Trail dos Negalhos por terras de Almalaguês

trail dos negalhos

Negalho é um prato típico do concelho de Miranda do Corvo derivado da chanfana. É também confeccionado em vários pontos da Beira Litoral e Beira Interior com pequenas variações entre regiões.

Consta que a origem do negalho remonta à época da terceira invasão francesa. Estando a rarear a carne porque os franceses roubavam os rebanhos, a população teve de aproveitar tudo, inclusivamente as tripas dos animais cuja carne utilizava habitualmente na sua alimentação. Experimentaram, então, cozinhar as tripas segundo a receita da chanfana e deu resultado. É um prato típico muito apreciado.

E Negalho deu origem à Confraria de Negalho, que surgiu como “COPUSTULIA” uma tertúlia composta por 14 homens.

Copustúlia vem da junção de três palavras, Opus (é uma expressão do Latim para designar trabalho (obra). É utilizada em várias áreas, nomeadamente a música.),Tertúlia (evento social, festa/ Tertuliar: reunir-se; encontro amigável) e por último, mas não menos importante, vem a palavra Copos (calculo que não seja necessária qualquer explicação para o porquê desta palavra).

Foi este grupo que deu origem à Confraria dos Amigos do Negalho e da Freguesia de Almalaguês, devidamente registada a 4 de novembro de 2011.

Esta Confraria, também designada de CANFA, é uma associação sem fins lucrativos e sem subordinação a ideologias políticas ou religiosas. Tem como objetivos principais a promoção, divulgação e defesa de todos os valores culturais da freguesia de Almalaguês, designadamente o Negalho e outros produtos culturais, em particular, a gastronomia, a tecelagem e a vitivinicultura.

Negalho é o símbolo maior da confraria, porque ele próprio nasceu à revelia, como recurso, como alternativa, como reação, e é, por isso, símbolo de sobrevivência e de empreendedorismo. Contudo, foi, até agora, considerado um elemento menor e desvalorizado na gastronomia da região.

Efetivamente, o Negalho constitui assim uma força, uma energia e um estímulo para a afirmação da identidade daqueles que amam verdadeiramente as terras de Almalaguês.

E foi desta confraria que saiu a ideia da realização do Trail dos Negalhos por terras de Almalaguês (facebook), que levasse as pessoas a conhecerem a região, os seus pratos típicos e valores culturais, aliando ao trail, um fim de semana de turismo, de festa, com uma pequena feira com barraquinhas para todos os gosto, estando incluído nela uma zona de restauração que era uma autentico festival gastronómico.

E foi neste contexto que a equipa de O Praticante se deslocou até lá e valeu, bem valeu a pena pelo fim de semana de convivio e, claro está, também pelo Trail, pela adrenalina de mais uma prova superada.

negalhos06
Partida dos 25 kms

Domingo, 7h da manhã a equipa de O Praticante foi acordada pela chuva que batia forte nas janelas do local onde pernoitaram, fazendo prever uma bela prova debaixo de chuva. Pouco a pouco a chuva acalmou, até que se deu a partida dos 25 kms. Quando se iniciava a prova e era dada a partida, heis-que S. Pedro baptizou todos os participantes com cerca de 10m de chuva com bastante intensidade, o que deixou todos os participantes menos precavidos uns autênticos pintos molhados. Percorridas as ruas da localidade, entrou-se no campo, cujos caminhos se transformaram em ribeiros, em caminhos lamacentos, começando assim o grande teste às capacidades físicas de cada participante.

Ao Km três, encontraram a Torre de Bera, uma pequena aldeia da freguesia de Almalaguês, conhecida pela sua participação no célebre concurso de 1938 de “aldeia mais portuguesa de Portugal”, no qual ganhou o título de segunda aldeia mais portuguesa de Portugal, tendo disputado o primeiro lugar com Monsanto (a aldeia vencedora).

Torre de Bera, que remonta talvez ao século X, em termos de toponímia, surgiu graças à edificação de uma pequena atalaia militar da época da reconquista cristã e à proximidade com a aldeia de Bera, também em Almalaguês – Coimbra. Bera, por sua vez, cedeu o nome a uma série de aldeias circundantes, tais como Monte de Bera, Torre de Bera, Outeiro de Bera.

Negalhos

E prosseguiram por trilhos técnicos, campos cultivados, subindo e descendo vales até que chegaram ao segundo abastecimento colocado ao km 14 onde se situa a Fonte do Calvo, que existe há mais de 100 anos, sendo bastante importante a água daquela nascente para a população de Almalaguês desde o século passado até aos dias de hoje.
As pessoas da freguesia de Almalaguês recorriam muito à Fonte do Calvo pois é a que possui melhor qualidade de água e uma das mais próximas da população. A água da fonte foi, ainda como é hoje, utilizada sobretudo para consumo doméstico – beber e cozinhar – e para lavar roupa mas, antigamente, servia também para se tomar banho, pois não existia água canalizada. Tradicionalmente, a população de Almalaguês fazia romarias à Fonte do Calvo. Destaca-se a célebre ida dominical, após a missa, onde rapazes e raparigas faziam o percurso de ida e volta juntos, aproveitando para “namorar” naquele espaço de tempo, tendo sido na fonte que muitos casamentos da freguesia de Almalaguês se “arranjaram”.

Logo a seguir ao km dezasseis, um pouco afastada da localidade de Almalaguês, encontraram a capela de Nossa Senhora da Alegria, que resulta da reconstrução setecentista da ermida original, edificada em 1634 e que, por sua vez, havia sido erguida no local de uma torre medieval.
Se ao nível exterior a capela surge muito depurada, com o portal encimado por frontão triangular e por uma janela gradeada, o interior destaca-se pela profusa decoração barroca que encerra. A nave apresenta dois altares com retábulos de madeira pintada, mas é na capela-mor que se concentram os elementos decorativos, conjugando os caixotões pintados do tecto com o retábulo barroco, dourado em 1875 e os azulejos azuis e brancos, de meados do século XVIII e de fabrico coimbrão, alusivos a cenas da vida da Virgem.
A capela é ainda valorizada pela devoção dos fiéis, bem visível nos ex-votos retratando os milagres de Nossa Senhora da Alegria.

negalhos04

E continuou-se a prova atravessando ribeiros, onde os nossos amigos fotógrafos se colocavam estrategicamente esperando que a qualquer passo em falso se dessem quedas para mais tarde recordar. Tendo tido por várias vezes a A13 como companhia, ora subindo até ao seu nível superior, através dos escoadouros de água, ora descendo a seu lado. Não existem palavras para descrever a beleza que é proporcionada a quem corre na natureza, ora quando atingimos os picos dos montes, das serras que percorremos e a nossa vista alcança, aquela linha imaginária onde a terra se junta ao céu, aquilo a que chamamos horizonte… fica-se sem palavras.

negalhos01

As vinhas que na parte final cruzaram em direcção à meta, exigiram aos atletas um esforço suplementar, o terreno estava totalmente barrento, a terra, a lama colava-se às solas das sapatilhas, criando uma nova sola, e deixando as mesmas de ter aderência, noutros locais parecia cola, tendo de se fazer força para arrancar os ténis do solo, mas nada de quem gosta verdadeiramente de “Trail”, que vive, que respira, que tira prazer desta modalidade, não supere.

E a organização na parte final, porque ainda não se tinha feito muitas subidas, brindou com mais algumas voltas em redor da localidade para que a ficassem a conhecer melhor.

Houve alguns pormenores, pequenos, que podem ser melhorados mas que não tiveram influência no êxito que foi o evento. A cronometragem foi feita pela Offcrono, os abastecimentos foram em quantidade, e qualidade, mais que suficientes, inclusive havia locais “estratégicos” fora dos abastecimentos em que elementos do staff tinham garrafões de água para que ninguém passasse sede.

 

Negalhos05
Isabel Primo e Catarina Lapa

Uma palavra de apreço, de agradecimento às colegas de corrida Isabel Primo e Catarina Lapa – Coimbra Trail Running, pelo trio que formaram com o nosso representante, apoiando-se mutuamente durante a prova.

Os vencedores desta segunda edição foram:

Nos 15 Kms (196 participantes) Nelson costa – Mundo da Corrida – 1h18m38s foi o vencedor, com o lugar imediato a ser obtido por José Sequeira – Montanha Clube Trail Running / Runners – 1:20;53 e o seguinte por Orlando Pires – Associação Recreativa de São Miguel – 1:20;53, em femininos a vitória foi para Dina Rocha – Coimbra Trail Running – 2:00;56, Lina Francisco – CA Barreira – 2:03;28 em 2ª, Sónia Gaspar – Associação Recreativa de São Miguel – 2:04;50 ocupou o ulitmo lugar do pódio.

25 Kms (100 participantes) tendo o vencedor sido Jorge Aires – CA Barreira – 2h31m26s, seguido a curta distância de Paulo Serra – Team Saltaypula – 2:32;51 e de Pedro Mendes – Coimbra Trail Running – 2:39;12, nesta distância também marcou presença o conhecidissimo Luís Mota – Casa Benfica Abrantes, em preparação para o OH Meu Deus, obtendo o 5º lugar – 2:45;32, a equipa de O Praticante obteve por Carlos Figueira 92º da geral – 5:18:07 e David Silva – 95º G – 5:34;31.
Maria antonieta Sá foi a vencedora com 3:40;41, Tânia Batista – Coimbra Trail Running – 3:45;51 ocupou o 2º lugar, e Sara Silva – Colnatur – Especialistas em Colagénio – 3:51;57 a ocupar o 3º.

Resultados e diplomas disponíveis aqui.

Visualize mais fotos de Fotosdozé aqui.

[divide icon=”circle” width=”medium”]

Texto: Bruno Rosa / Tiago Salgueiro / Henrique Dias
Fotos: José Gonçalves – Fotosdozé

Parceiros