Emoções num Fim-de-semana no LouzanTrail

Manuel Martins - OPraticante.pt

Mais uma edição desta prova, organizada pela Secção de Trail Running, do Montanha Clube, que decorreu com emoções no dia 07 de março, o Ultra Louzantrail.

No dia 8 ocorreram as restantes provas, de salientar a distância de 30 Km, a integrar o circuito Internacional Golden Trail Series.

A adesão foi grande com estrelas Nacionais e Internacionais a deslocarem-se até à serra da Lousã, foi um fim-de-semana de Emoções, com uma prova de Emoções com cerca de 1400 participantes nas diferentes distâncias, “OPraticante.pt” também esteve representado pelos manos Garrido e o Lobo Solitário (eu).

Emoções
Armando Teixeira – Foto: Miro Cerqueira

Fim-de-semana de Emoções em direção ao palco das estrelas – Lousã…

Mais uma madrugada, fomos nós em direção ao palco das estrelas, pois a Serra da Lousã, nesse fim-de-semana estiveram os melhores atletas nacionais e internacionais que se iriam “enfrentar”, a prova mais importante seria no dia 8.

Eu e o Fernando Mendes iamos dia 7 para a maior distância, com um acumulado positivo de 3.000 metros.

Fernando Mendes e Manuel Martins

Às 6:00 a.m. já estávamos a caminho, com o tempo frio a esta hora, um pouco receosos com o que nos esperava, pelo menos era essa a sensação interior que tinha, pois respeito a montanha e nunca sei como o corpo reagia.

Ao chegar, o ritual habitual, levantar dorsais, equipar, falar com a malta e preparar a mente para a contagem decrescente, claro que só depois do café matinal.

Emoções
Foto: Matias Novo – Fotografias

Partida…

Lá estávamos nós para mais uma loucura, controlo zero, para proteger os atletas em caso de algo correr menos bem.

Após, estar tudo pronto a verdadeira festa do Trail, em grande adrenalina, emoções vem ao de cima, vamos para o ponto de partida, na rua, com o pessoal animado e as brincadeiras entre os atletas… 30s… Braços no ar, animação matinal… 10, 9, 8… 3, 2, 1… pummmm…

Foto: Matias Novo – Fotografias

Lá vai a malta, uma voltinha ao circuito, um pouco de estrada e após 1 km estávamos com modo de subida ligado, pouco depois sentia o corpo a debitar energia e já sentia as dificuldades iniciais no Trail… O habitual…

Os primeiros 10 Km…

A prova não foi fácil nesta fase inicial, uma subida intensa logo nos primeiros Km, subida constante e intensa com uma beleza acima da média, ainda estávamos no início, eu, internamente já pedia uma descida para acelerar e recuperar algum tempo perdido.

Foto: Matias Novo – Fotografias

Uma pequena descida só para animar um pouco, uns trilhos estreitos, numa fase ou outra dava para os mais rápidos e com força para as subidas, logo passavam quando tinham oportunidade.

Ao km 8 iniciava a descida, intensa, sentia-me em casa porque adoro as descidas, já tenho dito imensas vezes.

Foto: Matias Novo – Fotografias

No ano anterior tinha já realizado esta prova, mas já não me lembrava na dureza, estava adormecida algures nas “gavetas” das recordações, a cada km vou relembrando este ou aquele troço da prova, este ou aquele trilho e sorrindo ofegante continuava o meu desafio, sentia-me melhor do que nas provas anteriores, nomeadamente referente à ultima edição.

Ao chegar ao primeiro abastecimento, nada faltava, entre os salgados e doces, bebidas de várias escolhas, estávamos bem servidos para o desafio a que nos propúnhamos.

Emoções
Foto: Matias Novo – Fotografias

Uma beleza incomparável… com emoções

O desafio continuava depois de termos saído do abastecimento, continuamos a descida, já a concluir mas esta fase, antes e depois do abastecimento, um trilho bastante técnico e para os mais malucos tentarem melhorar.

Várias vezes me dizem para não aumentar o ritmo a descer, pois daria cabo do corpo e depois nas subidas “morro”, apenas vos confesso, já fiz vários testes e as subidas ainda são penosas para mim mesmo que diminua a velocidade nas descidas, com todo o respeito e agradecido pelos conselhos, vou perdendo a cabeça nas descidas, Lobo Solitário no trilho…

Foto: Matias Novo – Fotografias

Sinto-me confortável e continuo a tentar melhorar, sendo apenas melhor que ontem, quando entro em prova tento competir comigo próprio, com o objetivo de reduzir o tempo em provas anteriores…

A beleza da serra, é demonstrada aos participantes a cada km

A beleza da serra, é demonstrada aos participantes a cada km, uma beleza incomparável, seguíamos para o Talasnal, passando as aldeias de xisto, cerca do km 14,5, a somar 1.450 m D+, uma violência este início de prova, mas ao chegar ao topo desta subida, as famosas letras “LOUSÔ, neste alto da Serra sou surpreendido…

Sou surpreendido pelos meus conterrâneos que se iriam desafiar no dia seguinte (artigo deles sai brevemente) e hoje tinham tirado o dia para visitar e ir acompanhando a prova em diversos pontos, tive a sorte de os encontrar aqui, uns minutos de descontração que nos deixa com a motivação em alta, grato a todos vocês.

Estava na hora de continuar, pouco depois de uma bela descida, o segundo abastecimento, ao continuar a prova, passei pelo campeão mundial Stian Angermund-Vik, treinava por ali, entrava em prova no dia seguinte e que velocidade impressionante deste atleta da equipa Salomon que bate recordes a cada prova que participa. Nesta edição conseguiu mais um tempo fantástico ultrapassando os registos anteriores existente.

Emoções
Foto: Matias Novo – Fotografias

A origem das letras da “LOUSÔ

A curiosidade aumenta ao ver aquelas construções em madeira em vários pontos altos da serra da Lousã, segundo pude apurar foram contruídas pelos amantes anónimos da serra, em 2016 criando assim o projeto “Isto é Lousã”, criando o Baloiço no alto de Trevim, a moldura sobre a vila perto do Castelo, na aldeia do Casal Novo, o banco e os sofás.

Ficando assim estes locais marcados, passam a ser marcos nestas localidades, tornando-se também como bilhetes-postais de visita quase obrigatória, nós em prova, temos o prazer de passar por estes locais mas subindo a serra a todo o custo e sorridentes, apreciando a natureza a cada km.

Emoções
Foto: Matias Novo – Fotografias

A dificuldade aumenta… e as emoções também

A dificuldade aumenta a cada km, as subidas eram intensas e constantes, lembrava-me a cada momento da edição anterior, estávamos a rumar a um ponto alto da serra da Lousã, mas a beleza dos trilhos deliciavam a sua beleza enraizada, do musgo que poderíamos ver pelas rochas, pelas árvores, pelos trilhos o verde era constante por toda a zona e apesar de ser um percurso difícil, a alma agradecia.

Ao chegar ao abastecimento a rondar o km 23, de uma forma geral, notava-se o cansaço no rosto de todos, a dar o nosso máximo, não querendo sermos derrotados pela dificuldade, queríamos superar-nos, no entanto o tico e o teco começavam a desmotivar…

Após comer algo, beber e recarregar de líquidos, continuo o desafio, não imaginando o que me esperava.

A subida, “um parte pernas” é iniciado…

Logo que saíamos do abastecimento a subida era intensa, com uma inclinação de cerca de 20 a 30%, algumas zonas mais intensas, iam passando por mim, a meio da subida não estava fácil pois sentia o corpo a não corresponder, apesar de realizar poucas paragens, não estava de todo fácil.

Escolhíamos onde colocar os pés, mas no meu caso, escolhia sempre as zonas de passagem de água, hoje seca, mas as marcas eram evidentes, parecia uma subida sem fim.

Foto: Matias Novo – Fotografias

Questionava o porquê de me meter nestas loucuras, a cada passo os músculos davam um ar da sua graça, salientando assim a dificuldade que estava a enfrentar, mas após cerca de 30 minutos que tinham parecido horas, estava no topo da mesma e convidado a correr por alcatrão.

Pouco depois estávamos agora por um estradão, tinha realizado um pouco de caminhada nesta zona mais plana, tentando recuperar o fôlego, começo a visualizar a descida intensa e salta uma mensagem na mente, como de passagem, a informar a mente e o corpo que era imposto iniciar a corrida.

Foto: Matias Novo – Fotografias

A tentar ignorar as dores que ia sentindo, aumento o ritmo para tentar recuperar o tempo perdido na última subida, interiormente sentia-me bem e estava a aumentar o ritmo, no final da descida verifico que a média do relógio tinha melhorado substancialmente, estávamos na segunda metade da prova.

A Lousã dá luta do princípio ao fim… com emoções ao flor da pele

A descida tinha de terminar, como tal, uma subida estava pela frente até ao pico mais alto da Lousã, a cerca de 1200 metros de altitude, entre nós chamamos as “antenas”.

Emoções
Foto: Matias Novo – Fotografias

Supostamente, também os mais “sábios” destas andanças dizem que a dificuldade a prova é até aos 30 km, eu pessoalmente e após a sua conclusão, acho que a dificuldade da prova é desde o primeiro km até ao último, enquanto não chegámos à linha da meta, a Lousã dá luta do princípio ao fim.

Nesta subida, o sol era intenso, sentíamos a sua força, no meu caso o relógio marcava meio-dia, não sabia como chegaria ao topo, tentava caminhar e focar-me passo a passo, no entanto, o dia quente já tinha esgotado a minha água, depois de pequenas ingestões.

Foto: Matias Novo – Fotografias

Sempre bebo um pouco de cada vez, sempre com o objetivo de não desidratar, nesta prova tentei aumentar o consumo de eletrólitos e a sensação de sede era intensa, mas também tinha a perfeita consciência que após esta subida seria rápido chegar ao abastecimento.

Durante a subida, lembrava-me perfeitamente do último ano, a dada altura a mente desespera e sem perceber a razão, no meio das pedras daquele imenso estradão, ajoelho-me, olho para cima, quase em modo de choro, sinto uma pequena libertação interior, a procurar as forças que necessitava para alcançar o topo, as lágrimas não caíram.

Foto: Matias Novo – Fotografias

Levanto-me e vou tentando esquecer da distância curta que faltava e procurando forças interiormente para estas serem canalizadas para as pernas, pois a nível muscular ressentiam-se, apenas vos digo que após a chegada a esta primeira subida, o Lobo solitário, saboreou o momento e rapidamente começam as emoções de correr na descida…

O famoso Baloiço…

Mais uma ligeira subida mais uma caminhada, ao chegar ao topo deste trilho, lá estava o famoso baloiço, bem cuidado, lembrava-me dele menos cuidado, não pude deixar de pedir para uma fotografia, registando assim o momento.

Manuel Martins – OPraticante.pt

Embora que o buff que uso, não me agrada, parece que já tinha caído e teria de ter a cabeça ligada… Ahahah… Mas foi o que estava perdido no saco e tenho sempre de usar…

Ao continuar o trilho seguinte, era molhado uma espécie de serpente de água que nos acompanhava em contra corrente, nós a subir ela a descer, convidando a beber água que me faltava, por outro lado sabia que estava perto do abastecimento, tentava correr na zona mais plana, nas subidas o corpo convidava à caminhada…

Foto: Matias Novo – Fotografias

Abastecimento…

Ao chegar ao abastecimento, somos servidos como reis, desde o inicio da prova, sem exceção, alguns locais com mais atletas e não conseguem dar atenção a todos, mas sempre tentam ajudar e que nada falta a quem participa e se desafia nestes trilhos.

A sopa estava excelente, que desde já dou os parabéns à organização e principalmente a quem preparou este manjar. Um bolo típico da região também foi disponibilizado para os atletas, pouco depois estou de volta aos trilhos e rumo aos 1200 metros, estaria perto, depois, seria uma corrida de cerca de 12 km até ao final em constante descida.

Foto: Matias Novo – Fotografias

Sentia tudo a descolar…

Se achava que ainda tinha pernas, a partir deste momento sentia tudo a descolar, nas pernas as rótulas não se queixavam muito, mas a nível muscular cum catano.

O início da descida percorríamos um trilho técnico, com bastante pedra, mas tinha de recuperar, mais uma vez, a média estava baixa sabia qual era a média do ano anterior e estava muito aquém, durante a prova tinha consultado os meus registos e queria terminar antes das 8 horas de prova, era a meta, a superação.

Emoções
Foto: Matias Novo – Fotografias

Daqui até à meta, tentava sempre acelerar, não só por ser descida, mas porque queria mesmo me superar, depois de ter realizado pensamentos interiores de tentar perceber o porque de me aventurar nestas loucuras, só aqui as repostas chegam.

Depois das fases piores da prova, onde te questionas sem respostas, onde dizes que não precisas disto para nada e não entendes porque te metes nisto, sim, na fase final percebes, sentes orgulho, o orgulho da superação e de te teres conseguido superar mais uma vez, eu consegui mais uma vez com emoções, ou sem emoções e por isso sou grato.

Foto: Matias Novo – Fotografias

Antes da famosa conclusão…

Antes da famosa conclusão, teria de passar pela praia fluvial da Srª da Piedade, precedida de uma descida intensa, mas a paisagem por aqui é fantástica, passo pelo famoso restaurante Burgo, tão falado pelo país, pela sua qualidade dos cozinhados e sempre bastante complicado de conseguir um lugar para saborear os cozinhados.

Foto: Matias Novo – Fotografias

Continuávamos por um zona de trilho fantásticos e como adorava trazer quem eu mais gosto, para se deliciarem com estas paisagens, mas o acesso é um pouco complicado, mas não impossível, já sentia o cheiro da conclusão.

Foto: Matias Novo – Fotografias

Fisicamente partido, mas na alma, o orgulho era intenso, hora de realizar o direto nas redes sociais, uma forma que encontrei para informar e tranquilizar quem se preocupa com o Lobo solitário, consegui mais uma vez, consigo terminar a prova abaixo do objetivo traçado.

O relógio marcava 44 km, com o tempo de 7h51m14s, na posição 213 da geral e no escalão M40 no lugar 59. As restantes classificações da prova podem ser consultadas AQUI.

Depois da conclusão…

Depois da conclusão, sentei-me porque me sentia esgotado, porque sabia que tinha dado luta, tinha excedido as minhas espectativas e ao olhar para o relógio e a linha da meta, as emoções não contive as lágrimas e estas caiam pelo rosto, com orgulho de prova superada, babado e a pensar, fogo, missão cumprida!

Pouco depois oiço chamar pelo meu nome, a equipa de “OPraticante.pt”, estava presente a dar-me os parabéns por ter concluído, fiquei de alma cheia.

Emoções
Foto: Matias Novo – Fotografias

A boa disposição estava presente e senti-me renovado. Fui comer algo e beber mais água, depois as brincadeiras continuaram, quando me juntei ao grupo, entre reportagens e fotografias, foi uma diversão.

A terminar uma prova de alma cheia…

Emoções
Foto: Matias Novo – Fotografias

Um resumo… das emoções

Uma prova de topo que recomendo todos a se prepararem para se testarem nos trilhos, não esperem uma prova facilitada mas decerto depois de serem tão bem recebidos pela organização, com marcações excelentes, abastecimentos diversos e banhos quentes, vão adorar e querer regressar em outras edições tal como eu.

Foto: Matias Novo – Fotografias

Parabéns a quem se dedica a proporcionar estes momentos a quem adora a Lousão, os trilhos e a serra!

Lobo Solitário e “OPraticante.pt” nos trilhos e desta vez, várias vezes surpreendido… GRATO!

Porque… “ISTO É LOUSÔ…. Espero regressar na próxima edição…

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Texto: Manuel Martins
Fotos: Matias Novo Fotografia

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