Integridade no desporto regressa á agenda

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O tema da integridade no desporto regressa á agenda devido aos recentes avanços no tribunal de Paris, onde o ex-presidente da Federação Mundial de Atletismo – Lamine Diack, o seu filho e outros quatro elementos estão a ser julgados pelo envolvimento em pagamentos ilícitos relacionados a casos de doping na Rússia.

Além disso, foi publicado o mais recente relatório de investigação de Richard McLaren (celebre advogado canadiano) que detalha uma cultura de fraude profundamente enraizada na Federação Internacional de Halterofilismo, sob a liderança de longo prazo do seu ex-presidente – Tamas Ajan.

Igualmente decorre o escândalo na Associação Internacional de Boxe, que permanece suspensa do movimento olímpico por questões de finanças, governança e arbitragem.

São as pessoas. Sobre pessoas com controle total no nível mais alto

Estes casos continuam a manchar a integridade, reputação, imagem e credibilidade do desporto mundial e do Movimento Olímpico nas mentes do público em geral.

A corrupção “não é uma questão sistêmica no desporto“, como disse Dick Pound – um membro de longa data do Comité Olímpico Internacional (COI). “São as pessoas. Sobre pessoas com controle total no nível mais alto“.

integridade

Diack (o ex-presidente da IAAF) é acusado de ter solicitado 4 milhões de dólares de atletas suspeitos de doping para que seus nomes fossem limpos e que pudessem continuar a competir. O esquema envolveu cerca de duas dezenas de atletas russos.

O caso também tem tentáculos que se estendem mais longe, incluindo alegações de fundos ilegais direcionados para campanhas eleitorais no Senegal e, mais importante para o COI, acusações de que Diack e seu filho estavam ligados à corrupção relacionada às propostas bem-sucedidas do Rio de Janeiro e Tóquio para Jogos de 2016 e 2020, respetivamente.

Integridade no desporto

No caso do halterofilismo, McLaren divulgou um relatório de 122 páginas na semana passada sobre corrupção na IWF (Federação Internacional de Halterofilismo).

Durante a sua investigação ele revela uma federação liderada por um presidente autocrático e com uma conduta com pouca transparência de governabilidade.

McLaren também descobriu que 40 testes positivos de doping foram silenciados – incluindo atletas que ganharam medalhas em grandes campeonatos – e citou “falhas sistemáticas de governança e corrupção no nível mais alto da IWF“.

McLaren ainda disse que Ajan recebeu pagamentos em dinheiro na forma de multas por doping de federações ou patrocinadores nacionais.

O relatório constatou que 10,4 milhões de dólares em fundos da federação que estavam em falta e não foram contabilizados. Além disso afirma que as suas eleições foram fraudadas pela compra de votos.

O presidente do COI, Thomas Bach, em uma teleconferência com repórteres após uma reunião do conselho executivo do COI na passada quarta-feira, disse estar “profundamente preocupado” com as descobertas de McLaren e com o escopo das atividades alegadas.

Ele expressou confiança na nova liderança da IWF para reformar a federação, mas acrescentou: “Reservamo-nos o direito de medidas de longo alcance, incluindo, entre outras, a questão do levantamento de peso no programa dos Jogos Olímpicos.

Para por mão a este tipo de situações é da extrema importância que o desporto possa pautar pelos mais restritos procedimentos de democracia interna e auditoria mútua. Por muitas e variadas vezes vemos a integridade do desporto ser posta em causa.

Hoje, o desporto prima a mais completa ausência de democracia

Conforme expressa o professor Gustavo Pires vivemos uma situação em que “Infelizmente, hoje, o desporto, nos mais diversos países do mundo e nas mais variadas organizações nacionais e internacionais, está transformado num espaço onde prima a mais completa ausência de democracia.

Uma vez que, muitos dos dirigentes, depois de serem eleitos através de processos de democraticidade, pelo menos, questionável, por motivos de uma profunda incultura e carência de educação democrática, deslumbrados com o poder e o dinheiro disponível, passam a exercer as suas funções impondo as suas ideias, forçando as suas decisões e obrigando ao cumprimento dos procedimentos que mais lhes interessam para a eficácia do exercício do seu poder (…)

A liderança desenvolvimentista, de características democráticas promotora de esperança e de futuro legada por Coubertin, deu origem a uma liderança oportunista, instrumentalista, de inútil burocracia, de desilusão e sem quaisquer perspetivas de futuro”.

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Publicado em expressodasilhas

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Texto: Leonardo Cunha

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