II Trail do Erdal, um trail diferente
“Estava a jogar em casa, tinha que ser”…
Nasceu em 2014 como “Free Trail Erdal” e deu a conhecer a montanha da Penha, em Guimarães, a muitos visitantes, mas também a residentes locais mais distraídos ou iniciantes na prática do Trail running. Em 2015, assume-se como uma prova de cariz competitivo e solidário, ou não fosse o padrinho do evento o atleta vimaranense José Capela, uma referência no trail e na solidariedade, onde a Casa da Criança está sempre presente.
O “II Trail do Erdal” teve como Diretor de Prova, Pedro Fernandes, que foi o impulsionador em 2014 da iniciativa, tendo já experiência e currículo nesta modalidade, bem como no BTT. Aqui começa a fantasia e a mística deste evento. Tínhamos um profissional experiente, uma pessoa com capacidade de atrair amigos e instituições à sua volta. Quem conhece Guimarães e as suas gentes saberá que os Vimaranenses são bastante defensores dos seus valores e têm um sentido de missão, relativamente aos grandes acontecimentos e eventos da sua terra. Neste aspeto a história do Berço não será alheia, recentemente basta relembrar como se viveu e comemorou Capital Europeia da Cultura, Cidade Europeia do Desporto, entre outros.
Foi com grande ânimo que, no domingo de 10 de Maio, um nevoeiro promissor recebeu em Guimarães atletas de todo o país, seriam pouco mais de oito centenas divididas entre a caminhada (6Kms, mais de três centenas e meia de participantes), o Trail Curto (15Kms, ultrapassou as três centenas e meia de atletas) e o Trail Longo (30Kms com cerca de uma centena). O ponto de encontro e de partida foi o Complexo Desportivo dos Amigos de Urgeses. Destaca-se a forma ativa como a freguesia de Urgeses e o seu Presidente de Junta Miguel Oliveira apoiaram e participaram ativamente na preparação do evento. A Erdal (Escola de Referência Desportiva de Ar Livre) esteve presente em força nodia, tendo agilizado o funcionamento do secretariado, sem demoras excessivas. Atravessados os campos de futebol e já com a montanha da Penha na mira, os aventureiros do Trail Longo ouviram o “Briefing” e deram início às suas provas com o Presidente da Câmara de Guimarães Domingos Bragança a desejar “boa prova” a todos e dando o tiro de partida. A prova previa-se dura e percorria os cinco montes de Guimarães: Montanha da Penha, Monte de S.Bento, Monte de Santa Ana, Senhora dos Montes e Monte do Côto, resultando em pouco mais de 32Kms e um acumulado de 3200 metros. Entretanto havia já notícias (apenas a organização e os mais próximos tiveram acesso a esta informação) que partes do trilho de 15Kms tinham sido vandalizadas, nada que não estivesse previsto pela organização. Por isso, já meia dúzia de atletas estavam a fazer os percursos e a corrigir as malfeitorias. Problemas à parte, a festa reiniciava com a partida dos 15Kms, quinze minutos depois. Este percurso seria tão simples quanto surpreendentemente belo. Objetivo: subir e descer a Penha. Dito assim parecia coisa de “meninos”, enganem-se aqueles que pensam ter sido um passeio, rápido sim, mas bastante técnico, com passagens deslumbrantes entre os single tracks criados para o efeito, os percursos de downhill e as lindíssimas quintas que só se abriram para o evento, dando uma perspetiva diferente da Penha, mesmo para quem já conhecia. Há que destacar o trabalho de terreno e a quantidade de pedidos de autorização, para passar em propriedade privada, em estradas nacionais, o apoio policial, o apoio dos bombeiros, escuteiros, bem como outros voluntários. Segundo as informações da organização estiveram envolvidos aproximadamente cem voluntários e três juntas de freguesia. Entre os voluntários, contam atletas que abdicaram de participar para apoiar no evento fazendo todo o tipo de tarefas, bem como atletas que acompanharam ambos os percursos. As provas correram dentro da normalidade e com comuns incidentes, que não afetaram em nada a qualidade e segurança dos participantes. Segundo relatos dos participantes, tudo esteve perfeito, os abastecimentos, a escolha dos trilhos, a marcação e a segurança. Claro está que a perceção dos atletas é aquela que lhes é proporcionada, depois de corrigidos e alterados os erros. Sabemos que nenhum evento destes é um sucesso sem que a organização tenha de intervir a todo o momento, tomando decisões e corrigindo aspetos de última de hora. É um processo dinâmico e exigente para todos os envolventes na organização que, no caso, resultou num evento com elevado nível de satisfação.
Poderia terminar o relato de mais uma prova como muitas outras, mas… E quando um atleta, que segue no grupo da frente, identifica um problema e decide na hora abdicar da corrida, orientando os adversários para o percurso certo, voltando atrás para marcar o percurso, para que os próximos não sejam prejudicados? Por si só seria novidade e um belo gesto, mas quando eu terminava, já ele ia para casa, parei para perguntar se tinha corrido bem a prova (nem imaginava o que tinha sucedido). O atleta respondeu-me com um sorriso confiante “Sim”, explicando depois que teve que repor umas fitas que viu que faltavam, sem “ses” ou “porquês”. Segui e terminei sem ter real noção da importância do ato. No mesmo dia, a organização publica um agradecimento no facebook ao atleta, pelo exemplo de desportivismo e por de certa forma “ter salvo” aquele percurso.
Sim, é um Vimaranense, chama-se André Cunha e respondeu de forma curta e simples ao agradecimento “Estava a jogar em casa, tinha que ser”.
Texto de: Mauro Fernandes