Urban Trail da Coruja mete todos a mexer

Quem não conhece, até pode duvidar que aquela vila entalada entre o Riba e o Alem Tejo seja um sítio cheio de vida e atividade, mas é. Quem não conhece, pode não reconhecer à primeira o potencial humano concentrado à beira do Sorraia, mas ele está lá. Quem nunca passou as 7 pontes, entrou na vila pelo Sul e perdeu o olhar naquela encosta, quem nunca desceu de Santo Antonino e confundiu o verde do horizonte alentejano  com o azul dos campos de arroz inundados, quem nunca fez isso até pode achar que aquela é vila como as outras, mas não é. Coruche é especial, e eu até podia fazer uma crónica isenta e factual, mas não me apetece. Ao longo dos ano, Coruche conquistou um lugar no meu coração, assim como esta corrida o fez naquela noite.

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Ao fim deste tempo todo já não me devia espantar com a dinâmica dos habitantes de Coruche quando se unem por um objetivo, mas ainda não foi desta. Comandados pelo Tó Serrão, um filho da terra com um sério problema de hiperatividade, os coruchenses  abriram mais uma vez orgulhosamente a sua vila a quem quisesse entrar. A meta, instalada numa das principais ruas da vila, mostrava ao que íamos: este não era o trail dos campos de arroz, escondido atrás dum monte no meio dos eucaliptos, era o trail de Coruche e toda a vila participaria.

Às 21h os mais de 100 participantes na corrida, as quais se juntaram mais tarde outros 250 para a caminhada, partiram para a segunda coisa a tirar-me o fôlego em Coruche: a primeira foi a vista na Nossa Sra do Castelo, a segunda foram estes 15km.

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Os primeiros quilómetros, muito planos junto ao rio, deram o mote para a refeição principal: músculos perto da combustão e coração a sair pela boca, em ritmos proibitivos para quem se anda a preparar para “gerir esforço” durante 40 horas daqui a dois meses no Monte Branco. A certa altura já implorava pela primeira subida para poder moderar a velocidade. Essa chegou perto dos 4km, mas de tal maneira bruta que sem dar por isso estava a arfar já no topo do planalto de Coruche. Aí entrámos num divertidíssimo circuito de trilhos que serpenteavam ora a subir ora a descer, espetaculares para correr depressa. E depressa corri!

A parte urbana do “Urban Trail” anunciado no cartaz apareceu pouco depois, com incursões nas ruelas e escadarias de Coruche, num entrar e sair esquizofrénico do mato para a civilização. Sempre a fundo, sem respirar. Mais uma subida empinada, com cordas, e estávamos na encosta da Nossa Sra do Castelo. De noite, a vila é linda vista dali, pelo menos foi o que achei durante o micro-segundo que desviei a concentração do trilho e olhei para o lado.

Seguia num grupo de 4 do qual tentava por tudo não descolar, o meu frontal tinha morrido e estava sem luz. O pó levantado pelos colegas misturado com o suor que escorria em bica para os olhos aumentavam a adrenalina de correr a fundo naqueles trilhos quase às escuras, e ofereceram-me sensações que nunca tinha experimentado em provas deste género.

De repente estávamos de novo em plano. E o que se faz em plano? Pois claro: abre-se a passada! Tal qual uma prova de 10km, toca de meter uma abaixo e arfar o caminho todo junto ao rio, a serpentear pelos caminheiros. Se não me ouvisse a respirar tão alto o caminho todo diria que sustive a respiração na partida e só voltei a respirar a 10 metros da meta, quando a minha filhota correu para mim e atravessámos a meta.

Não é trail puro ou extreme, como se diz agora. É uma prova rápida, divertida, com muitos voluntários, com dois abastecimentos e jantar no final, bem organizada, com prémios por escalões e equipas (a minha, Associação 20km de Almeirim, ganhou o primeiro!), mas principalmente é uma prova bem à imagem de Coruche: honesta. Para o ano com certeza que voltarei, nem que seja para defender o primeiro top 10 da minha “carreira”!

Carmen Henriques e Nelson Cruz foram os padrinho desta enorme edição

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Carmen Henriques “Quero voltar a sorrir naqueles trilhos”

“Trail da coruja… orgulho enorme em ser madrinha juntamente com um grande amigo e atleta nelson cruz…um evento organizado pela primeira vez com MT dedicação e empenho.

Depois de tantos trails em que já participei posso com toda a garantia afirmar que este se equiparou aos melhores…obrigado a toda a organização assim como a todos os habitantes de Coruche pelo modo com que receberam e acarinharam todos os atletas…

Obrigado pelo convite e sinto me uma madrinha feliz e orgulhosa ..

Para o ano lá estarei para correr, divertir me e Sorrir.”

Nelson Cruz “Orgulho em ser Padrinho”

“O Trail da Coruja foi uma prova muito bem organizada, um percurso excelente, grande participação, bons premios, muita alegria e divertimento.

Foi com enorme orgulho que recebi o convite para participar nesta grande festa desportiva em Coruche e ser Padrinho juntamente com uma grande campeã e amiga Carmen Henriques.

Adorei correr nos trilhos de Coruche, diverti-me imenso neste percurso com partes muito rápidas e outras bem mais técnicas que dá uma grande espectacularidade à prova, uma boa concorrência e uma grande moldura humana.  O Convívio durante e após a prova foi exemplar ,a entrega de prémios foi rápida e animada. A organizacão esta de parabéns pelo excelente trabalho, espero que esta prova continue a fazer parte do calendario de trails nacional. Um agradecimento muito especial ao Tó Serrão espero que tenha muito sucesso e que continue com muita coragem e determinação este projeto.

Um abraço”

Classificações

Geral Masculina
1. Fábio Fontoura – Turres Trail Team – 00:56:18,783
2. Omar Garcia – A20km – 01:00:12,127
3.Rodrigo Carrilho – Casa Sport Lisboa e Benfica Vendas Novas – 01:00:12,164

Geral Feminina
1. Emília Silveira – Monsanto Running Team – 01:17:00,073
2. Carmen Henriques – run is a gift – 01:20:19,130
3. Lénia Silva – individual – 01:22:40,061

Segue esta prova e prepara-te para o ano!

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Texto de: Filipe Torres
Fotos de: Miguel David

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