V Trilhos dos Abutres

Foi no passado sábado, dia 31 de janeiro, no “Ninho dos Abutres” em Miranda do Corvo, que se realizou, a V Edição dos Trilhos dos Abutres, composto por quatro provas. A Ultra Trilhos, na distância de 50km com 2300 de D+; Trilhos 25km e D+1300; Caminhada Vila Nova “A Mirar o Concelho” 12km e Trilhos Júnior “José Godinho”, na Quinta da Paiva, esta realizada no dia a seguir (01FEV2015), para os jovens dos 6 aos 17 anos, nas distâncias definidas em função da idade.
Organização a cargo da Ass. Abutrica e dos Abutres Running Team, com o apoio dos Bombeiros Voluntários, da Câmara Municipal, das Juntas de Freguesia de Miranda do Corvo e Vila Nova, do Parque Biológico e dos Caminheiros do Espinho.
Chegado ao pavilhão municipal, por volta das 07H00, onde estava instalado o secretariado, dirigi-me ao mesmo a fim de levantar o dorsal e chip. Aí fui informado de que a prova tinha sido adiada em 2 horas, para segurança dos atletas, uma vez que o percurso estava muito perigoso. Devido às fortes chuvas que haviam caído nos últimos dias, os ribeiros e as linhas de água, estavam com um forte caudal e tinha de ser analisado a maior parte do percurso.
Por volta das 09H20, dirigi-me de novo ao pavilhão, mas desta vez, já equipado e com o material obrigatório na mão, para que os elementos da organização procedessem à sua verificação e evitar demoras na fila. Muitas vezes, estes controlos causam atrasos, principalmente quando alguns atletas se esquecem de facilitar estas verificações. Feito o controle foi aguardar até que chegasse o então muito esperado, sinal sonoro da partida.
À hora prevista, partimos cerca de 580 aventureiros, em busca de glória e aventura.
Uma volta por dentro da localidade, com passagem em frente à câmara, subir até ao Cristo Rei, e descer umas escadarias, passando pelo primeiro controlo do chip. Estavam feitos os primeiros 3 kms de prova. Seguimos junto a uma ribeira, com passagem por numa ponte de madeira, muito escorregadia e estamos nos trilhos. Aqui não faltava água e lama, que nos acompanharam até ao km 48.
Passagem no 1º abastecimento, aos 14kms, em Vila Nova. Repor alguma energia e seguir, pois o caminho adivinhava-se que iria ser muito pesado e de difícil progressão. Pelas 12H00, e aos 18 kms, começou a chover, granizo, saraiva ou como se diz na minha terra, “água de pedra”. Não eram grandes mas eram muito frias e entravam entre a roupa e o pescoço. Para ajudar à festa, começou a trovejar, tendo companhia até ao 2º abastecimento (km 22), nas Mestrinhas. Abastecer e voltar a subir até cerca de 900 m de altitude. Há que continuar…
O frio, nesta altura já era mais que muito. Começava a não sentir os pés e as mãos de tão geladas que estavam. Aqui, já junto à eólicas, só me apercebendo delas por ouvir o som das suas hélices, tal era o nevoeiro, aquela chuvinha molha tolos e o vento.
Depois duma subida vem a descida, como se costuma dizer. Foram cerca de 5 kms a descer até ao 3º. Abastecimento, Capela da Srª. da Piedade, ao km 29. Neste local também se encontrava um PC e foi precisamente aqui que cerca de 50% dos atletas foram barrados, devido ao tempo limite (05H30). Foi aqui que encontrei algumas pessoas a aplaudirem e incentivarem quem ia passando. Não posso deixar de agradecer a alguns amigos que estavam presentes: Herculano Pereira, Aníbal Godinho, Vitorino Coragem, entre outros. O meu muito obrigado pelo carinho e apoio que me deram.

Metade da prova estava feita.
Saída do abastecimento, sem perder muito tempo, porque esse é precioso, e todos os segundos contam. Lá se aproxima mais um trilho muito técnico e a subir. Para estas subidas é preciso forças e essas já começavam a faltar. Aparecem as primeiras dores nos pés e joelhos. Cada vez sinto mais frio, já não produzo energia para aquecer, dá cabo de mim e “acende-me” as artroses. Começa a ser difícil, principalmente a descer, o que eu mais gosto de fazer. Descidas, agora, só depois de subir até ao Centro de BTT, bem lá no alto. O ponto mais alto da prova. Foram mais uns quantos quilómetros muito, muito gélidos.

Chegado ao 4º. Abastecimento, km 35, beber mais um pouco de Coca-Cola e meter na boca umas batas fritas e toca a andar.
Descer a “furar” o nevoeiro, para entrar num trilho espetacular. Recordo-me dele do ano passado. Zona de pinheiros, com muita caruma no chão, o que tornava o piso fofinho. Aí sim, podia-se correr, para quem ainda tivesse pernas.
O tempo ia passando e os kms teimavam em passar lentamente.
Começava a pensar no banho quente, em estar quentinho, mas ainda faltava muita coisa.
Mais um abastecimento e PC ao km 39 em Gondramaz. Aqui era mesmo obrigatório passar junto da zona de abastecimento. Dava-se uma volta e seguia-se à direita, para iniciar uma descida técnica, que nos iria levar até quase à meta, ficando a faltar os últimos 10 kms de prova.
Zona ribeirinha, muita água, cascatas e pontes improvisadas (troncos) de madeira. Passar para lá, saltar para cá, dum lado para o outro das margens. Sempre bem acompanhados pela água e por isso, com os pés sempre bem lavados, sendo uma características desta prova.
É difícil descrever tantos locais e momentos que me marcaram…

Chegado ao último abastecimento, em Espinho, km 44, no interior de uma casa, foi passar ao lado e tentar terminar. Já só faltava a levada que nos levaria de volta a Miranda. Mas até lá, muita lama iria correr e nós… a andar. Não dava mesmo para correr. Ainda era de dia, mas não ia arriscar, sempre que se dava um passo nunca sabia se me iria enterrar, pelo tornozelo, pelo joelho ou mesmo até, à cintura. Todas estas opções aconteceram. Lama, muita laminha, mais parecia-mos uns suínos no lameiro. Não deixa de ter a sua graça e é disto que nós gostamos… Cada um dizia aquilo que lhe vinha à cabeça. Os elementos da organização deviam estar com as orelhas bem vermelhas… dos muitos elogios…
Entrada na ponte pedonal, faltam cerca de 2 kms. Fazer estes últimos a correr pelas ruas e pista de ciclovia, até lá se avistar a última subida. A tal que se sobe de gatas, ainda tentei fazê-la como de uma subida normal se tratasse, mas escorregava bastante, e tive de a subir à tração das “quatro”.
Após esta, foi correr para a meta e tentar controlar a emoção que se “apega” aos atletas.
Assim terminou mais uma aventura, das difíceis, e bem difíceis. Este ano com o meu pior registo de sempre em quase uma hora, com o tempo de 06.45′, classificação 43º. da geral… 2º em M50, da A20KM.

O grande vencedor deste escalão foi um miúdo de 50 anos, tendo ficado em 3º. da classificação geral, Vítor Cordeiro. Para este grande atleta os meus maiores parabéns.
– A Antonieta também conseguiu terminar com o tempo de 08.52, classificação geral 237 e 10ª. das senhoras e 1ª. do escalão F/45, da A20KM.

Os grandes vencedores foram:
Ultra Trail:
Masculinos – Ricardo Silva (EDV-Viana Trail) com o tempo de 05:07, seguido de Nuno Silva (Desnível Positivo), com 05:09 e Vitor Cordeiro (AC Portalegre) que fez o tempo de 05:26.
Femininos – Ester Alves (Salomon-Suunto) com 06:28, seguida de Sofia Roquette, com 06:41 e Cláudia Carreira com 07:25, ambas do Offtel Runners.
Trail:
Femininos – Patrícia Carreira (Offtel Runners) com 03:04
Masculinos – Luis Fernandes (Luden Machico) com 02:35

Texto de  – Francisco José Mira Gaio

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