Tiago Aires “Uma vida de desporto”

O Praticante teve a oportunidade de falar com o Tiago Martins Aires, um atleta de 34 anos, muito conhecido na Orientação pelos seus feitos e agora no Trail. É Licenciado em Educação Física e Desporto, e é Cartógrafo,Treinador, Formador e Organizador de estágios e eventos.

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Foto de: Miro Cerqueira / Prozis

Entrevista

Como começou a praticar desporto?

Desde muito cedo que pratico desporto, comecei pela natação mas também pratiquei ginástica, minibasquete , futebol, judo, remo, escalada. Até aos 14 anos fui uma criança doente, como principal limitação eram as minhas crises asmáticas, essa era uma das razões pelo que o meu pai me colocava a praticar desporto. De todas as modalidades que fui praticando nunca tive destaque em nenhuma, e lembro-me que muitas vezes era um sacrifício ir aos treinos, excetuando o futebol. Quando experimentei orientação pela primeira vez em janeiro de 1998, percebi logo que este era o meu desporto. A Orientação é como que um jogo altamente completo, sempre em espaços desconhecidos onde cada ponto é um novo desafio em que temos uma nova oportunidade.

Como se prepara para a orientação?

Um atleta de orientação em Portugal infelizmente na maioria dos casos no seu dia a dia apenas treina o aspeto físico deixando o treino técnico ou tático de leitura de mapas em todo o terreno para os estágios e treinos de fim-de-semana. Eu consegui desde cedo ter o privilégio de treinar em floresta com mapa quase diariamente, devido á minha profissão e local onde vivi e estudei (Alentejo).

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Enquanto treinador de orientação o que tenta mostrar aos seus atletas?

Tento primeiro que tudo dar as ferramentas básicas para que possam compreender o mapa da melhor forma possível, bem como o tentar transmitir o prazer que é sentir a liberdade de navegar por nós próprios por essas florestas. Fico muito satisfeito quando vejo que muitos que se iniciaram comigo na orientação há muitos anos, depois de terem estado afastados por diversas razões após estabilizarem as suas vidas profissionais e familiares voltam a praticar orientação.

Como é ser cartógrafo e ao mesmo tempo atleta?

Foi uma escolha que fiz desde cedo, mas claro que não é fácil pois o trabalho de cartografia é um trabalho desgastante fisicamente, visto que exige estar muitas horas diárias a caminhar para identificar e marcar as referencias que existem no terreno. Mas por outro lado permite-me estar diariamente perto de locais com excelentes condições para treinar e ao ser freelancer permite-me gerir melhor os meus horários bem como gestão de estágios e competições.

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Como apareceu o trail na sua vida?

Eu já fazia provas de montanha esporadicamente como treino para a Orientação há muito tempo, ainda nem havia o trail pelo menos como conhecemos hoje. Participar no trail especificamente foi também com esse objetivo de fazer um treino adequado parte física da orientação. Mas quando participei no trail Vicentino da Serra em Portalegre (janeiro 2016) e percebi que tinha ganho uma prova do campeonato nacional de trail, muita coisa começou a mudar desde então.

Como é possível ter começado a praticar trail logo a vencer provas?

Eu já vencia há muitos anos provas de orientação e faço parte da seleção nacional de Orientação há muitos anos. Treino bastante há muitos anos e tenho bem a noção do quão similar é o tipo de esforço e o espaço onde decorrem ambas as atividades. Os atletas de orientação terem resultados no trail é algo perfeitamente normal eu não sou o único caso em Portugal e tenho a certeza que nos próximos tempos haverão mais atletas a fazer este “tranfer”, mas a nível intencional isso já acontece há muito. Exemplo disso é o Ionut Zinca (2º classificado por duas vezes no ranking final do skyrunning), Françoais Gonon (campeão europeu do Quilómetro Vertical 2015), Baptiste Rollier (vencedor da Marathon du Mont Blanc e vencedor e recordista da The Otter African Trail Run).

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Foto de: Miro Cerqueira / Prozis

Como foi a sua primeira experiência numa Ultra?

Apesar de praticar trail há pouco tempo e de ter subido rapidamente de distâncias, penso que a progressão conseguiu ser equilibrada, pois nunca senti que tivesse dado um passo maior que as minhas pernas até ao momento. Quando o treino corre bem é ajustado e progressivo a competição é apenas o momento em que colocamos em prática as nossas capacidades físicas.

Como faz para todos os fins-de-semana dar o melhor e vencer provas?

Acredito que o treino invisível é muito importante, aspetos como o repouso, flexibilidade, alimentação, e outros.
Um atleta se quer tentar chegar mais longe deve preocupar-se em limar arestas e trabalhar os seus pontos fracos.

O que seria para si um trail perfeito?

É uma resposta difícil, mas um fator que me parece importante é o percurso desenrolar-se em trilhos de pé posto (single track) que passem por paisagens variadas e deslumbrantes, desde bosques imponentes, montanhas, desfiladeiros, ribeiros etc.. Quanto à distância não é um fator fundamental acho que se conseguirmos ter os fatores anteriores tanto faz se o percurso tem 20km ou 100km ambos são fascinantes de correr, num a intensidade é obviamente mais elevado, mas não temos que gerir tanto o ritmo e os fatores mentais e de alimentação associados às provas de ultra distancia.

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Foto de: Miro Cerqueira / Prozis

Qual foi a prova que acabou a dizer “nunca mais volto a fazer a prova” (devido à dureza ou outro fator), mas acabou por voltar ou está a pensar em voltar a faze-la?

Penso que isso é uma reação normal em quase todos os participantes em ultras quando terminam após terem por alguma razão sofrido e quebrado na parte final da prova. Eu felizmente ainda não senti isso na totalidade.

História mais engraçada que teve até hoje?

Em 2013 estava a trabalhar em Monte Gordo e no Hotel à hora do jantar estava na mesa ao lado um casal de estrangeiros a olhar para um mapa. Fiquei curioso, pois parecia um mapa de orientação, mas o que nunca imaginei é que fosse possível eles estarem a olhar para um mapa que tinha sido feito por mim a mais de 300km (Punta Paloma , Espanha) e onde tinha decorrido uma prova para o Ranking Mundial nesse mesmo dia de manhã.

Qual é o maior sonho?

Ser campeão do mundo de Orientação no escalão Homens com mais de 90 anos.
Porque era sinal que com 90 anos tinha saúde a todos os níveis. Quer fisicamente quer cognitivamente e a fazer desporto, que se pode querer mais? Só ter a família e amigos comigo nesse momento

Qual o objetivo para o Campeonato do Mundo de Trail?

É difícil fazer um prognóstico, sem nunca ter estado antes num evento destes, na orientação para mim é mais fácil dizer que um resultado no top30 na distância longa seria um ótimo resultado, no trail honestamente não sei onde as minhas capacidades físicas se encaixam.

Palmarés

Orientação

Títulos Nacionais Orientação e Montanha:

  • Quatro vezes campeão nacional júnior de orientação
  • Duas vezes campeão ibérico júnior; onze vezes campeão nacional de Elite
  • Duas vezes campeão ibérico sénior
  • Uma vez campeão latino sénior
  • Terceiro classificado no campeonato nacional de montanha em 2013.

Participações Internacionais Orientação:

  • Junior Orienteering Championship (1x)
  • JWOC2002 (Espanha)
  • World Orienteering Championship (6x)
  • WOC2003 (Suiça), WOC2004 (Suécia), WOC2006 (Dinamarca), WOC2007 (Ucrânia), WOC2010 (Noruega), WOC2013 (Finlândia)
    European Orienteering Championship (3x)
  • EOC2004 (Dinamarca), EOC2010 (Bulgária), EOC2012 (Suécia)

A destacar nestas participações a presença na Final A do Mundial de Juniores 2002, sendo o primeiro atleta nacional a consegui-lo e mais duas presenças nas Finais A dos Campeonatos do Mundo em 2013.

Trail Runing

Nas treze provas que participou em Portugal até ao momento, venceu a classificação geral em onze.

Provas e Resultados:

  • Trail Cidade de Estremoz 2015 (30Km) –
  • Trail Cabo Espichel 2015 (30Km) –
  • Trail Centro Vicentino 2016 (42Km) –
  • Poiares Trail 2016 (30Km) –
  • Trail Conímbriga Terras Sicó (25Km) –
  • Trail do Paleozóico (42km) –
  • Ultra Trail do Piodão (50Km) – 2º
  • Trail de los Pastores (Espanha) (40km) – 11º
  • Estrela Grande Trail (90km) –
  • Azores Trail Run (48km) –
  • Trail de Sesimbra (21km) –
  • Ecologic Trail Run Azores (38km) –
  • Ultra Trail Serra da Freita (100km) – 4º
  • Trail das Poldras (36km) –

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Fotos de: Miro CerqueiraProzis

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