Suplementos Alimentares: o que nos diz a investigação
Com a industrialização e a crescente mecanização das atividades do dia-a-dia, o trabalho sedentário e as atividades recreativas passivas têm vindo aumentar, privando as pessoas, cada vez mais, da atividade física. Consequentemente verifica‐se um aumento significativo da prevalência de obesidade, e outras doenças crónicas como a diabetes. Em reação a esta tendência, têm sido criadas, em todo o mundo industrializado, estratégias de promoção da atividade física e de prática de desporto. Contudo, não são apenas as razões de saúde e de bem‐estar que motivam os praticantes desportivos, mas também a cultura do corpo e a preocupação estética com a forma e aspeto físicos. Os suplementos nutricionais ao serem anunciados e promovidos como produtos “milagrosos” para, sem grande esforço, otimizar o rendimento desportivo geral, aumentar a massa muscular, emagrecer, etc., transformam os praticantes desportivos, desde os de mais alto nível e até aos praticantes recreativos, num grande mercado potencial. Deste modo esta população torna‐se suscetível à indústria publicitária, que transmite muitas vezes informação incompleta e facciosa, que leva os atletas a utilizarem frequentemente suplementos sem qualquer critério de indicação, podendo correr o risco de desenvolverem défices nutricionais consequentemente, prejuízos na sua performance e saúde.
Deverá, por isso, ser acompanhada a adaptação de cada dieta a cada tipo e situação do praticante e às suas necessidades, assegurando assim que os praticantes com necessidade de recorrer a suplementação o façam de forma adequada, eficaz e segura.
Os suplementos nutricionais podem ser potencialmente muito prejudiciais em situações de interação medicamentosa, podem apresentar toxicidades, contaminações e a resposta aos diferentes suplementos está sujeita a uma variabilidade individual, entre outros perigos.
Ação ergogénica
Uma ação ergogénica define-se como: formação técnica, dispositivo mecânico, prática nutricional, método farmacológico, técnica psicológica que pode melhorar a performance desportiva e/ou reforçar a adaptação às diferentes formas de treino do indivíduo, nomeadamente a sua preparação, sua eficiência e recuperação.
Alguns especialistas em nutrição desportiva só consideram um suplemento como ergogénico quando estudos demonstram que este melhora significativamente o desempenho (por exemplo, ajuda a correr mais rápido, a levantar mais peso e/ou a realizar mais trabalho durante uma determinada tarefa do exercício. Muitos atletas usam alguns produtos ditos ergogénicos porque são bombardeados com publicidade e testemunhos de outros atletas e treinadores sobre os seus efeitos no desempenho. Tal como no passado e provavelmente no futuro, a ação de muitos destes produtos não é comprovada por estudos científicos.
Classificação dos suplementos
Os Suplementos podem ser geralmente classificados como Suplementos de conveniência (ex. barras energéticas, pós substitutos de refeição (PSR) ou “meals replacement powders” (MPRs), Suplementos prontos a beber (SPB) ou “ready to drink supplements” (RTDs) e géis energéticos) idealizados para suprir necessidades e gerir aportes energéticos; Suplemento para ganho de massa muscular; Suplemento para perda de peso e potenciadores da performance física.
Cada um dos grupos supracitados é por sua vez enquadrado nas seguintes categorias:
– Categoria I: “Suplementos aparentemente eficazes”- A maioria dos estudos comprova sua eficácia e efetividade.
– Categoria II: “Suplementos possivelmente eficazes”- Estudos iniciais apoiam sua fundamentação teórica, mas é necessária mais investigação, para determinar como poderão afetar o treino e/ou a performance.
– Categoria III: “Suplementos com dados experimentais insuficientes” – A teoria pode fazer sentido, mas há falta de investigação para apoiar o seu uso no momento.
– Categoria IV: “Suplementos aparentemente ineficazes e/ou possivelmente perigosos” – A fundamentação teórica faz pouco sentido científico e/ou a pesquisa mostrou claramente serem ineficazes.
| Categoria | Aumento da massa muscular | Perda depeso | Potênciadores deperformance |
| Sup. aparentemente eficazes | -Pós ganho de peso Creatina-Proteína-AAE | -Suplementos Hipocalóricos PSR, BPB, Cafeina-Termogénico | -Água e bebidas desportivasde Hidratos de Carbono |
| Sup. possivelmente eficazes | -HMB (indivíduos não treinados)-BCAA | -Dieta rica em fibras Cálcio-Extrato de Chá Verde-CLA | -Creatina Fosfato de Sódio-Bicarbonato de Sódio-Cafeina
|
| Sup. Com dados experimentais insuficientes | -α-cetoglutarato-α-cetoisocaproato-Ecdysterones
Precursores GH -Ornitina α-cetoglutarato -Zinco, aspartato de magnésio |
-Gymnema sylvestreFosfatidilcolina-Betaina-Coleus Forscolina-DHEA | -TCM |
| Sup. Aparentemente ineficazes e/ou possivelmente perigosos | -Glutamina, IsoflavonasSmilax,Sulfo-polissacarideosBoro, Crómio, CLA-Pro-Hormonas
-Tribulus Terrestris -Sulfato de Vanádio |
-Piruvato de cálcio Chitosan-Crómio (não-diabeticos)-HCA, L-Carnitina | -Glutamina Ribose-Inosina |
Tabela 1: Sumario dos suplementos por categoria
AAE=Aminoácidos Essenciais; PSR=Pós substituto de refeição; BPB=Bebidas pronto a beber; HMB=β-hidroxi β-metilbutirato; BCAA= Aminoácidos cadeia ramificada; CLA=acido linoleico conjugado; TCM=trigliceridos cadeia media; HCA=ácido hidroxicitrico; DHEA=desidroepiandrosterona;
Nas proximas publicações vamos falar em pormenor de cada suplemento tendo em conta esta classificação. Existem ainda outros suplementos que não constam desta seleção que tambem iremos abordar.
Bons treinos, bom descanso e boa nutrição.
Referências bibliográficas
– Kreider RB, Wilborn Cd, Taylor L, et al. ISSN exercise and sport nutrition review: research and recommendations. Int J Soc Sports Nutr. 2010;7:7
– Maughan RJ, Greenhaff PL, Hespel P. Dietary supplements for athletes: emerging trends and recurring themes. J Sports Sci. 2011;29(S1):S57-S66.