Corrida: Quanto Treinar?

Corrida e o dilema acerca da quantidade de treino

O dilema acerca da quantidade de treino é um assunto que leva inúmeros atletas amadores a divagar sobre as suas sessões de treino. É comum verificar entre atletas que se auto-treinam, a duvida acerca do treino ideal para o tipo de provas que realizam.

Em provas de atletismo de distancias mais longas como a Maratona ou em provas de igual ou superior quilometragem (como o ultra-trail), encontramos facilmente atletas a completar a prova com imensas dificuldades e já numa deplorável condição física.

Corrida

As longas distâncias e o vício da corrida

Hoje em dia, o atleta amador procura cada vez mais completar desafios mais ousados em termos de distância, independentemente do tipo de treino que realiza, e sem se preocupar concretamente, em estar verdadeiramente preparado para tão grande desafio e se está a realizar um treino profícuo para esse fim.

Vivemos e cultivamos uma sociedade de modas, em que colocar uma fotografia numa rede social com o dorsal e o prémio de finisher numa determinada prova é mais importante, que propriamente a nossa condição física e a forma como concluímos esse desafio. O que é realmente importante é o resultado final, e não tanto os meios para atingir esse fim.

[box type=”custom” bg=”#ffffff” fontsize=”16″ radius=”5″ border=”#5e5e5e”]Esquecemo-nos facilmente que estamos a colocar à prova também a nossa saúde, com consequências mais que prováveis para o nosso bem estar, agora ou no futuro…[/box]

Sendo a corrida um vício que se está a alastrar um pouco por todo o lado, convém que por vezes sejamos mais sensatos na forma como abordamos cada desafio: e não pretendo restringir apenas aos nossos desafios pessoais, mas também aos de quem nos é mais próximo e que podemos encorajar ou desaconselhar quando o objectivo é demasiado exagerado tendo em consideração o contexto físico do atleta.

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Quantidade de treino

Muitas vezes os atletas contrastam e comparam experiências de treino, com o intuito também de se motivarem e mostrar o percurso físico que estão a percorrer, sem contudo terem uma noção correta se aquele é o caminho mais assertivo em prol dos objectivos a que se propõe. Somar quilómetros não é por si só o suficiente para a evolução física.

[box type=”custom” bg=”#ffffff” fontsize=”16″ radius=”5″ border=”#5e5e5e”]Assim como não existe uma formula da qual resulte o treino ideal para um individuo, também todos os indivíduos são diferentes e não reagem de forma necessariamente igual ao mesmo estimulo de treino. Na forma ideal, o treino deve ser personalizado e contextualizado ao perfil e necessidades de cada um.[/box]

Apesar destas constatações serem marcadamente conhecidas, é fácil verificar que atletas que treinam num mesmo grupo e com as mesmas rotinas semanais, não evoluem e continuam marcadamente a manter os mesmos handicaps de força, resistência, velocidade, etc, em relação a outros colegas de treino. Isto acontece, porque o treino que o grupo realiza é executado a uma intensidade que é mais aconselhada para um determinado perfil de atleta, e completamente desajustado para outros. Logicamente que essa rotina de treinos não será tão benéfica para o atleta A como para o atleta B.

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Outro modo de refletir acerca da quantidade de treino, é analisar de uma forma muito simples e rápida a frequência de treinos, intensidade e quilómetros, realizados por diferentes atletas que concluem por exemplo a Maratona com a mesma marca. Apesar de conseguirem alcançar o mesmo resultado final, podemos encontrar facilmente uma disparidade enorme em torno do percurso de treinos realizados. Para o exemplo da marca das 3h15’ à Maratona, encontramos atletas que fazem cerca de 6 a 7 treinos por semana (com apenas 1 descanso semanal) ao longo dos 4 meses que antecedem a prova, e outros que, na melhor das hipóteses realizaram 4 sessões de treino por semana no mesmo período. Por outro prisma, e ao verificar as horas de treino, podemos observar diferenças ainda maiores! Como se não bastasse, se refletirmos por fim acerca dos ritmos médios de treinos dos diferentes sujeitos, e mantendo a focus no mesmo resultado à maratona, voltamos a encontrar “paces” também bastante díspares.

Podendo esta abordagem ser um pouco confusa, ela é real, e pretende essencialmente alertar para:

Diferentes estímulos podem resultar num mesmo resultado final.

O tipo de treino que um determinado atleta realiza, apesar de válido, pode não ser suficientemente desafiante em relação às reais potencialidades do mesmo.

Um plano de treino genérico, mais do que uma ajuda ou guia, pode ser um grande entrave à evolução – na maior parte dos casos, é preferível treinar pelas sensações e pelo prazer da corrida.

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Durante a abordagem, o treino social foi um pouco descontextualizado no panorama de evolução física, mas ressalvo que só se verifica quando a mesma rotina de treinos semanal se aplica repetidamente sobre os mesmos sujeitos. Contudo, o treino social deve existir e é importante, pois favorece a partilha, o companheirismo, entre outros valores importantes para o nosso crescimento pessoal. Um treino social semanal, é normalmente um excelente momento para um treino de recuperação/regeneração.

Conta, peso e medida devem ser tidos em consideração nestes treinos, mas apenas no panorama de ambição de evolução desportiva, mesmo que amadora.

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Conclusão

Neste sentido, a reflecção que se propõe é verificar se estamos a dar os corretos estímulos ao nosso corpo tendo em vista determinado objectivo. Por vezes, dedicamo-nos com a frequência ideal ao ato de treinar, mas sem ter uma noção correta do que estamos a fazer e do percurso que necessitamos realmente percorrer.
Para cada objectivo, uma diferente abordagem de treino deve ser tida em conta. E quando falamos de distâncias grandes, tão importante como a tomada de decisão acerca da participação numa prova, está o planeamento do trabalho físico a empreender por forma a concluir a mesma com qualidade e procurando preservar o nosso corpo da exposição à exigência desse desafio.

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Texto de: Tiago Aragão

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