Hélder Mestre e Mário Trindade com mínimos para o Rio de Janeiro 2016

Helder Mestre Atletismo

Helder Mestre

Campeonatos do Mundo de Atletismo Adaptado

Os campeonatos desenrolaram-se num destino exótico que provocou na comitiva um misto de curiosidade e de expetativa. No entanto, ao fim de uns dias, o sentimento era unanime: tratava-se sim, de um povo com alguns hábitos e usos muito próprios mas muito educado e cordial no trato. O choque urbanístico era por demais evidente, contrastando entre o muito moderno e vanguardista e o tradicional e secular. Além disso, a aridez do local adivinhava-se e uma visita ao deserto proporcionou à comitiva essa realidade.

O objetivo de Hélder Mestre
Conseguir presença nas finais e melhorar as marcas.

Doha – Quatar 21h00. A entrada para a primeira câmara de chamada proporciona um alívio em relação aos 32ºc e 70% de humidade que se verificam no exterior. Faltam 45 min para a final dos 100m!
A eliminatória, efetuada 3 horas antes, decorrera de acordo com as expetativas e proporcionou, além de um muito festejado record pessoal, a ambicionada passagem à final. Havia derrubado, pela primeira vez, a barreira dos 25 segs e esperava repetir o feito, aproveitando a competitividade proporcionada pela apertada concorrência. Após a longa espera, a entrada na pista leva-nos de volta à inclemência dos elementos, provocando momentaneamente uma condensação preocupante que se agarra ao corpo. Sinto as luvas escorregar nos aros de impulsão e fico apreensivo. Essa sensação desapareceu, contudo, após a reta de aquecimento, em plena pista. A partida dá-se com normalidade, embora a gestão entre a força do arranque e o equilíbrio do centro de gravidade me façam perder algumas décimas preciosas. Numa rápida sequência de movimentos cruzo a meta e, no instante seguinte, verifico que fui 7º classificado. Procuro saber o tempo conseguido e antes de o conseguir descodificar, reparo no PB “Personal Best” afixado no ecrã do estádio. Havia batido novamente o record pessoal, colocando-o em 24,85”. O objetivo havia sido cumprido!

Os dois dias que antecederam as eliminatórias de 400m foram passados tentando manter a forma e protegendo o organismo das adversas condições climatéricas.

O treino efetuava-se ao fim da tarde, após o pôr-do-sol. Esse fato proporcionava uma falsa sensação de alívio porque, na verdade, a temperatura pouco baixava, situando-se sempre acima dos 30ºc e a humidade aumentava consideravelmente, tornando o ambiente irrespirável e propício a desidratações.

Condições idênticas às que tínhamos sentido até à data me esperavam na primeira eliminatória dos 400m. Para a final eram apurados os 3 primeiros classificados e foi com essa motivação que fui para a partida. Consegui o objetivo proposto: um terceiro lugar com o empo de 1m 37s e o apuramento direto para a final, a realizar no dia seguinte.

No dia da prova sentia já o cansaço acumulado, seria a quarta prova! O objetivo, esse era o mesmo: fazer o melhor possível!
Foi-me reservada a pista 8, “a cega”, porque não conseguimos acompanhar a evolução dos adversários. Após o vacilante bailado inicial decorrente da gestão do centro de gravidade, faço progredir a cadeira num aparente 1º lugar. O adversário mais próximo ultrapassa-me no início da reta, fazendo uma razia que me obriga a corrigir a trajetória, pisando a linha, fui desclassificado. Termino longe do record pessoal “1m 29S” mas com a sensação de ter dado tudo naquela pista. Era a quarta prova e estava estafado. Não apenas destas últimas provas mas de toda a época.

atletimo adaptadoTambém Mário Trindade outra referência do Atletismo Adaptado Nacional marcou presença nestes campeonatos, tendo obtido o 7º lugar, nos 100 metros e o 9º lugar nos 400 metros.

A “O Praticante” Mário confidencou que dos objetivos que tinha traçados para esta época apenas não conseguiu cumprir dois. O primeiro era conseguir em Maio na Suíça, bater o recorde da Europa dos 400 metros, não obtido por motivos de saúde. O segundo foi a ida a final dos 400 metros do Campeonato do Mundo, para este Campeonato tinha como objetivo fazer final nas duas provas e apenas consegui nos 100 metros, eram objetivos ambiciosos pois estavam lá os melhores atletas do mundo da minha classe T52, atletas que nada lhes falta, a nível de apoios e competições regulares entre eles, eles já todos se conheciam muito bem, eu tinha uns 3 ou 4 que nunca tinha competido contra eles, e que no ranking estavam a minha frente, os outros já tinha competido algumas vezes e apesar de achar que não são invencíveis, sei que estão num patamar acima de mim, dadas as condições que eles dispõem no seu dia a dia, para verem algumas das diferenças entre estás duas realidades, eu tive 3 meses sem competições desde o dia 25 de Julho que não tenho provas em Portugal, para competir só no Estrangeiro e sem dinheiro para lá ir, não é fácil, grande parte destes atletas estiveram sempre em competições até uma semana antes, é claro que o meu ritmo competitivo com parado com o deles, aqui não se pode comparar, e o resultado fico à vista de todos.

Tive a semifinal dos 100 metros, onde passavam os 3 primeiros de cada série e os dois tempos mais rápidos das duas séries, eu fui repescado com um dos 2 tempos mais rápidos, no mesmo dia por volta das 22 horas tive a final e consegui o 7º lugar, se virem o (vídeo) com atenção podem reparar que eu perco a vantagem para os outros atletas no arranque, isto deve-se ao facto de não ter controlo do meu tronco e no momento em que eu faço força nas rodas para baixo, o meu tronco sobe, obriga-me a deixar de continuar a fazer força para a cadeira não levantar, e aqui os adversários ganham vantagem, terei que testar uma nova posição na cadeira de forma a isto não acontecer, (não será fácil dada as limitações que tenho no meu corpo e no custo que tem uma cadeira, se chegar a conclusão que preciso de mudar a posição isso implica comprar uma nova) mas para já vamos testar para ver o que se consegue, mas para já 7º lugar num campeonato do mundo, com os melhores atletas do mundo é algo que me dá bons indicadores que consigo fazer melhor.

Nos 400 metros, (vídeo) o objetivo era chegar a final também, e por muito pouco não consegui, completei os 400 metros com 1:06:54 e último atleta a ser apurado, fez os 400 metros com 1:06:24, este resultado deixou-me em 9º lugar ficando fora da final onde entram os 8 mais rápidos.

Agora ambos voltaram a casa, descansar, retemperar forças e iniciar a preparação para os próximos Europeus e Paralímpicos no Rio de Janeiro, são os seus objectivos, que obtenham os apoios necessários para a sua participação e possam dignificar Portugal.

Foi um ano repleto de emoções, em que as expetativas mais otimistas foram superadas e a generalidade dos objetivos alcançados.

Que 2016 não o seja menos.

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