FPA MATA ATLETISMO POPULAR
Foto: Gustavo Figueiredo Photography
Este artigo foi elaborado pela nossa equipa de reportagem com excertos da Carta Aberta de Paulo Costa da GlobalSport. Nos últimos meses, muito se falou sobre a polémica medida que a Federação Portuguesa de Atletismo (FPA) pretende implementar, mas o tema rapidamente caiu no esquecimento para muitos. Agora, a FPA avança com um regulamento que muitos consideram um verdadeiro ataque ao atletismo popular e à saúde dos portugueses, transformando a paixão pelo desporto numa fonte de receita.
Leia tambem
PAULO COSTA “INACEITÁVEL ESTA LICENÇA PARA CORRER ”
“A TAXA FALACIOSA” POR CARLOS NEVES
ATLETAS TÊM DE TER LICENÇA PARA CORRER EM 2026
Silêncio cúmplice e golpe de bastidores
Depois de meses de silêncio cúmplice, muitos julgavam que a Federação Portuguesa de Atletismo (FPA) tinha finalmente recuado na sua ideia absurda.
Mas não: no passado dia 19 de agosto de 2025, em reunião de direção, a medida foi aprovada e vai mesmo avançar.
Artigo 12.º: a aberração que mata o desporto popular
O famigerado Artigo 12.º do Regulamento de Filiações de Agentes Desportivos não é apenas uma aberração jurídica.
É um golpe baixo contra atletas, organizadores e contra o próprio desporto popular em Portugal.
É a institucionalização da ideia de que o desporto é um luxo, acessível apenas a quem pode pagar mais.
Taxas que insultam a saúde e a cidadania ativa
Num país onde o sedentarismo cresce a olhos vistos, onde a obesidade infantil é cada vez mais alarmante e onde o Estado devia ser o primeiro a promover estilos de vida ativos, a FPA decide taxar quem corre.
Não para incentivar, não para apoiar – mas para cobrar.
Eis a tabela da vergonha:
- Provas até 10 km → +2€
- Provas até 21,1 km → +2,5€
- Provas até 42,2 km → +3€
- Provas acima de 42,2 km → +4€
Não se trata de trocos.
Trata-se da mensagem que esta medida carrega: “o desporto popular não é prioridade, é uma fonte de receita”.
Trata-se de empurrar organizadores para o sufoco financeiro e de afastar milhares de atletas ocasionais que, perante esta barreira, escolherão ficar em casa.
Resistência esmagada, democracia ignorada
Não faltou resistência.
A APOPA (Associação Portuguesa de Organizadores de Provas de Atletismo) denunciou a medida desde o início, votou contra na Assembleia Geral dos Açores e avançou mesmo com uma ação em tribunal.
Mas de nada serviu.
O tribunal calou-se, e a FPA fez valer a sua vontade – um ato arbitrário, autoritário e profundamente despótico.
Promessas eleitorais vazias: o plano da FPA é taxar todos
Num país a braços com a inflação, com famílias a contar cêntimos para sobreviver, a FPA acrescenta mais um fardo.
E tudo isto depois de discursos eleitorais onde se prometia um “plano financeiro robusto” e “parcerias estratégicas sólidas”. Palavras ocas.
O que ficou foi apenas a solução mais preguiçosa e vergonhosa: taxar o desporto, taxar a saúde, taxar a cidadania ativa.
O grito de Paulo Costa: vergonha em letras maiúsculas
Vale aqui ecoar a coragem e a frontalidade de Paulo Costa, organizador que se ergueu contra esta aberração, na sua Carta Aberta:
“Mas para lhe dizer, com toda a frontalidade e nobreza de que sou capaz: TENHA VERGONHA”
E vergonha é mesmo a palavra certa.
- Vergonha por parte de quem governa o atletismo como se fosse uma coutada privada.
- Vergonha por quem transforma a paixão de milhares num negócio mesquinho.
- Vergonha por quem mata o atletismo popular à mesa das reuniões.
O legado sombrio de Domingos Castro e da FPA
E a ironia não podia ser mais cruel: obrigado, Domingos Castro.
Obrigado pela candidatura, obrigado pelo recurso em tribunal, obrigado por abrir caminho para este desfecho.
O vosso legado ficará gravado -o dia em que o atletismo deixou de ser de todos para passar a ser taxado.
Inimigos internos do atletismo português
O atletismo português não precisava de inimigos externos.
A destruição vem de dentro.
E é assinada pela própria Federação que, em vez de promover o desporto, decidiu enterrá-lo sob taxas e regulamentos.







