoly. Foi com esta máquina que fiz a minha 1ª prova oficial de BTT (XCO) onde é o hoje o Parque da Paz em Almada. Corria o ano de 1993.

– Fizeste uma grande pausa nas pedaladas após esses primeiros anos de BTT em Portugal. Outros objectivos?

R: Estava a concluir o 12º ano e concorri a alguns concursos. O trabalho que tinha na altura também não me deixava muito tempo livre para as pedaladas. Em 1996 entrei para a Marinha e vieram mais uns cursos, navegações mas nunca deixei de pedalar. O tempo para treinar e fazer provas é que era escasso. Só por volta do ano de 2003 é que veio mais alguma estabilidade com o Curso de Licenciatura em Enfermagem e regressei então por essa altura às maratonas até aos dias de hoje sem mais parar de pedalar. De 2006 a 2008 voltei a ter menos tempo para o vício (navegações) mas a BTT andava sempre comigo. 2009 e aí sim voltei mais em força ao vício e foi desde aí até hoje que consegui encher mais a minha garagem de troféus e boas recordações de grandes Organizações de eventos.

Hugo Espigão Carvalho

– Não tens qualquer título nacional ou internacional, no entanto deves ser dos atletas a nível nacional da modalidade com mais troféus por casa. Nunca pensaste em objectivos mais altos?

R: Já fui federado em 4 épocas e nessas 4 épocas tive alguns azares que não me permitiram chegar mais longe. É verdade que também sempre gostei de levar este vício mais numa de prazer do que propriamente andar a fazer sacrifícios, restrições, abdicar de tempo com os Amigos e Família que são o melhor nesta vida, em prol de algo que mesmo que me levasse a algum título nunca daria para viver de… No entanto nessas vezes em que estive federado tive de fazer esses sacrifícios e preparei-me bem pois só assim se consegue andar pelo menos ao mesmo nível dos adversários.

– Dá para perceber bem que és um amante da nossa gastronomia/doçaria. Esse vício que também tens não é um pouco incompatível com o vício do BTT?

R: Com o vício de pedalar não! Com “vício” de fazer boas prestações/bons resultados é bastante incompatível. No entanto com moderação é possível fazer à mesma esses bons resultados o problema é que não sou nada moderado e vivo a vida neste capítulo como se o amanhã não existisse.

– É um dos teus lemas “a vida são dois dias” pois já apanhaste uns bons sustos ao longo dela. Queres contá-los?

R: Não sairia daqui. Todos os dias apanho sustos no trânsito e já fui atropelado duas vezes por culpa dos condutores, uma dessas vezes fiquei muito mal e nem sei como sobrevivi. Prefiro nem recordar. Da 2ª vez também tive bastante sorte pois quando me bateram (não pararam num STOP), após a queda fiquei com a cabeça em cima do separador da estrada. Mais uns cm para o outro lado e já aqui não estava.

– Achas que novo código da estrada protege mais os ciclistas?

R: Nada nos protege na estrada. Ali somos sempre o elo mais fraco é pena que a grande maioria dos condutores não consiga ver isso. Apesar das novas regras serem mais “simpáticas” para a nossa parte é raro o condutor que as conheça e muito menos as respeita. Penso que não temos lugar nas nossas estradas (pela nossa segurança) por isso adopto uma condução o mais defensiva possível. Afasto-me o máximo das estradas utilizando sempre as bermas (quando existem), não tenho problemas em dizer que só paro em alguns semáforos, há outros que nem me atrevo a fazê-lo como por exemplo os de excesso de velocidade onde por várias vezes quando parei nos mesmos iam-me varrendo da frente e nos restantes quando paro no vermelho, não espero pelo verde arrancando uns segundos antes porque se arranco ao mesmo tempo dos condutores é normal levar com eles em cima. Todas as restantes regras cumpro-as todas. Dei só alguns exemplos da tal condução defensiva. É triste mas é que temos ou antes, o que somos. Também sou automobilista, tenho dois carros em casa, pago impostos dos mesmos isto só porque é normal também vir à discussão a questão do porquê de uma bicicleta não pagar imposto, como se um veículo não poluente, que não danifica alcatrão/pavimentos, que não provoca congestionamentos, que promove a saúde e o bem-estar da população, etc… tivesse de pagar imposto mas é assim que infelizmente muitos pensam.

Hugo Espigão Carvalho

– Voltando aos treinos/provas, o teu método de treino não é muito ou mesmo nada vulgar. Sei que não tens bicicleta de estrada, treinador, não usas pulsímetro, nem conta-km tens, nunca fizeste uma avaliação física, um bike-fit, não controlas FC´s e há pouco disseste que nem sequer uma massagem recebeste até hoje. Não consideras estes e outros aspectos importantes para quem tem como objectivo andar no topo dos pódios?

R: Claro que são importantes mas não é por isso que tenho deixado de vencer maratonas. Aqui também tenho um lema: “treino duro, combate fácil”. A minha BTT de treinos pesa 18kg onde cada roda pesa 3kg e para conseguir cadências mais pesadas e maior força/endurance nos treinos uso um prato de 48T único. Quanto ao resto, se não tivermos cuidados com alimentação e com o descanso (não tenho nenhuns), não vale a pena ter nada do resto. O que referi atrás implica um bom investimento não só de tempo mas ainda mais monetário. Sou feliz assim e tenho os resultados que desejo…

Hugo Espigão Carvalho

– Quantas horas treinas por dia?

R: Geralmente não passo mais de duas horas em cima da bicicleta diariamente. Com a BTT que referi atrás, duas horas parecem quase cinco… ainda mais tratando-se de 2 horas bem intensas.

– Há uns anos fizemos uma sessão fotográfica neste mesmo “palco” e a bicicleta que tinhas era Olympia, uma marca em que foste parte responsável pela forte introdução, publicidade e vendas da marca em Portugal. Acabou essa relação?

R: Nenhuma relação termina. Estou e estarei sempre recetivo a novas experiências. A Jorbi foi também uma das marcas que me ajudou esta época e como tal estou a retribuir essa ajuda.

– Marca nacional certo?

R: Sim, mais uma motivação para mim representar uma marca nacional e com um grande nível de qualidade e preços bem abaixo da média das marcas estrangeiras. Fábrica nacional, onde fazem por exemplo um magnífico trabalho de pintura utilizando simplesmente as melhores tintas do mundo, grande linha de montagem, grande profissionalismo, uma bem unida e trabalhadora equipa que já tive o prazer de conhecer e ainda mais o prazer de conhecer o patrão da casa, o Amigo Jorge.

Hugo Espigão Carvalho

– Será a marca eleita para 2017?

R: Tenho quase a certeza embora como disse, estou e estarei sempre aberto a novas experiências.

– Falando em apoios, manterás os mesmos desta época ou haverão também novidades?

R: Novidade talvez só mesmo em equipamentos passando a usar a marca Giordana de resto, RaceOn Componentes também da Jorbi, componentes com uma excelente relação qualidade/preço, Selins Gelu Carbon Creation, 60gr de alto rendimento como também os seus espigões, Progold lubrificantes, os mais eficazes usados até hoje, Force Components, SNV CNC outra grande marca nacional, Balek Air, o rei da personalização.

– E equipa para 2017?

R: Apesar de algumas propostas continuarei para já a representar a JORBI. Neste momento (e como sempre) a minha prioridade é a família que para breve irá crescer com mais uma ciclista a juntar ao Rafael de 4 anos e à Mãe também viciada nestas andanças.

Obrigado Hugo e boas pedaladas!

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Fotos: Miguel David

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