Oleksandr Kratov: “A Orientação é muito importante para mim, é a minha vida”

No culminar de dois dias de excelente competição, Oleksandr Kratov inscreveu pela primeira vez o seu nome na lista de vencedores do Norte Alentejano O’ Meeting. O Orientovar teve a oportunidade de falar com ele e de perceber as suas preocupações e ambições neste momento.
Pedia-lhe que partilhasse connosco as impressões finais acerca da sua participação no Norte Alentejano O’ Meeting 2015.

Oleksandr Kratov (O. K.) – Gostei muito, tanto das provas como dos terrenos. Não é de agora, são sempre excelentes experiências e competições muito boas aquelas que encontro aqui. E também os mapas são incríveis. Noutras alturas vim cá e aquilo que tinhamos era uma cartografia “à moda antiga”. Não que fosse má, mas agora o terreno está muito bem mapeado, é perfeitamente legível e dá um gozo enorme navegar nestes mapas. É realmente fantástico.

Foi o final perfeito neste período de treino…

O. K. – Não, não se trata do final dum período de treino. É apenas uma parte desse período. Não estamos sequer perto do final do período de Inverno em termos de treino. Mas sim, foram provas muito boas e, sobretudo, excelentes treinos para todos nós. Uma grande experiência. Era disto, precisamente, que eu estava à espera: terrenos realmente excelentes, mapas de grande qualidade, competição muito boa e uma organização de topo. Nestas circunstâncias, não nos podemos queixar.

Mas julgo saber que, no seu caso, até houve algumas razões de queixa (risos)…

O. K. – Acerca do Sprint, é isso? Bem… Nalguns pontos, tenho de discordar do Supervisor, mas ele ficou com a opinião dele e eu fiquei com a minha. É verdade que discutimos bastante, mas espero que ele não tenha ficado demasiado zangado comigo (risos).

Quais serão os próximos passos na sua planificação de treino?

O. K. – Desde logo, vamos permanecer durante três semanas em Portugal e, para já, estou focado nesse tempo que passaremos aqui. Agora seguimos para Idanha-a-Nova onde participaremos no Meeting do próximo fim de semana e depois vamos até Viseu. Decidimos não participar no Portugal O’ Meeting, sobretudo por causa dos terrenos. Não posso dizer que não goste de terrenos de dunas, mas são terrenos que já conheço muito bem por serem muito comuns na Ucrânia. Penso que pode ser, em determinadas circunstâncias, um bom terreno para treinar, mas Viseu, por exemplo, é bastante diferente, mais radical, mais desafiante. Prefiro isso.

E tudo isto com os olhos postos na Escócia e nos Campeonatos do Mundo, tenho a certeza.

O. K. – Sim, claro!

O que seria para si um bom resultado nos Mundiais?

O. K. – O meu objetivo passa por conseguir uma medalha. A parte mais interessante é saber se serei bem sucedido ou não.

Acompanha por estes dias a Orientação na Ucrânia, estou certo. Como é que avalia a situação?

O. K. – Neste momento, a situação é, dum modo geral, muito difícil na Ucrânia, devido ao conflito. São tempos duros, mesmo do ponto de vista económico e com uma influência direta sobre a Orientação. Podemos imaginar que, para uma família, será muito difícil apoiar as crianças nas atividades de Orientação. As viagens são muito dispendiosas e as famílias, dum modo geral, não têm possibilidades. É complicado. Felizmente, os melhores atletas ucranianos vivem nos países escandinavos, na sua maioria. Não serão muitos, em número, mas todos eles têm um excelente ambiente para treinar e espero que isso concorra para a nossa melhoria como equipa. Temos duas atletas realmente muito boas e cinco rapazes igualmente bons e estou na expectativa para ver como é que eles evoluem ao longo deste ano.

E a referência dentro do grupo é você (!). O seu quinto lugar no ranking da Federação Internacional de Orientação é apenas um número ou quer dizer algo mais?

O. K. – Bom, é difícil dizer. Obviamente, tem o seu significado, mas não é algo por aí além. Não vivo obcecado com esta questão do ranking nem passo os dias a ver se o Thierry está à minha frente ou se estou eu à frente do Thierry. A verdade é que estas questões do ranking criam certas responsabilidades e isso percebe-se dentro da nossa equipa, onde acabo por funcionar como uma espácie de Treinador Nacional. Nessa medida, procuro manter contacto permanente com todos, ajudá-los no que for possível, dar alguns conselhos. Temos uma boa seleção e, claro, procuramos ajudar-nos uns aos outros no sentido de melhor progredirmos.

Como vê o atual momento da Orientação em geral. Estamos no bom caminho?

O. K. – Há uma série de opiniões diferentes a propósito deste assunto. Do meu ponto de vista, há coisas que não estão otimizadas, mas acredito haver razões fortes para que sejam assim, pelo menos nesta altura. Por exemplo, eu sou um grande apreciador das provas de floresta e não posso dizer que morra de amores pelas provas de Sprint mas, ainda assim – e disse-o desde logo -, tive oportunidade de acompanhar a prova de Estafeta Mista de Sprint, no decorrer dos Campeonatos do Mundo, e foi realmente emocionante, mesmo que não houvesse ali grande orientação. Do ponto de vista técnico não foi uma prova desafiante ou interessante e para um bom atleta seria mesmo uma prova aborrecida, mas do ponto de vista dos espectadores foi fantástico. Portanto, não creio que este modelo dê a melhor contribuição para o desenvolvimento da Orientação, dum ponto de vista técnico, mas para atrair as pessoas e a comunicação social foi talvez das coisas mais bem conseguidas até hoje.

E quanto à Taça do Mundo?

O. K. – O modelo da Taça do Mundo é algo estranho na minha opinião e deveria ser melhorado. Vejamos a Austrália, por exemplo. É evidente que temos a responsabilidade de espalhar a semente da orientação pelos quatro cantos do Mundo mas, se falamos de Taça do Mundo, onde devemos pontuar em dez de onze etapas ou algo assim e se não pertencemos a uma nação muito forte, então esqueça-se a Taça do Mundo. Outro exemplo são as quotas para as finais de Distância Longa dos Campeonatos do Mundo, algo que penaliza grandemente as nações menos fortes. Possuem menos participantes e, por isso, torna-se mais difícil regressar à segunda ou à primeira divisão. É um sistema complicado.

Por quanto tempo mais vamos poder vê-lo a fazer Orientação?

O. K. – A Orientação é muito importante para mim, é a minha vida. Desde que tomei a decisão, no passado mês de Maio, de me profissionalizar, a questão passa por tentar perceber quanto tempo mais conseguirei manter-me assim. Mas espero que esta seja uma realidade por muito tempo. Antes disto, tentei combinar a minha atividade profissional com a Orientação e as coisas até correram bastante bem, não me posso queixar, consegui alguns bons resultados. Mas tive sempre esta sensação de que não seria a melhor forma de me preparar se queria chegar mais longe. Hoje, consigo ver perfeitamente a diferença entre fazer apenas orientação ou tentar compatibilizar a Orientação com outra atividade. E é uma diferença realmente muito grande.

No final desta nossa conversa, pedia-lhe que partilhasse connosco o seu maior desejo.

O. K. – Acima de tudo, desejo paz para a Ucrânia. E depois, que possa desfrutar do prazer da Orientação durante muito tempo.

Entrevista e foto de: Joaquim Margarido

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